O impedimento de viagens internacionais e o fechamento das fronteiras durante a pandemia estimularam a procura dos brasileiros por produtos estrangeiros em sites especializados via cross border.
Esse termo, que representa a venda e exportação de produtos por meio de uma loja virtual, tem internacionalizado as operações de muitos comércios eletrônicos.
Os números de 2020 sobre o varejo digital no Brasil, publicados no estudo Webshoppers do Ebit/ Nielsen, mostram que o Brasil teve crescimento de 76% nas vendas online feitas do exterior diretamente para consumidores brasileiros, um aumento responsável por mais de R$ 22 bilhões.
Nesse patamar, o e-commerce cross border já representa 21% das compras online feitas por consumidores brasileiros.
De insegura e cheia de desconfiança, para uma prática simplificada, o consumidor não vê as fronteiras nacionais como uma barreira para tal experiência de compra – quase 50% dos compradores online no Brasil já compraram de marketplaces como Amazon, AliExpress, Wish, Shopee e Shein.
Atualmente, os sites internacionais preferidos pelos consumidores brasileiros contam com informações em português, fazendo com que a barreira de um idioma estrangeiro seja superada e conferindo mais confiança às transações.
Outro material recente, divulgado em maio deste ano pela SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), mostra que o cross border cresceu 76% em faturamento no último ano e que sua importância dentro do e-commerce foi de 17% em 2019 para 21% em 2020.
A melhora no nível de serviço com fretes mais baixos, a redução nos prazos de entrega, boas avaliações, o aumento de publicidade e a recorrência vêm permitindo a operadores internacionais aumento de penetração no mercado brasileiro, de acordo com Eduardo Terra, consultor de varejo e diretor-presidente da SBVC. A popularização dos smartphones, da banda larga e do acesso 5G assume um papel de protagonismo neste comportamento.
“Essas lojas têm implementado uma série de soluções logísticas que mudaram o prazo das entregas, que antes levavam até 40 dias, e agora acontecem em 15 dias. Isso deve fazer esse fenômeno crescer ainda mais em 2021 com as fronteiras ainda fechadas”, diz o consultor.
Terra cita também a lei que facilita o comércio online estrangeiro no Brasil, chamada de “De Minimis”, que por regra determina que bens que integrem remessa postal internacional no valor de até US$ 50 ou o equivalente em outra moeda serão retirados com isenção do Imposto de Importação, desde que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas.
Outro destaque dessa modalidade é que o cross border não impõe às empresas nenhum tipo de tradução, seja em rótulos ou embalagens, conformidade ao código de defesa do consumidor, e certificação de produtos. Portanto, em um movimento contrário, empresas e marcas brasileiras também podem intensificar iniciativas de venda ao exterior usando cross border para penetrarem novos mercados.
A pesquisa da SBVC destaca ainda que as lojas de outros países das quais os entrevistados já compraram algum produto são AliExpress (54%), Shopee (54%) e Amazon (50%). E as preferências dos entrevistados são pela Shopee (29%), que aparece na frente de Amazon (25%) e AliExpress (18%).
Além disso, 65% dos entrevistados para a pesquisa afirmaram que estão comprando mais em sites e aplicativos de outros países na comparação com 12 meses atrás. O principal motivo é a economia de dinheiro (52%).
COMO ESSE MOVIMENTO COMEÇOU
A procura e preferência dos consumidores brasileiros pelos produtos chineses observada nos últimos anos foi o que impulsionou as operações online de players do exterior no Brasil.
Junto com o eBay, o AliExpress foi pioneiro ao lançar o formato no mercado brasileiro. Com o aumento no volume de vendas, a companhia traçou novos planos logísticos para diminuir o tempo de entrega de produtos, de 90 dias para, em média, 30 dias.
Além da redução no prazo de entrega, a empresa tem oferecido atendimento em português e os principais meios de pagamento aceitos no país, como o boleto.
De olho nesse potencial, empresas brasileiras começaram a se movimentar. Magazine Luiza, Via Varejo e B2W passaram a investir fortemente em meios de pagamento, aplicativos e logística para as vendas próprias e de marketplaces de produtos vindos principalmente da China, para manter sua relevância no país.
O maior desafio das empresas em relação às ofertas chinesas é justamente oferecer um preço competitivo, sendo que 79% dos consumidores que efetuam compras em sites asiáticos levam em consideração o valor dos produtos como fator decisório, seguido pela qualidade do produto e a falta de alternativas no mercado brasileiro, de acordo com a SBVC.
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