O empresário Carlos Jereissati, presidente da Iguatemi Empresa de Shoppings Centers, dono do primeiro shopping construído na América Latina, o Iguatemi, e referência no varejo de luxo no país, avalia que o pior da crise econômica já passou, embora o primeiro semestre deste ano ainda deva ser difícil. Jereissati defende reformas que melhorem o ambiente de negócios no país, como a da lei trabalhista, que, para ele, “engessa” a geração de empregos. E diz que o mercado de luxo tem muito a crescer no Brasil quando a recessão acabar.
Qual é a sua avaliação da crise?
O pior da crise já passou. A inflação e os juros já estão caindo. Também já estão começando a ser estruturados diversos processos de concessões, que atraem dinheiro para a economia brasileira e geram empregos. A gente também vê várias redes pensando em desengavetar projetos e voltar a investir. Em breve, vamos começar a ter sinalizações da queda do desemprego. Isso começa a animar o consumidor, que fica mais confiante, e o varejo tende a reagir. Ainda vamos ter um primeiro semestre mais difícil, mas o segundo semestre será mais promissor.
Mas o governo conseguirá aprovar as reformas?
Sim. A sociedade civil está bastante vigilante. Existe uma demanda muito grande das pessoas por modificações. As pessoas querem soluções, não justificativas. Quem não entregar, está fora. Isso vale para a política e para as empresas.
O que pode ser feito para melhorar o ambiente de negócios no país?
É preciso tirar a burocracia, que impede o crescimento das pessoas, dos negócios. Muitos brasileiros estão focados em empreender e precisam de regras mais flexíveis. Sentem na pele a dificuldade de abrir um negócio e a quantidade de burocracia e regras inúteis. O Brasil evoluiu, e estamos num momento que exige uma nova revolução na área de negócios. Essa será a chave no novo ciclo. Quem não falar essa linguagem, na política ou nas empresas, estará fora do jogo.
E entre as reformas, quais as mais urgentes?
A trabalhista seria bem-vinda. Hoje, a legislação fala para um trabalhador de 50, 60 anos atrás, que não reflete o trabalhador de hoje. Nos EUA, quando há uma safra ótima de filmes, os cinemas contratam mais pessoas para aquele mês, na base de horista. No Brasil, existe um engessamento, e você não consegue ter essa flexibilidade. A pessoa quer trabalhar como freelancer, prestar serviços e não mais ser funcionária de uma empresa. No passado, isso era impossível de ser fiscalizado, hoje é possível. Isso vale para o varejo. Há disposição de contratar em modelos novos, que possam ser negociados com sindicatos e com seus trabalhadores. Não dá para criar uma regra igual para todo mundo. Esse é o grande problema do Brasil: querer legislar sobre tudo e engessar tudo.
Qual é o cenário para o mercado de luxo, que também sofreu com a crise?
O varejo de luxo no Brasil tem muito para crescer. Basta ver o que é vendido lá fora para brasileiros. Acho um desperdício você sobretaxar tanto estes produtos importados e fazer os brasileiros gastarem fora do país, podendo comprar aqui e gerar empregos. O México teve um crescimento expressivo desse segmento nos últimos anos, porque reduziu o imposto de importação e permitiu que o país faturasse, gerasse empregos e criasse novos investimentos imobiliários. É uma cadeia inteira que cresce, independente desses ciclos de alta ou baixa do luxo.
O Iguatemi é sempre associado a luxo. Como é o mix de lojas dos shoppings?
O Iguatemi sempre se caracterizou por essa mistura. É a seleção do que há de melhor em varejo internacional e nacional. A gente faz uma edição de qualidade, que vai desde Havaianas até as bolsas Hermès. Quem vem ao Iguatemi encontra Lojas Americanas, C&A, Chanel. As pessoas têm diferentes necessidades na vida. As mesmas pessoas que compram um produto caro também têm a necessidade de comprar uma bala, comprar um chinelo, usar um serviço. Esse mix faz bem para o negócio.
Essa receita tem dado certo num quadro de crise?
O Iguatemi teve lucro de R$ 164 milhões em 2016, queda de 15,2% em relação a 2015. Mas a receita foi maior. Isso mostra a resiliência do portfólio da empresa. Mesmo num cenário no qual vários setores e o varejo caíram, o Iguatemi conseguiu manter crescimento da receita. No lucro, todo mundo foi afetado, e isso tem a ver com a alta dos juros para todas as empresas que tomaram empréstimos para fazer investimento. A despesa financeira é maior por causa do peso do juro. Fizemos o que toda companhia saudável faz: reduzimos despesas. O Iguatemi está saudável e pronto para um novo ciclo de crescimento do país. Para 2017, o grupo projeta investimentos entre R$ 80 milhões e R$ 130 milhões.
Algumas marcas estrangeiras deixaram o país…
Mesmo com a crise, temos aberturas de lojas importantes este ano. Recentemente, abrimos Valentino, vamos abrir Fendi, em abril, e Hermès. Temos a ampliação da loja da Chanel, que terá dois andares até o fim do ano. Houve um esforço das marcas em equalizar preços. No Brasil, há uma década, o preço da mercadoria interna era quase duas vezes o preço do exterior. Hoje, não é mais. Como as marcas vieram direto, elas trabalham com 20%, 30%, 40%, no máximo, acima do preço do exterior. Isso aproximou muito o consumidor, e, com o parcelamento, muitos brasileiros se deram conta de que vale a pena realizar esse consumo no Brasil.