Vacinação é o principal fator positivo que impulsiona varejistas e indústrias na retomada dos negócios
Por Adriana Mattos e Daniela Braun
O clima tenso na política e a previsão de um PIB menor em 2022 preocupam, mas certos segmentos ligados ao consumo mantêm planos de investimentos, capturando oportunidades de expansão após o auge da pandemia.
A necessidade de retomar projetos paralisados em 2020, o barateamento de ativos imobiliários, como lojas, a aceleração de fusões e aquisições, e o fato de o Brasil estar barato em dólar sustentam os planos. “A pandemia está controlada no país, a vacinação está em ritmo de cruzeiro, e esse é o fator positivo principal, que está trazendo as atividades de volta e mantendo os investimentos. As companhias de varejo e consumo não estão se apavorando. Elas se assustaram com a pandemia, mas isso passou”, disse Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail e membro de comitês em empresas.
“Há obviamente preocupações, a situação andou mais tensa semanas atrás, mas investimentos estruturantes, de longo prazo e de aceleração digital não pararam”.
A Amazon informou nesta semana a abertura de mais dois centros de distribuição no país e a Americanas comprou a Skoob, rede social focada em livros. A Leroy Merlin informou em julho que vai retomar o ritmo de aberturas de lojas aos níveis pré-crise.
O presidente da associação de fabricantes de eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge Júnior, diz que não há retração de investimentos. Empresas como Whirlpool, Mondial e Philco Britânia seguem com os investimentos em expansão fabril já anunciados. “É um segmento que só investe quando há demanda”. A capacidade produtiva ociosa do setor é de apenas 1% atualmente.
Whirlpool, dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, investirá R$ 240 milhões na ampliação e modernização das fábricas de geladeiras e fogões em Rio Claro (SP) e Joinville (SC). A Britânia dedicou R$ 200 milhões à construção de sua fábrica em Linhares (ES), com a expectativa de iniciar a operação no fim de 2022. Segundo Jorge Jr, a Mondial está investindo em torno de R$ 80 milhões para nacionalizar parte da produção, incluindo TVs e aparelhos de ar-condicionado em Manaus (AM).
No caso da Whirlpool, foi uma alocação majoritária do investimento na ampliação e modernização das fábricas de Rio Claro (SP) e Joinville. Já na Mondial, inclui aquisição da antiga fábrica de TVs da Sony, em Manaus (AM).
O ambiente de incerteza na retomada, pressionado pelo risco fiscal, é aspecto considerado nos orçamentos, mas as empresas dizem que fazem planejamentos de longo prazo.
Segundo o presidente da Movida, Renato Franklin, a escalada da inflação preocupa, pois pode ter efeitos nocivos sobre o poder aquisitivo dos brasileiros. “Mas para o setor de locação, que tem uma demanda ainda em construção e em constante crescimento, este cenário não deve ter impacto significativo. Principalmente para a Movida, que hoje tem um caixa de mais de R$ 3,4 bilhões, recorde de liquidez com cobertura suficiente para os próximos quatro anos de amortizações de dívida.”
Essa visão é compartilhada por outros empresários. Segundo Serrentino, companhias têm informado investimentos em tecnologia e logística “ainda altíssimos”, e “eles não são congelados por causa de um PIB menor”. Diz que “a vacância de terrenos e pontos subiu na crise e há muito imóvel vago. Empresas menores e frágeis já sumiram, o que abriu uma janela de oportunidade grande. Obviamente, há uma calibragem na hora de liberar recursos com base em expectativas, mas não vejo empresas capitalizadas e com planos de médio e longo prazo abandonando planos”.
Não dá para comparar esse cenário com os planos de ofertas iniciais de ações (IPO) – parte deles vem sendo adiada. “É uma operação que depende muito do humor do mercado, é de outra natureza, muito mais contaminada pelo ambiente macro. Não é a mesma lógica de empresas já estabelecidas”, Serrentino.
O consultor lembra que há empresas brasileiras bem posicionadas valendo pouco em dólar, e isso atrai estrangeiros. “O Brasil está muito barato. Não vejo desaquecimento em apetite para entrada de recursos internacionais em aquisições estratégicas”.
Fonte: Valor Econômico