Por Elizabeth Segran | Federica Marchionni já liderou várias empresas, de Ferrari e Dolce & Gabbana, em sua terra natal, até a varejista norte-americana Land’s End, onde atuou como CEO. Mas, no meio da pandemia, ela viu a oportunidade de liderar a Global Fashion Agenda, uma organização dinamarquesa comprometida em ajudar a indústria da moda a se tornar mais sustentável.
“Eu realmente queria este cargo. Era pandemia, estava presa na Itália e não podia me mudar para a Dinamarca, onde fica a sede da GFA. Mas, no final, tudo acabou dando certo.”
Nos últimos três anos, Marchionni redefiniu a missão da organização, que era tornar a sustentabilidade uma prioridade na moda. Hoje, seu objetivo é transformar a indústria em uma força para o bem no mundo.
A GFA está levando energia renovável para centros de produção em Bangladesh, garantindo que os trabalhadores da moda no Camboja e no Vietnã tenham acesso a condições de trabalho seguras e salários justos em fábricas de roupas e está apoiando startups que desenvolvem tecnologia de reciclagem de tecidos.
Diante dos desafios, Marchionni mantém uma visão de longo prazo. Ela acredita que a indústria da moda está em meio a uma grande transformação positiva e que devemos continuar avançando.
Fast Company – Muitos jovens parecem estar preocupados com o futuro do planeta. Mas eles também são os que mais compram produtos de marcas de fast fashion. O que você acha que está acontecendo?
Federica Marchionni – Os jovens foram treinados a comprar a preços muito baixos. E, sim, isso é contraditório e incoerente quando consideramos sua preocupação com a sustentabilidade.
Mas precisamos ter paciência e continuar mostrando a eles como suas escolhas de compra afetam o meio ambiente. Uma coisa que incentivo as escolas a fazer é levar os alunos para aterros sanitários para que vejam as pilhas de roupas que estão sendo descartadas. E explicar a eles que roupas descartáveis apenas geram resíduos.
Além disso, é incrivelmente importante educar os pais sobre isso, pois eles ensinam aos seus filhos como tomar boas decisões de compra. Mas também acredito que essa geração mais jovem está vendo de perto a realidade das mudanças climáticas.
Eles estão crescendo em meio a incêndios e inundações. E isso é muito assustador. É lamentável, mas acredito que isso será cada vez mais um gatilho para que façam escolhas melhores.
Fast Company – O que será necessário para que a moda não apenas pare de poluir, mas também seja uma força para o bem?
Federica Marchionni – Uma grande prioridade é a inovação. Estamos vendo muitas opções de materiais mais inteligentes disponíveis. As empresas estão repensando todo o processo de criação de tecidos, desde as matérias-primas até os produtos químicos, e como esses materiais podem se encaixar em um sistema circular com reciclagem.
Em alguns casos, a transformação levará tempo, mas precisamos começar a fazer essas mudanças hoje. Lançamos uma iniciativa para construir um parque eólico em Bangladesh, que atualmente depende de combustíveis fósseis. Teremos que esperar até 2026 ou 2028 para que entre em funcionamento, mas o processo já está em andamento.
Os consumidores também desempenham um papel fundamental. Se mudarem seus hábitos de compra para um tipo de consumo mais responsável, as empresas perceberão. Elas são muito sensíveis às mudanças no comportamento do consumidor e farão o necessário para não perder clientes.
Fast Company – Quão grande é o problema da superprodução na indústria?
Federica Marchionni – É imenso. No sistema de varejo norte-americano, há uma pressão constante para realizar promoções para atingir as metas financeiras. Mas isso apenas perpetua o ciclo de superprodução e superconsumo.
O foco deveria ser em criar produtos duráveis que as pessoas possam usar por mais tempo. Isso também significa criar estilos mais clássicos que não saiam de moda.
O problema é que muitas empresas são incentivadas a buscar crescimento de curto prazo em vez de uma visão de longo prazo. É preciso marcas como a Patagônia para mostrar que é possível ter uma visão de longo prazo que priorize o planeta e, ainda assim, ser muito bem-sucedido.
Fast Company – Você acredita que as grandes empresas têm capacidade para mudar?
Federica Marchionni – Não posso afirmar com precisão qual é a extensão de sua capacidade hoje, mas acredito que os consumidores podem e irão forçá-las a mudar.
As empresas são muito hábeis em responder às demandas do mercado. Basta considerar o comércio eletrônico. Muitas marcas faliram porque não se adaptaram com rapidez suficiente à revolução da internet. O mesmo acontecerá com a sustentabilidade.
Mas também acredito que haverá muita colaboração entre os pequenos inovadores e as grandes marcas. Essas pequenas empresas estão desenvolvendo tecnologia e inspirando os grandes players a mudar a forma como trabalham. Em alguns casos, eles estão adquirindo sua tecnologia. Portanto, como indústria, continuaremos avançando.
Fonte: Fast Company