Quem não se lembra dos icônicos cigarrinhos de chocolate da Pan, embalados um a um em caixinha vermelha que tinha como garotos propaganda uma criança negra e outra branca que pareciam estar fumando? O slogan, igualmente peculiar, dizia: “O que não mata engorda. Cigarrinhos de chocolate. Para você não se queimar”. Polêmico, esse produto fez parte da infância de famílias inteiras desde os anos 1940, mas em 1996 teve de sair de circulação para não induzir (mais?) crianças ao tabagismo. A partir de então, o chocolate ganhou nova roupagem e seguiu sendo comercializado, mas como uma caixinha de lápis de cor, sob o nome de Chocolápis.
A tradicional indústria de chocolates de São Caetano iniciou a produção na Rua Maranhão, em 1935, por Aldo Aliberti e seu cunhado Oswaldo Falchero – que, como símbolo da marca, instalaram réplica de foguete no alto da fábrica, em alusão às primeiras experiências espaciais, como estratégia de marketing para divulgar sua estreia no mercado brasileiro sem o suporte de nenhuma empresa de publicidade.
Embora não divulgue o investimento na transação, o homem à frente do Grupo Benetti (que possui empresas de comunicação, como a RBTV – Rede Brasil de Televisão, empreendimentos imobiliários, gestão de negócios e participação em grandes empresas nacionais), Marcos Tolentino, revela que quer implementar 300 lojas franqueadas da Pan entre 2017 e 2018. “Inovaremos no setor, não venderemos franquias, nossos parceiros de negócios investirão apenas na montagem de suas lojas, que seguirão o padrão da nossa de fábrica, propiciando possibilidade de investirem mais em estoque e, assim, começarem seu próprio negócio já capitalizados”, explica, sem abrir valores do modelo.
Hoje, a Pan conta apenas com sua loja de fábrica em São Caetano e com o site Empórios Pan, que realiza a venda on-line dos produtos – inicialmente, em 2007, a filial era um estabelecimento físico no bairro do Tatuapé, em São Paulo. Mas, há três anos, passou a ser apenas virtual.
Tolentino conta que o objetivo é profissionalizar a gestão da empresa e atualizá-la. Já foram aportados R$ 10 milhões e, em breve, serão injetados mais R$ 50 milhões. “Temos projetos de investimentos para ampliação e modernização de alguns setores, como aquisição de equipamentos, ações de marketing e redesign de embalagens. Nós também multiplicaremos o número de distribuidores, ou seja, estamos dispostos a fazer o possível para continuarmos competitivos no mercado com qualidade em todas as nossas linhas de produtos. Pretendemos aumentar sua atuação e reposicioná-la sem perda de identidade.”
Questionado se, com a expansão, a empresa corre o risco de deixar o atual endereço, situada em terreno de 13 mil metros quadrados, o executivo afirma que, a partir do ano que vem isso é possível, mas argumenta que a nova indústria deverá ser na cidade. “No mesmo terreno onde ainda temos espaço livre ou, em caso de inviabilidade técnica, por situar-se no Centro, buscaremos nova localização, preferencialmente em São Caetano.”
Uma das especialidades do Grupo Benetti é adquirir negócios em crise. Quando perguntado sobre a atual situação financeira da Pan, Tolentino diz que se trata de caso especial. “Não diria que estava em crise, mas que passou por algumas fases difíceis e sempre se destacou pela sua capacidade de superação. Tanto que já está em sua terceira geração”, justifica. “O interesse do nosso grupo foi reconhecer seu valor num mercado onde hoje destacam-se apenas três grandes indústrias genuinamente brasileiras, a Cacau Show, a CRM (Cacau Brasil e Kopenhagen) e a Chocolate Pan.”
Segundo ele, o intuito é, inclusive, manter elementos de empresa familiar, por isso, a nova gestão vai preservar executivos que já atuam na fábrica, dentre eles a neta de um dos fundadores, Maria Fernanda Daidone Madrucci, que há muitos anos atua na diretoria e possui vasto conhecimento sobre o métier, desde a época em que acompanhava seu avô.
Também foram admitidos quatro profissionais renomados em gestão corporativa e no setor alimentício.
O executivo assegura que haverá contratações para ampliar o quadro de 220 colaboradores, após a transição da gestão. Ele diz que as oportunidades serão informadas, futuramente, por meio do site da Pan e pelas redes sociais.
Produtos clássicos seguem no portfólio
Em relação ao portfólio de guloseimas, Marcos Tolentino conta que os itens clássicos e carros-chefe da marca permanecerão sendo fabricados e distribuídos para todo o País.
“A Pan foi a primeira empresa do ramo a lançar a pipoca com cobertura de chocolate. Mantemos até hoje a moeda de puro chocolate ao leite e os tradicionais pães de mel na mesma fórmula, desde 1935. Assim como as clássicas bolinhas de chocolate com licor ou uvas passas presentes na maioria das padarias e cinemas. Fomos pioneiros nos chocolates dietéticos e somos líderes no granulado devido à sua alta qualidade”, elenca.
Utilizando a memória afetiva do consumidor a seu favor, Tolentino declara que pretende retomar algumas linhas de sucesso com reconhecimento nacional, como os controversos cigarrinhos de chocolate. “Claro, não pretendemos relançá-los, contudo, estamos em estudos para essa embalagem retornar à nossa linha de produtos. Abriremos em breve, nas redes sociais, espaço para ideias do que os consumidores gostariam de encontrar na antiga caixinha vermelha. Por exemplo, o tipo e o formato do chocolate”, antecipa. “Nossa intenção não é só relembrar nossos consumidores saudosos, mas despertar os mais novos para fazerem parte também dessa história de sucesso.”