Jornada da filial brasileira do grupo supermercadista foi contada pelo CIO, Paulo Farroco. Índice de adoção de cloud já é maior que o da matriz francesa
Por Marcelo Gimenes Vieira
O grupo varejista de origem francesa Carrefour tinha uma meta entre 2018 e 2020: sair de 5% de sistemas rodando na nuvem globalmente e chegar até 25%. Era “um grande salto”, que exigia não só uma estratégia de migração clara, mas também arrojada, mantendo a operação sem sobressaltos.
A filial brasileira da empresa foi tão bem-sucedida na estratégia que se tornou a com maior quantidade de sistemas em nuvem no período, chegando a 49,5% de sistemas na nuvem, ultrapassando inclusive a matriz francesa e “puxando” a meta para cima. Esses números foram apresentados por Paulo Farroco, CIO do Carrefour Brasil, durante uma transmissão ao vivo promovida pela Digibee na primeira quinzena de agosto.
O tema era, justamente, transformação de nuvem. Mas permitir que essa mudança ocorra em período tão curto de tempo obriga a “deixar claro os motivadores de negócio da jornada”, disse Farroco, que lidera a TI da operação varejista do grupo há pouco mais de dois anos. “O varejo sempre foi muito desafiador. É uma indústria das mais complexas e que tem um campo de automação e digitalização muito fértil pela frente.”
O Carrefour tem operação no Brasil há 45 anos. Por não ser uma nativa digital, tem “uma série de legados, o que torna a jornada cloud mais apimentada”, disse o CIO. A estruturação da migração para a nuvem começou justamente pelo esboço de uma estratégia.
A empresa se tornou parceira global do Google em 2019, o que tornou público a escolha majoritária pela plataforma a ser usada.
“A segunda coisa foi ter critérios claros de modelo de serviço. Usamos muito BigQuery. Mantivemos todo nosso data lake com um pé na nuvem já fazendo a jornada para sermos mais arrojados. Ter claros os modelos é superimportante”, disse.
O terceiro passo foi a formação de um time capaz de promover a jornada, incluindo a contratação de terceiros. E por último deixar claro e firmar um pacto com a alta gestão sobre o que a mudança significa e que impactos trará ao negócio.
Além disso, segundo Farroco, o movimento da filial brasileira vai ao encontro de uma diretriz estratégica entre as operações locais do grupo Carrefour: criar “certa independência” entre os países. Desde o começo de 2021 sistemas geridos na França foram deslocados para o Brasil.
“Ainda temos sim sistemas geridos pela França e executados aqui. E realmente é um dilema porque depende de cada situação”, disse o CIO. “Nosso time do Brasil desenhou um processo de arquitetura digital muito legal, que a França adotou em grande parte. E a gente tem feito dessa forma.”
A matriz francesa do Carrefour inclusive está desativando um data center global como forma de pressionar a migração para a nuvem das 30 filiais espalhadas pelo mundo, lembrou Farroco.
Desenrolar do plano
Segundo Farroco, na formação da estratégia foi feito um mapeamento detalhado dos workloads da empresa, divididos então em quadrantes. Eles estavam divididos entre os que que poderiam ser rapidamente migrados; os possíveis de migrar, mas com dificuldades; aqueles que exigiam muito esforço; e quarto e último aqueles que deveriam ser descomissionados.
“A Digibee foi uma escolha porque, para quem tem tanto legado, às vezes os sistemas estão amarrados. E temos que recortar tudo isso e prover um ambiente adequado para migrar tudo para a nuvem. E a Dibee tem ajudado nas costuras todas”, explicou o executivo de tecnologia.
A empresa é provedora de uma plataforma de integração de sistemas, a Digibee HIP. O objetivo é simplificar, reduzir custos e agilizar a jornada de transformação digital dos clientes por meio da conexão de sistemas digitais.
Após esse mapeamento, os projetos de migração foram postos em andamento. Com metade dos sistemas migrados, a empresa supermercadista está “surfando em benefícios de agilidade”, segundo o CIO. “Temos claramente os pontos de escalabilidade. A própria Black Friday é o exemplo típico disso para o varejo. Lidar com altos e baixos ficou muito mais simples em nuvem”, disse.
Outra vantagem foi o time to market, a partir da possibilidade de criar recursos em nuvem os lançamentos se tornam mais rápidos. Houve ainda ganhos de inovação e economia de recursos e energia.
“Ainda estamos em processo acelerado. Queremos manter o pique para prover um ambiente mais estável e sustentável, até porque temos novidades pela proa”, disse Farroco, sem revelar que novidades são essas, mas adiantando que a integração com a rede BIG – compara pelo Carrefour em março de 2021 – exigirá esforços. “A nuvem facilita isso”, ressaltou o CIO.
Desafios da migração
Para Vitor Souza, cofundador e Chief Revenue Officer da Digibee, desafios como o do Carrefour Brasil mostram a importância do planejamento na hora de migrar sistemas para a nuvem. Justamente por não se tratar de um trabalho simples.
“O case do Carrefour, até por isso trouxemos o Farroco, é de sucesso. Migrar definitivamente não é fácil. Quem acha que essa migração é fácil ainda não entendeu o problema”, disse Sousa. “O cloud transformation, que é o nome para dar o glamour, mas que estamos falando na prática de fazer um sistema que roda em algum lugar, e pode ser on premises, cloud pública ou privada, rodar em outro.”
Para o executivo, o grande desafio está em manter os dados fluindo entre sistemas ainda funcionando. O que exige a construção de uma arquitetura que garanta esse funcionamento.
“Um case que tivemos no setor financeiro. Um banco tinha um core bancário. É o que tem de mais importante naquele negócio. E ele resolveu trocar o core no meio do projeto”, lembrou o executivo. “Em duas semanas conseguimos. Mas como? Construindo uma arquitetura que permita decisões estratégicas e mudança sem chacoalhar todo o ambiente. Sem destruir um negócio.”
Fonte: IT Fórum