Os bastidores do negócio que uniu dois dos maiores empreendedores do país – e que vai unir ensino de inglês e liderança
“Você não tem saudades do negócio?”, perguntou Flavio Augusto da Silva, fundador da WiseUp, a Carlos Wizard, fundador da Wizard. “Tenho, e muita”, respondeu Wizard. Ambos jantavam juntos em Orlando, na Flórida (EUA), onde cada um tem sua casa, e antes de deixar a mesa fecharam o acordo que anunciaram oficialmente nesta segunda-feira (15/05) ao mercado. Wizard investiu R$ 200 milhões na compra de 35% da WiseUp, marcando, assim, o seu retorno ao mercado de idiomas, de onde saiu em 2013, após vender a escola que leva seu nome por R$ 2 bilhões.
Agora, juntos, dois dos mais famosos empreendedores brasileiros têm planos ambiciosos para a WiseUp: querem adquirir novas marcas, montar um método de ensino de inglês que inclua também aspectos de liderança para que as 280 unidades atuais se transformem em mil até 2020. “Há ainda um grande espaço para crescer neste mercado”, afirma Wizard.
À parte os sonhos dos dois, quem realizou mesmo o negócio foi Charles Martins, filho de Carlos, que estava naquele jantar. Charles é descrito pelo pai como o “mentor” de um negócio que ele vem tentando desde 2008. Naquele ano, quando a WiseUp era “muito menor que a Wizard”, ele conheceu Flavio Augusto e fez sua primeira oferta: R$ 200 milhões pelo negócio. Não vingou. Dois anos depois, mais que dobraria a oferta: R$ 700 milhões. Não vingou. Em 2012, deu sua maior cartada em uma evento de Nova York: R$ 1 bilhão pela empresa.
Flavio Augusto não explica os detalhes do porquê ter negado todas as ofertas, mas fato é que depois conseguiu uma melhor e vendeu sua empresa para a Abril Educação em 2013. Seis meses depois, Wizard seguiria destino semelhante, vendendo por R$ 2 bilhões sua escola para a britânica Pearson. Cada um seguiu seu caminho, comprou outros negócios, Flavio Augusto foi aos Estados Unidos para tocar o time de futebol Orlando City e Wizard para a China a fim de aprender mandarim. Flavio voltaria a comprar a WiseUp em 2015 em um momento que a empresa andava mal das pernas – e de alunos. Wizard e Charles, por outro lado, emendaram uma série de aquisições – Mundo Verde, Rainha, Topper – e de negócios – Ronaldo Academy e Taco Bell.
Agora, graças às mãos – e ideias – de Charles, eles se reencontraram. “Meu filho é um hábil negociador. Ele fez o que não consegui. Foi o grande mentor”, disse Wizard. Para Flavio, o expertise de pai e filho chega em bom momento. “Ele é muito forte na área pedagógica, expansão em franquias. O Charles é hábil em fusões e aquisições”, disse.
Por sua vez, Charles Martins diz que o grande triunfo da empresa agora é contar com a experiência de dois empreendedores que acompanham de perto o negócio, com “a mão de dono”. “Esse mercado inteiro de ensino de idiomas se tornou uma operação, empresa de executivos, associações regionais, como a Cultura Inglesa. Elas não têm a cara de uma pessoa. E o franqueado gosta é de falar com dono e não com o gerente”, diz Charles que ganha uma cadeira no Conselho da empresa ao lado do pai.
Entre os próximos passos do trio empreendedor estão uma nova aquisição – para ser anunciada em até 60 dias – e o lançamento de novos métodos de aulas que incluem cases de liderança e empreendedorismo do Vale do Silício. Algo que Flavio Augusto já faz, de certo modo, com o MeuSucesso.com. “Acreditamos que o inglês é o meio e não o fim”, disse.
Também está acertada a contratação de 15 mil novos professores. Agilidade para colocar tudo isso em prática – a despeito das dezenas de negócios paralelos – eles dizem que têm de sobra. “Fazemos as reuniões do Conselho por whatsapp”, diz Flavio.
O empresário Flavio Augusto da Silva afirma que o investimento de Carlos Wizard é secundário e vem para subsidiar novos projetos e não formar caixa. Em evento do MeuSucesso.com realizado nesta segunda-feira, o empresário afirmou que a WiseUp possui atualmente R$ 48,5 milhões em caixa, resultado da reestruturação iniciada em 2015, quando recomprou a empresa. Na ocasião, a WiseUp necessitava de R$ 8 milhões por mês para custear todas as despesas operacionais e se manter em pé. Precisando desembolsar isto do próprio bolso, Flavio Augusto diz hoje que comprou a empresa por sua história pessoal com o negócio.
Os números não eram nada bons. Em comparação ao momento que vendeu, em 2013, assumiu uma empresa 35% menor em número de escolas – que encolheu de 396 para 250 – e com uma taxa de inadimplência que subira de 2,5% para 40%. O motivo? A gestão anterior deixara de utilizar cheques e implementara o boletos, o que atrasou e inibiu pagamentos, segundo ele afirma hoje. “Falaram que eu era louco de voltar ao negócio, mas é algo que eu entendo, que sei fazer desde 1991. Diferentemente do jogo de futebol, que estou aprendendo todos os dias [sobre o Orlando City, time que comprou nos Estados Unidos]”, disse. A reestruturação que ele promoveu incluiu retomar a confiança dos franqueados, que buscavam ali, em 2015, vender a escola a todo custo. “E nenhum maluco queria comprar”. Para isto, recontratou todo o seu time que havia sido dispensado no momento que vendera a empresa. Depois, levou a matriz da empresa, localizada em São Paulo, de volta a Curitiba, onde boa parte do time reside. “Montamos um grupo no whatsapp cujo nome era: Avengers [Os Vingadores]. Era uma batalha mesmo”, disse.
Com os franqueados, decidiu retomar a opção de venda de material didático com cheques e avançar no uso do cartão de crédito. Atualmente, mais de 50% das vendas são feitas com cartão contra 7% na gestão anterior. “Reuni os franqueados e disse que se fôssemos afundar, faríamos juntos. Mas que eu havia investido R$ 390 milhões e não estava só falando palavras de efeito”, disse. “Eles achavam que eu ia lá com discurso motivacional mas mostrei todos os números ruins. A vida real do empreendedor não é uma Disneylândia”, disse. Segundo Flavio, a confiança foi retomada, a redução de custos foi posta em prática e em dois meses – contabilizados a partir de dezembro de 2015 – a empresa voltava a gerar caixa. Atualmente, ele disse que a avaliação de mercado da empresa é de R$ 591 milhões. Ao lado de Carlos Wizard, ele espera que a companhia alcance R$ 3 bilhões.
Fonte: Época Negócios