Por João Scheller | Um desentendimento entre o fundador e CEO da Polishop, João Appolinário, e seu sócio na empresa, com quem mantinha negócios por mais de duas décadas, contribuiu para a situação de dificuldade financeira que levou a companhia a entrar com um pedido de recuperação judicial, aceito pela Justiça paulista no final de maio.
Em entrevista ao Estadão, Appolinário afirma que Carlos Marcos de Oliveira Neto, que detinha 50% de participação societária na companhia e atuava como COO (sigla em inglês para diretor de operações), se opunha ao processo de reestruturação da empresa, que envolvia cortes na companhia e a criação do modelo de franquias.
A dificuldade de chegar a um acordo com o sócio se somou à pandemia, ao aumento do custo de locação em shopping centers e a dificuldades de criação de novos produtos, causados pela diminuição do ritmo industrial chinês. O conflito só foi encerrado este ano, há cerca de três meses, com a dissolução da participação societária de Oliveira Neto para menos de 3%.
Procurado pela reportagem, Oliveira Neto não retornou as tentativas de contato. Segundo a assessoria de imprensa da Polishop, Appolinário é o único porta-voz da companhia.
“Eu tinha um sócio operador na empresa que deveria tocar a companhia como deveria. Virou uma briga societária que se acabou este ano”, afirma o empresário, no estande da Polishop na feira ABF Expo. “Foi um desencaixe na sociedade, de não querer fazer aquilo que a empresa precisava fazer, que era um corte radical”, diz ele.
A empresa lançou durante o evento seu próprio modelo de franquias, atual aposta da companhia. Segundo o empresário, o modelo seria implantado no início do ano passado, não fosse a situação com o sócio.
“Isso tudo aprofundou um momento de crise, porque o projeto vai muito bem, as margens são muito boas, o negócio é totalmente viável pelo modelo de negócio”, complementa o empresário, mencionando o modelo de franquias, que tem investimento inicial entre R$ 250 mil e R$ 500 mil, a depender do tamanho.
Início do conflito
Segundo o CEO da Polishop, o conflito com o sócio começou por volta de 2019, alguns meses antes da chegada da pandemia, quando ele pontuou que algumas modificações teriam de ser feitas na empresa. “Durante a pandemia, se acalmou a situação (de discussão sobre a estrutura da companhia). A gente precisou fazer a coisa acontecer juntos. E depois voltou a discussão, e ele disse que não queria mais estar na empresa”, afirma Appolinário.
De acordo com ele, foi feita uma tentativa de valuation da companhia, não aceita pelo sócio. “Às vezes você precisa chegar a uma situação ruim para poder aceitar. Foi feito um aumento de capital. Ou ele comparecia com o investimento, ou não. E quem compareceu fui eu, que fiz um aumento de capital. Ele não acompanhou, e (a participação) foi diluída de 50% para menos de 3%”, afirma o empresário, mencionando o apoio que tinha da diretoria da empresa e a condução do processo sem judicialização. “Um tem o que perder. Estou eu aqui, com toda a imagem da empresa em cima de mim”, diz.
Segundo o empresário, havia necessidade de aumentar o número de marcas próprias e fazer uma reorganização da Polishop, considerando mudanças de mercado, inclusive, o aumento das importações de produtos vindos da China. As marcas próprias representaram cerca de 49% do faturamento da companhia em 2023, mas o plano é que cheguem a 90% até 2030.
“Ele sempre foi o cara que operava a empresa no dia a dia, o COO. O responsável fiscal, o responsável legal, o cara que operava a empresa”, diz Appolinário. Segundo ele, o sócio resolveu que não tinha mais interesse no negócio. “O cara resolveu sair fora”, afirma, mencionando a mudança de Oliveira Neto para o exterior. Oliveira Neto, segundo Appolinário, não é sócio dele em nenhum de seus outros negócios.
A recuperação judicial da Polishop, segundo Appolinário, não afeta a expansão da empresa via franquias. Ele menciona que a dívida com bancos, que era de cerca de R$ 270 milhões em janeiro de 2022, é atualmente menos de R$ 60 milhões.
Fonte: Estadão