Para atrair mais varejistas à plataforma on-line e reter os clientes atuais, em junho Locaweb amplia operações para as áreas de logística e crédito
Por Daniela Braun
O avanço na corrida do pequeno e médio varejista para as vendas on-line colaborou para elevar a representatividade da receita de tecnologias de comércio eletrônico da Locaweb para 40,6% da receita líquida da empresa no primeiro trimestre. Um ano antes, a participação era de 21,9%.
O aumento das vendas da empresa de hospedagem de sites, serviços de internet e computação em nuvem no segmento de varejo, entretanto, não tem vindo somente da demanda gerada na pandemia.
“Em um primeiro momento, o varejista entrou no ‘e-commerce’ para não morrer”, afirma Fernando Cirne, CEO da Locaweb. “Hoje ele [o varejista] viu que pode vender mais no e-commerce do que no shopping e que isso pode ser bem rentável.”
Para atrair mais varejistas à plataforma on-line e reter os clientes atuais, em junho a empresa amplia horizontes em duas áreas: logística e crédito.
Em junho, a Locaweb começa a colocar um pé no mundo físico, oferecendo três pontos de coleta nos bairros da Bela Vista, Morumbi e Tatuapé, em São Paulo, para concentrar entregas de varejistas clientes a múltiplos destinos.
“Além de já ter um painel on-line para selecionar diferentes operadores logísticos, com preços menores porque temos escala, agora o varejista ganha escala na entrega”, explica Rafael Chamas, diretor financeiro da empresa.
Se esse é um passo para uma oferta de gestão completa de logística para os clientes (modelo conhecido como “fulfillment”), Cirne diz que “sem dúvida pode ser um viabilizador de ofertas de logística mais robustas”, mas sempre por meio de parceiros. Construção de galpões ou aquisição de frotas não estão nos planos da empresa de tecnologia.
A oferta de crédito aos clientes também começa em junho e é resultante da aquisição da Credisfera, plataforma tecnológica de processamento de crédito, em fevereiro. “A demanda por crédito é expressiva na nossa base de clientes”, diz Cirne.
O executivo explicou que a Locaweb ficará com o bastidor tecnológico de processamento da oferta de crédito e de análise de perfis (score de crédito), enquanto o desembolso de crédito virá de empresas privadas.
Aquisições
Embora já tenha um trio de crédito, pagamentos e softwares de cobranças recorrentes, a Locaweb segue de olho em aquisições no setor financeiro.
“Não é porque fizemos várias aquisições que vamos parar”, disse o CEO a analistas, na sexta-feira, durante teleconferência para apresentar os resultados da empresa no primeiro trimestre do ano.
O caixa líquido ficou em R$ 2,29 bilhões no período encerrado no fim de março. “O caixa deixa bastante espaço para aquisições”, disse Chamas.
Ao completar 15 meses desde abertura de capital (IPO, na sigla em inglês), em fevereiro de 2020, além de dez aquisições na bagagem, a Locaweb também passou a figurar no Ibovespa, no início de maio, na posição 47.
“Ficamos muito felizes”, disse Cirne. “Meu bebê de 15 meses entrou quase na metade do ranking com a média do último ano de liquidez. Se continuarmos com esse volume de transações, com certeza vamos subir de posição.”
Receita cresce 53,9%
No primeiro trimestre, a Locaweb registrou uma receita líquida total de R$ 160,9 milhões, um avanço de 53,9% sobre o resultado obtido nos três primeiros meses do ano passado. O prejuízo líquido no período foi de R$ 8,4 milhões, ante R$ 2,3 milhões um ano antes.
Entre janeiro e março, a receita da empresa na área de comércio eletrônico somou R$ 65,4 milhões, o que presenta uma alta de 186% em relação a igual período do ano passado.
Dessa receita de varejo, 61% vieram de serviços pagos por assinatura, como ferramentas de comércio eletrônico da plataforma Tray e o software de cobrança recorrente da Vindi, por exemplo. Um ano antes, o percentual era de 57% da receita. “Esse avanço reflete o aumento da base de clientes”, explica o CEO.
Os 39% restantes vêm de comissões variáveis sobre o uso de serviços como pagamentos e logística. “É uma receita que tem mais relação com quanto o cliente amplia em transações no ecossistema”, observa Cirne.
A adição de novas lojas na plataforma cresceu 139,2% no período, alcançando uma base total de 394,8 mil clientes até o fim de março, um aumento de 8% na comparação anual.
Mas não é só do varejo que vive a Locaweb. A maior parte da receita da empresa, 59,4% no primeiro trimestre, ainda vem de serviços de hospedagem de sites, computação em nuvem e software como serviço.
Embora o segmento tenha perdido espaço para o comércio eletrônico em participação na receita total, as vendas de computação em nuvem e hospedagem para pequenas e médias empresas cresceram 23,1% no primeiro trimestre, na comparação anual, enquanto para empresas de maior porte avançaram 16,9% no período.
Contando a Credisfera, a Locaweb desembolsou um total de R$ 80,9 milhões, entre janeiro e março, nas aquisições das empresas ConnectPlug, de sistemas para pontos de vendas, Dooca (aplicativos para lojas virtuais) e Samurai (softwares para pequenas e médias empresas).
Embora as quatro aquisições anunciadas pela empresa entre janeiro e março tenham pesado sobre o prejuízo, Cirne destacou o potencial de receita recorrente das dez aquisições feitas pela Locaweb desde a abertura de capital. “Calculamos receita recorrente adquirida de R$ 172 milhões até abril”, diz.
Somente a Bling, sua compra mais recente e de maior valor (R$ 524 milhões) gerou uma receita de R$ 60 milhões no primeiro trimestre. A negociação anunciada em abril está sujeita à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Fonte: Valor Econômico