Birman, presidente do grupo, não ignora a pressão dos custos, embora acredite que a nova escalada dos preços, criada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, deva representar um impacto “momentâneo”
Por Raquel Brandão
Desde o surgimento dos primeiros gargalos na cadeia de suprimentos em 2020, por causa da pandemia, a Arezzo &Co — assim como boa parte de suas concorrentes — buscou soluções para lidar com as pressões na produção. Encontrou, por exemplo, materiais alternativos e aumentou a lista de fornecedores. Também foi preciso aumentar preços. “Modelos fixos não tiveram reajuste. Fizemos [reajustes] nos lançamentos”, afirma o presidente do grupo, Alexandre Birman, em entrevista ao Valor.
Diante desse cenário, uma opção adotada por algumas empresas dos setores de calçados e vestuário foi enfrentar o momento macroeconômico menos favorável criando uma linha de produtos de menor tíquete, ou seja, mais acessíveis. Birman, no entanto, defende que esse não é um caminho para a Arezzo &Co, cujas marcas estão posicionadas em públicos de renda mais elevada, nas classes A e B.
“Buscamos o contrário de fazer produto mais acessível. Queremos fazer nossos produtos cada vez mais desejáveis, com alta qualidade. Vejo como o começo do fim isso de migrar para insumos mais baratos”, rebate.
No radar da companhia, porém, está a possibilidade de fazer aquisições que ajudem a lidar com esse contexto. Até o segundo trimestre, Birman diz que seu objetivo é olhar mais para dentro. Mas, no segundo semestre, a Arezzo &Co deve ir às compras buscando mais marcas e, também, algum tipo de aquisição “mais protecionista” na área de abastecimento.
Ele não ignora a pressão dos custos, embora acredite que a nova escalada dos preços, criada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, deva representar um impacto mais “momentâneo”. Em 2021, o custo dos produtos vendidos já haviam subido 65,7%.
“Com a questão da inflação e escassez de matéria-prima, estamos sendo bastante ativos em sourcing para não ter problema de suprimento, que não tivemos até hoje. Não quero dar justificativa de não resultado por que tive problema de entrega.”
Com um salto de 69% no faturamento bruto (R$ 1,4 bilhão), a Arezzo &Co terminou o quarto trimestre de 2021 com um lucro líquido atribuído a controladores 35,2% superior ao do mesmo intervalo de 2020, somando R$ 104,1 milhões. O resultado positivo reforça o caixa da empresa, que além de olhar para novas marcas considera uma aquisição que reforce seu abastecimento.
O resultado do período veio consolidar um trabalho iniciado mais de um ano antes, argumenta. Em 2020, a companhia intensificou sua operação digital (que respondeu por mais de 830 milhões das vendas totais de 2021), adotou comportamento mais ágil e flexível e comprou a Reserva, dando seus primeiros passos em sua meta de se tornar uma holding de moda. Em 2021, foram mais aquisições em vestuário com BAW e Carol Bassi.
Para 2022, a projeção é de que o vestuário responda por 3% a 4% do faturamento total da companhia, que também lançou a linha de roupas da Schutz.
Resultado de 2021
A empresa terminou 2021 somando R$ 345,2 milhões de lucro líquido, 610,6% melhor do que em 2020, e com receita de R$ 2,92 bilhões, um avanço de 83,8%. Parte expressiva dessa receita líquida anual foi obtida no quarto trimestre de 2021, quando as vendas líquidas da Arezzo &Co chegaram a R$ 1,09 bilhão.
“Foi nosso melhor Natal”, disse Birman, que, agora, aposta em novos recordes de vendas no Dia das Mães. O otimismo é motivado pelo ritmo de vendas dos primeiros meses de 2022, que, segundo o empresário, está ainda mais intenso do que o observado ao fim do ano. “Estamos confiantes de que o primeiro semestre será muito bom.”
Fonte: Valor Econômico