Motos e bicicletas garantem agilidade, porque preço dos fretes e demora em receber os produtos fazem com que o consumidor desista da compra
Por Mônica Magnavita
O crescimento acelerado do e-commerce no Brasil fez surgir um mercado em que o tempo, literalmente, é dinheiro. Não basta vender mais e bem, a corrida consiste em entregar o produto comprado, se possível, em menos de meia hora. Na melhor das hipóteses, no mesmo dia e a custo baixo. Grandes caminhões de carga transitando pelas ruas das cidades viraram coisa do passado. Entregas são feitas por bicicletas, motos e pequenos veículos. O cliente não quer mais esperar dias para receber seu produto, nem pagar fretes elevados, como demonstram dados divulgados pelo Mercado Pago. Segundo o levantamento, o custo do frete lidera os motivos que levam consumidores a desistir da compra on-line na hora do check out. Já o prazo de entrega responde por 16% das desistências.
As entregas rápidas vieram para resolver tais problemas e o mercado só tende a crescer. A produção de motos entre janeiro e agosto de 2021aumentou 33,8% ante igual período de 2020, conforme a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), puxada pelo crescimento do número de entregadores. Mas a mudança só foi possível quando empresas de soluções de logísticas, conhecidas como logtechs, passaram a investir em galpões e centros de distribuição em áreas urbanas, próximas aos bairros e às regiões de consumo mais aquecido. AdChoicesPUBLICIDADE
O objetivo é claro: reduzir o intervalo entre a compra e a entrega das mercadorias, prática conhecida por última milha, e dos hubs partem batalhões de entregadores em duas rodas. A Box Delivery, plataforma criada em 2016 que conecta estabelecimentos comerciais a entregadores, é um exemplo. A empresa atingiu quatro milhões de entregas, crescendo 308% no primeiro semestre ante o segundo semestre de 2020. Conta com mais de seis mil estabelecimentos cadastrados, 120 mil entregadores entre motos e bicicletas e deve chegar a dez mil veículos até o fim do ano.
“Há um grande mercado de e-commerce de varejistas de vestuário e de eletrônico que não observávamos. Nossa meta é rivalizar com os grandes para trazer eficiência operacional e atingir o consumidor final de forma positiva”, diz Felipe Criniti, CEO e fundador da Box Delivery. Os projetos são ambiciosos. Hoje, realizam até seis mil entregas por dia, com mil pedidos em 30 minutos. Até dezembro de 2022, a meta é fazer dez milhões de pedidos por mês. De preferência, em menos de meia hora.
A empresa, que começou com food service em Santos, está presente em 22 Estados e em 187 cidades. Em julho deste ano, assinou acordo de investimento com a Aliansce Sonae, grupo que administra 29 shopping centers, que prevê entregas de produtos vendidos on-line pelas lojas, mas estocados nos próprios estabelecimentos dentro dos shoppings. “É um movimento pioneiro no mercado. Passamos a utilizar todos os shoppings como minicentros de distribuição”, diz Criniti.
Até então, mercadorias compradas via internet partiam de galpões localizados fora dos centros urbanos, acarretando fretes mais elevados e prazos de entrega de mais de dois dias úteis. “Com a nossa proposta, passamos a trabalhar com os estoques dentro das lojas e com um mix de produtos maior. O que demoraria três dias para entrega sai no mesmo dia.” Até dezembro deste ano, 15 shoppings estarão operando com o novo modelo. No fim do primeiro trimestre de 2022, a meta é abranger os 39 shoppings do grupo em todo o Brasil. No máximo em duas horas o produto estará na casa do consumidor. Neste ano, a BD vai faturar R$ 73 milhões.
Experiência semelhante ocorre com a Unlog, logtech especializada na criação de hubs avançados para a armazenagem, distribuição e transporte de cargas para indústrias, e-commerces e marketplaces. Criada em 2019, a empresa viu seu faturamento crescer 1.600% nos últimos 12 meses, atendendo clientes como Ambev, Lindt, Mercado Livre, Magazine Luiza, Infracommerce e Zé Delivery. A empresa conta com dois pilares, hubs e transporte. Para tornar essa dinâmica viável, a empresa investiu em hubs logísticos no miolo dos centros urbanos, o que reduz o tempo de deslocamento do veículo responsável pela entrega, porque sai de pontos próximos ao consumidor final. “Nossa demanda de rota de transporte aumentou 100% nos últimos três meses”, diz Michele Dim D’Ippolito, CEO e cofundador da Unlog. A empresa conta com 25 hubs em 18 cidades e projeta chegar a 700 centros de distribuição urbanos até 2026.
Outro mérito da operação logística de entregas rápidas e baratas é o de possibilitar transporte por veículos sustentáveis, elétricos, por conta dos hubs, que permitem deslocamentos curtos. “Estamos migrando mais nossa frota para veículos elétricos. Hoje temos 25 elétricos, de uma frota própria de 35 veículos”, diz D’Ippolito, citando um total de frota, incluindo a de terceiros, de mais de 300 veículos entre carros, motos e bicicletas.
O crescimento acelerado de empresas especializadas em entregas rápidas acabou reduzindo o movimento de companhias associadas ao Sindicato das Empresas de Distribuição das Entregas Rápidas do Estado de São Paulo (SederSP). Segundo o presidente, Fernando Souza, há dez anos as empresas do setor contavam com 800 funcionários. Hoje, são 250. E o sindicato tem 1,8 mil associados, mas já foram 14 mil. “A logística de entrega rápida cresceu muito, mas nós encolhemos porque temos custos mais altos. Nossos funcionários possuem todos os direitos trabalhistas.”
Os clientes do SederSP são laboratórios que realizam transporte de exames e plasma sanguíneo; escritórios de advocacia; hospitais; indústrias de equipamentos eletrônicos, como a Motorola; e companhias aéreas, como a Gol. Desde o início da pandemia, a demanda do setor farmacêutico cresceu 80%.
Fonte: Valor Econômico