Por Alessandra Saraiva | Após cinco quedas consecutivas, as vendas no varejo brasileiro subiram 1,6% em setembro ante setembro do ano passado, segundo o Índice de Atividade Econômica Stone Varejo, cujo resultado foi antecipado ao Valor. Em agosto, as vendas no indicador haviam caído ante 2,1% ante mesmo mês em 2022. Na comparação com agosto, as vendas subiram 0,7% em setembro.
Para o pesquisador econômico e cientista de dados da Stone responsável pelo indicador, Matheus Calvelli, os resultados indicam melhora de vendas no setor no quarto trimestre de 2023. “O varejo é muito resiliente. ‘Sofreu’ o ano inteiro e agora está se recuperando no fim do ano.”
Além disso, continuou o técnico, as taxas positivas em setembro sinalizam perspectivas positivas para o setor no quarto trimestre. O período conta com datas importantes de vendas para o varejo, como Black Friday em novembro; e Natal, em dezembro.
Calculado pela Stone em conjunto com o Instituto Propague, o índice tem como base dados públicos da Receita Federal, e dados transacionais de cartão dos clientes do grupo StoneCo.
O indicador aponta que o varejo está se recuperando, são bons [sinais]”
Ao falar sobre as razões que levaram ao avanço no indicador, Calvelli explicou que ocorreram melhoras nas vendas de três setores importantes no faturamento do comércio. Um deles foi móveis e eletrodomésticos, que mostrou variações positivas, de venda, tanto na comparação ante mês anterior (2%) quanto em relação a igual mês de 2022 (1,6%). “Tivemos também saldo positivo em artigos farmacêuticos na comparação com igual mês do ano passado [0,6%] que também foi muito importante para compor o resultado.”
O outro setor que também teve boa performance de vendas, em setembro, foi o de combustíveis e lubrificantes. Calvelli explicou que, embora seja pesquisado e usado para cálculo do indicador da Stone, eles preferem não detalhar evolução de vendas no segmento. Isso porque, especificamente o nicho de combustíveis, precisa de série histórica mais longa para eliminar possíveis efeitos sazonais. “Mas podemos informar que, na comparação com setembro [do ano passado] as vendas em combustíveis subiram quase 10%.”
Quando questionado se o contexto macroeconômico, com inflação mais baixa – que confere maior espaço no orçamento do consumidor – pode ter ajudado a elevar demanda e, com isso, vendas no comércio, o especialista foi cauteloso. Ele ponderou que, se por um lado os preços não sobem tanto, os juros de mercado continuam elevados. Isso inibe compras a prazo, por exemplo. Ao mesmo tempo, ele recordou que o endividamento das famílias ainda opera em patamar elevado.
“Mas, de fato, podemos dizer que há sinais de demanda positiva no comércio” disse. “O indicador aponta que o varejo está se recuperando, são bons [sinais].”
Calvelli, no entanto, faz ressalva. Mesmo com dados positivos em setembro, notou, foram meses de atividade econômica, inferior a 2022, ao longo de 2023 – além de menor demanda, e menor ritmo de vendas, no varejo. “O comércio varejista segue ainda pressionado”, disse. “Mais meses de dados são necessários para confirmar estabelecimento de tendência positiva”, concluiu. “Não quer dizer que estamos em ‘mar de rosas’. Ainda temos muito a caminhar.”
Fonte: Valor Econômico