O Grupo Pão de Açúcar, o maior varejista do país, com mais de 2 mil lojas, entre redes de supermercados, hipermercados e lojas de eletrodomésticos, tem enfrentado uma de suas fases mais difíceis na história recente, mas começa a identificar sinais de resultados um pouco melhores, após ajustes feitos no ano passado – com revisão de despesas e gestão descentralizada na área alimentar.
“Janeiro e fevereiro foram meses positivos”, diz Ronaldo Iabrudi, presidente do GPA, referindo-se à operação de vendas do grupo. O ano, com o país em recessão, não será fácil – “muita gente vai morrer”, diz. Mas observa que o grupo tem recursos para enfrentar a conjuntura. “Temos R$ 5,5 bilhões em caixa, sendo R$ 3 bilhões só do Pão de Açúcar”.
Na rede Extra, de hipermercados, janeiro e fevereiro foram meses com crescimento ligeiramente positivo. Esta divisão, no ano passado, teve queda de vendas. Mas a previsão para este ano é virar este resultado: ter uma pequena expansão, ainda abaixo da inflação, com rentabilidade estável sobre 2015, diz Iabrudi.
Na Via Varejo, que abriga as bandeiras Casas Bahia e Ponto Frio, ainda há uma desaceleração nas vendas neste ano, até agora, mas em velocidade menor do que o apurado no fim de 2015, quando a retração foi de 15%. A expectativa do mercado é que Via Varejo feche o ano com uma retração de um dígito.
Neste ano, Iabrudi acredita que pode colher resultados de um novo modelo de gestão, mais descentralizado, adotado a partir de meados do ano passado. Foram criadas diretorias de vendas para cada negócio (Extra, Pão de Açúcar e lojas menores). Até 2015, um diretor de operações definia mudanças ou ajustes para cada unidade com igual prioridade. Hoje há diretores, que são espécies de “donos do negócio” e cada um cuida da sua operação.
“O que planejamos no orçamento, em termos de vendas, investimento, ‘working capital’ [capital de giro], Ebitda [lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação], nós conseguimos atingir […] entre janeiro e fevereiro. A questão é que, pensando no crescimento da companhia, muito do que estamos fazendo internamente, você não vê resultado ainda. Parte virá em 2016”, diz Iabrudi.
O GPA cresceu tanto que, dentro de áreas, há subdivisões. No alimentar, os negócios precisam ser separados em três grupos, aquele que cresce dois dígitos (minimercados e atacado), outro que se expande em linha com a inflação, com boas margens (supermercados Pão de Açúcar) e um terceiro que vem sofrendo antes mesmo desta recessão, a rede Extra Na Via Varejo, a Casas Bahia perde menos vendas do que o Ponto Frio. E na internet, há a Cnova, que encolheu e perdeu mercado – parte disso deve-se a uma “parada” nos negócios por causa de investigações sobre desvios de produtos por funcionários e transportadoras.
As operações que enfrentam maiores dificuldades hoje são hipermercados Extra, Via Varejo e Cnova. Apesar de esforços de gestão, analistas dizem que empresa tem sido mais eficiente em cortar custos do que em melhorar seu posicionamento competitivo.
Iabrudi diz que a “afinação” entre a área de compras e de vendas, determinante para colocar na loja o que o cliente quer, precisa melhorar. “Precisamos de uma afinação maior, para não faltar nem sobrar produto na loja”, diz. Para ele, ” resultados iniciais deste ano ainda virão do controle de custos”.
“Mas a beleza do Pão [GPA] é que eu não tenho que matar nenhum formato para resolver a questão. Eu tenho rentabilidade em outros negócios. E a conclusão que temos hoje é que não está na hora de fazermos no alimentar o que fizemos na Via Varejo [ganhar venda reduzindo margens]”, diz.
Na Via Varejo, o modelo de gestão não mudou. “Não mudamos a forma de gestão, a preocupação maior é com o acompanhamento de preços [da concorrência], especialmente na Casas Bahia”, diz, como reflexo de uma piora do ambiente competitivo desde 2015.
Na Via Varejo, o grupo percebeu, neste início de ano, que o ritmo de queda de vendas diminuiu em relação ao último trimestre de 2015, quando a retração foi de 14,7%.
A Via Varejo tem estratégia oposta ao negócios alimentar do grupo – opera hoje com maior agressividade em preços, sob risco de redução de margem de lucro, mas busca vendas e maior participação de mercado.
Iabrudi comentou ainda informações do comitê de auditoria da empresa. O comitê foi criado na gestão do controlador Casino, há três anos e meio no comando do GPA. Este comitê, segundo relatório divulgado no balanço de 2015, identificou 226 riscos aos quais a companhia está sujeita atualmente. Desses 226, diz o comitê, 105 foram priorizados, e 20 foram considerados “mais sensíveis cuja mitigação se faz urgente” ou mais prioritária, diz o relatório.
“Entre esses 20 riscos, o conselho [de administração] separou quatro riscos. São eles, riscos à cultura, às marcas, no processo de sucessão e em relação à segurança de informações”. Iabrudi ressalta que não se tratam de perdas, mas de algo que exige atenção imediata maior da companhia. Por exemplo: “lançamentos contábeis manuais”. Há um programa dedicado a automatizar as operações de lançamentos manuais (pagamentos a fornecedores, mudanças de preços) em que a empresa está investindo R$ 90 milhões. “Há milhares de lançamentos, com o risco de cometer erros”. Questionado se esse aspecto tem relação com os desvios de mercadorias na Cnova, Iabrudi respondeu que não.
“Contratamos André Vitória para a diretoria de riscos antes da questão na Cnova, há um ano e meio, e pedi um mapeamento”, afirma. Em dezembro, a Cnova informou ao mercado que falhas em controles de estoque por parte de funcionários levaram a perdas de R$ 177 milhões no ano passado.
O Valor apurou que as mercadorias que saíam de centros de distribuição da Cnova estavam sendo desviadas, num esquema envolvendo funcionários da empresa e de algumas transportadoras, que tiveram contrato cancelado. Participam da auditoria externa a KPMG, as consultorias White & Care e Alex Partners e o o TozziniFreire Advogados e o relatório destas deve ser entregue neste semestre.
“Esse problema parou a empresa por 15 dias, por causa do inventário nos centros de distribuição, não vendemos nem compramos nada. Mas você sempre pode olhar isso como copo meio cheio ou meio vazio. Vejo meio cheio. Comunicamos rápido [o mercado], mesmo antes de ter algumas certezas do impacto”.