Gigante global do e-commerce aposta no tripé inovação, atendimento ao cliente e logística aprimorada para deixar o status de ‘demora na entrega’ para trás
Por Karina Souza
É difícil não ter ouvido falar sobre o AliExpress nos últimos anos. Fundado em 2010 — e há onze anos no Brasil — o marketplace faz parte do grupo Alibaba e é vista como um dos principais e-commerces da China e o principal oponente da Amazon em escala global. Com foco em crescimento contínuo no país, a empresa de varejo investe em inovação para gerar descontos e na melhora dos prazos de entrega para se aproximar cada vez mais do consumidor brasileiro.
Em relação ao primeiro ponto, o investimento mais recente da empresa será realizado no social commerce (vertente do e-commerce em que os usuários ajudam uns aos outros na hora de comprar on-line). No início de maio, isso será feito por meio da nova ferramenta, chamada “Pechincha”, disponível no site e app.
A lógica por trás da novidade é a seguinte: ao acessar esse “menu”, usuários poderão encontrar uma série de produtos, de diferentes categorias — o foco é em produtos que gerem alto desejo dos consumidores, segundo a empresa. Ao clicarem nos produtos, os usuários terão acesso a um link, que poderão divulgar a amigos e parentes e ganharem descontos.
Quanto mais pessoas clicarem no link — sem precisar comprar o produto ou fazer qualquer tipo de compra no AliExpress — mais descontos o consumidor interessado naquele item terá. A redução pode chegar a 99% em relação ao preço original.
Para os vendedores, entretanto, não há desconto no valor anunciado. Isso porque o próprio AliExpress deve “cobrir” a diferença entre o valor anunciado e o vendido para os consumidores com uma verba já separada para isso.
“Na China, essa ferramenta trouxe conversão dez vezes melhor do que a das vendas via e-commerce tradicional. O social commerce já ocupa 20% do varejo digital chinês, com crescimento de 58% de um ano para o outro. Quase cinco vezes mais do que o e-commerce tradicional. Nós acreditamos que o crescimento no Brasil também deve seguir um ritmo bastante favorável e investimos nisso”, diz Yan Di, diretor geral de operações do AliExpress para o Brasil, à EXAME.
Com a inclusão da ferramenta de social commerce, o AliExpress acredita que se trata de um incentivo capaz de completar a estratégia da companhia em facilitar pagamentos e praticar preços baixos. De olho nos hábitos dos brasileiros, recentemente a companhia passou a disponibilizar o parcelamento em até seis vezes em sua plataforma.
Preço é um dos fatores mais relevantes para o brasileiro comprar. Uma pesquisa da SocialMiners em 2019 mostrou que, durante a Black Friday, 80% dos consumidores estavam dispostos a aproveitar descontos e ofertas e cerca de 6% não pretendiam comprar na data — porém, o principal fator que faria com que mudassem de ideia era justamente o preço. Em segundo lugar, estava o frete.
Para o brasileiro, quanto mais descontos, melhor. Até no frete. Uma pesquisa feita pelo comparador de fretes Reduza mostrou que mais lojas estão oferecendo frete grátis, com 19% dos produtos disponíveis no primeiro trimestre de 2020 sendo anunciados com frete grátis. De acordo com a empresa, o frete é responsável por 70% de desistências de compras virtuais.
Um dos fatores que poderia barateá-lo seria ter centros de distribuição locais — atualmente, o AliExpress não tem. “Estamos avançando nessas discussões com nossos parceiros, mas ainda não temos uma data definida. O que posso dizer é que temos muito trabalho pela frente e queremos, cada vez mais, aprimorar a experiência dos consumidores”, diz Yan.
Logística
Apesar da política de preços baixos já fazer parte da empresa — uma pesquisa da consultoria Price Survey mostra que o AliExpress tem preços em média 39,2% menores do que os praticados pelos concorrentes no país — a demora na entrega ainda era vista como um desafio a ser superado. Até 2020, compras feitas pelo e-commerce podiam demorar de 60 a 90 dias para chegarem até os brasileiros, prazos similares aos de concorrentes chineses.
No fim do ano passado, o AliExpress começou a fretar quatro voos por semana da China para o Brasil. O intuito, é claro, é o de trazer agilidade para a entrega dos produtos e, até agora, a empresa conseguiu resultados: a chegada dos produtos ao país deixou de demorar meses para chegar a uma média de duas semanas.
Futuro do varejo digital
Questionado a respeito dos principais desafios para o país avançar no varejo digital, o executivo afirma que o atendimento ao cliente e logística exercem um papel essencial, mas destaca que, mais do que isso, é necessário desenvolver o ecossistema do varejo digital como um todo. A comparação faz sentido, especialmente em relação ao país de origem da empresa. Na China. o alcance do varejo digital representa cerca de metade do setor de varejo, enquanto no Brasil esse percentual era de 5%, chegando aos 10% no ano passado, de acordo com dados da E-bit/Nielsen.
“Todo mundo que compete pelo varejo digital no Brasil está competindo por uma porção muito pequena do mercado. Todas as empresas que atuam dentro disso têm que trabalhar para desenvolver o setor como um todo e, assim, garantirem uma ‘fatia’ maior dentro do que o setor pode representar. Estou no país há vinte anos, vejo muito potencial a ser explorado por aqui”, afirma Yan.
Com o objetivo de contribuir para essa expansão, o AliExpress lançou há dois meses uma solução de dropshipping (técnica de gestão em que o vendedor não precisa manter estoque dos produtos que vende) em parceria com a Nuvemshop, empresa brasileira especializada no tema.
A partir do uso dessa função, pequenos empreendedores podem usar a ferramenta do AliExpress e começar a vender online os produtos disponíveis no marketplace, atuando de forma similar a um revendedor. Como o AliExpress tem uma base extensa de vendedores — muitos deles sendo os próprios fabricantes dos produtos, segundo Yan — a revenda pode ser uma opção de renda para quem quer começar no mundo do varejo digital.
Do lançamento para cá, a plataforma já tem cerca de 6.800 lojas cadastradas e espera crescer de forma consistente até o fim de 2021. “Essa iniciativa faz parte da estratégia global do Alibaba de gerar 100 milhões de empregos e ajudar 10 milhões de pequenas e médias empresas. No Brasil, estamos replicando esse objetivo e queremos ser parte dessa meta”, diz Yan.
Fonte: Exame