Por Felipe Laurence
Os três primeiros meses de operações unificadas entre Aliansce Sonae e BR Malls confirmaram o caráter complementar dos portfólios de shoppings centers das duas empresas e o potencial de geração de sinergias operacionais robustas nos próximos anos, diz Daniella Guanabara, diretora financeira e de relações com investidores da companhia, em entrevista ao Valor.
“Tivemos esses seis meses em que a fusão ficou em análise no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para usar bem o tempo como forma de preparar bem as empresas para garantir que, quando aprovada, a empresa unificada já tivesse passado por um período de transição suave”, comenta. A experiência adquirida na fusão entre Aliansce e Sonae, em 2019, também ajudou, aponta a executiva.
O desempenho das duas companhias em 2022 foi bem similar, com taxas de ocupação elevadas, bom crescimento nas receitas de aluguel e com complementariedade de portfólios, uma vez que a Aliansce vendeu ativos sobressalentes, afirma Guanabara. A operação criou, de acordo com o resultado “pro-forma” da companhia, uma gigante com vendas de R$ 40 bilhões, receitas em R$ 2,5 bilhões e Ebitda de R$ 1,8 bilhão.
A Aliansce Sonae continua enxergando um potencial de criação de até R$ 210 milhões em sinergias operacionais até 2028 com a fusão. As sinergias financeiras foram alcançadas antes mesmo da consolidação da operação. “Em 2022 conseguimos criar R$ 26 milhões em sinergias ainda da fusão entre Aliansce e Sonae, o que mostra esse potencial para a operação coma BR Malls”, pontua Guanabara.
Nos resultados de quarto trimestre, a companhia sentiu efeitos da Copa do Mundo e de uma Black Friday mais fraca, o que ajuda a explicar a redução no ritmo de crescimento dos indicadores financeiros se comparado com o período encerrado em setembro. “Mas em dezembro já vimos uma nova aceleração e podemos antecipar que janeiro e fevereiro, juntos, já apresentaram alta de 19% nas vendas.”
A companhia permanece otimista com o setor de shoppings centers mesmo com as incertezas macroeconômicas. “Os descontos de aluguéis já voltaram a patamares pré-pandemia e vemos uma demanda comercial por lojas bastante saudável”, comenta Guanabara. Ela nota que a taxa de ocupação permanece acima de 97% e os custos de ocupação terminaram o quarto trimestre sob controle.
A executiva afirma que a crise da Americanas foi um episódio chocante, mas que os efeitos nas operações da Aliansce Sonae e da BR Malls acabam sendo pequenos. “A união das empresas deixou a nossa escala muito grande, então uma varejista com problemas tem peso baixo no consolidado e não afeta os números de receita de aluguel ou ocupação”, comenta.
Guanabara pondera até que a perda de uma rede de lojas-âncoras como a Americanas pode favorecer um movimento de “satelitização” dos shoppings, ou seja, ao invés de uma grande loja de departamentos o centro pode trazer três a quatro lojas menores dos diversos setores que a Americanas atuava, espalhadas pelo shopping, como forma de favorecer o tráfego nos corredores.
O cenário de juros altos e as restrições ao crédito causadas pela crise da Americanas também não afetaram a Aliansce Sonae, que aprovou uma emissão de R$ 500 milhões em debêntures e também realizou uma oferta de certificados de recebíveis imobiliários (CRI), captando R$ 612 milhões, acima do valor original de R$ 500 milhões. “Mostra que o mercado vê com bons olhos nossas operações e as perspectivas do setor.”
Junto com a divulgação dos resultados trimestrais e anuais, a Aliansce Sonae também anunciou que vendeu uma participação de 10% no Passeio das Águas Shopping, em Goiânia, com uma taxa de capitalização de 8,5%, considerando a avaliação do shopping em R$ 450 milhões. “Mostramos que mesmo após a fusão com a BR Malls continuamos a gerar valor aos acionistas”, afirma a executiva.
Fonte: Valor Econômico