As cinco maiores empresas de shopping centers no Brasil, com pouco mais de uma centena de empreendimentos (20% do total), não farão nenhuma inauguração neste ano, fato inédito desde 2011. As companhias ainda preveem apenas quatro expansões até dezembro. No acumulado de três anos, de 2015 a 2017, as cinco empresas – Iguatemi, Multiplan, BRMalls, Aliansce e Sonae Sierra Brasil – terão aberto apenas dois shoppings e um outlet, segundo anúncios das companhias.
Para fazer o levantamento dos projetos anunciados, o Valor tomou como base o ano de 2011, a partir do qual todas as cinco companhias passaram a ter ações negociadas em bolsa, com informações divulgadas ao mercado e, portanto, comparáveis.
Mais capitalizadas do que as médias e pequenas do setor, essas empresas têm reforçado a proteção ao caixa, com adiamento de projetos que consomem capital. “Não há nenhum projeto hoje que necessite de desembolso obrigatório de caixa”, disse dias atrás para analistas Carlos Jereissati Filho, presidente da Iguatemi. “Adiamos algumas expansões e não há datas para novas construções e comercializações. Esperamos um cenário mais claro para determinarmos uma previsão”, disse em recente teleconferência o presidente da BRMalls, Carlos Medeiros.
Enquanto a Iguatemi conta, para o período de 2015 a 2017, com apenas uma inauguração de um outlet no ano que vem, em Santa Catarina (outlets custam menos da metade de um shopping), a BRMalls tem uma inauguração na cidade de Cuiabá. A Multiplan prevê uma abertura em Canoas (RS) em 2017 – desde 2014, a empresa não abre shoppings no país.
Mesmo com menores desembolsos, o saldo de caixa das companhias ao fim de 2015 não mostra crescimento de forma unânime. Necessidade de pagar aquisições explica em parte a queda.
Na maior empresa do setor, a BRMalls, a posição de caixa atingiu R$ 677 milhões em dezembro de 2014 e foi a R$ R$ 616 milhões no fim de 2015. A BRMalls vai tentar reforçar essa linha do balanço com a venda de ativos neste ano, que pode atingir a soma de R$ 200 milhões. Na Iguatemi – que já anunciou investimentos entre R$ 150 milhões e R$ 170 milhões em 2016 (foram quase R$ 360 milhões em 2015) – a disponibilidade de caixa caiu 6,5%, para quase R$ 400 milhões em dezembro passado.
A queda na Iguatemi reflete o pagamento da compra da participação no Shopping Higienópolis, em São Paulo. Na avaliação de especialistas, com menos projetos novos saindo da gaveta, haverá um aumento dos esforços das empresas para comercialização de empreendimentosantigos, com taxas de vacâncias mais altas.
“Há expansões de shoppings que foram anunciadas e que ainda registram altas taxas de vacância. Tivemos empreendimentos sendo abertos nos últimos dois anos com área vaga de 50%, 60%”, disse Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&BW, um dos principais especialistas do setor. O percentual de áreas vagas para locação atingiu 3,97% no ano passado – o maior índice desde que a Abrasce, associação do setor, iniciou o levantamento, em 2006.
Considerando a área total ocupada pelo setor no país, o espaço vago passou de 480 mil m2 para 600 mil m2, o equivalente ao terreno de 10 shoppings grandes, calculou o Valor.
Analistas destacam os efeitos para a economia dessa lentidão nas aberturas de empreendimentos. Em média, há um prazo de dois anos entre o anúncio de um novo shopping e o início de suas operações. Isso quer dizer que se as empresas estão com poucos projetos sendo anunciados hoje é porque não esperam melhora do quadro econômico até 2018.
De acordo com a Abrasce, a estimativa é que sejam feitas 30 aberturas em 2016 (foram 18 em 2015). Mas foram inaugurados apenas dois empreendimentos entre janeiro e março. Ou seja, será necessário abrir outros 28 em nove meses para cumprir a previsão – quase um por semana.