Estratégia permite que consumidor compre imediatamente a roupa que vê no desfile
O anúncio da Animale de que irá pular a próxima edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), que acontece em abril, mexeu com o mundo fashion nacional. A ausência será justificada por uma reformulação no calendário da marca, que passa a adotar o esquema “see now, buy now”. Já adotado por marcas estangeiras como Burberry, Tom Ford e Tommy Hilfiger, o novo sistema de negócios aposta na coincidência entre a data do desfile da temporada e o lançamento das roupas nas lojas. Conversamos com o CEO da Animale, Roberto Jatahy, que revelou os motivos que levaram a grife a romper com o modelo vigente de desfiles e como será a adaptação para a próxima temporada. Confira abaixo o bate-papo:
ELA: Grandes marcas já romperam com o ritmo do modelo de desfiles. Como se deu a decisão da Animale de reformular o calendário?
JATAHY: “Começamos a desenhar a comemoração dos 25 anos no ano passado e, ao mesmo tempo, as marcas da semana de Nova York começaram a questionar fortemente o formato dos desfiles. Desde então, começamos a amadurecer a ideia de comemorar o aniversário com um desfile que estivesse disponível para as clientes imediatamente. Conversamos com o Paulo Borges (organizador da São Paulo Fashion Week) sobre esta vontade e juntos montamos a estratégia. A vontade de fazer desfiles direto para o consumidor é antiga na marca. Temos um compromisso com o cliente e sempre levamos muitos deles aos desfiles, que são muito esperados. Sabemos o quanto a semana de moda é importante para as marcas e para a moda nacional e não temos a menor intenção de enfraquecê-la, muito pelo contrário, acreditamos que podemos chegar a um formato interessante para todos num cenário mais amplo e inclusivo para o consumidor.”
ELA: Como será esta adaptação? Até agora vocês estavam trabalhando com o calendário tradicional ou já aconteciam pequenas mudanças internas?
JATAHY: “Com a entrada do Vitorino Campos, conseguimos trazer a linha concept para a loja cada vez mais cedo. Ele é ágil e hoje trabalha junto com a direção-criativa da marca, ou seja, os “timings” espontaneamente foram se aproximando. Hoje, já conseguimos oferecer produtos especiais e superexclusivos que eram desfilados e não chegavam às lojas.”
ELA: Paulo Borges está fazendo o mesmo na SPFW. Já foi dito que a Animale não desfilará lá este ano. Ano que vem voltará a desfilar em São Paulo?
JATAHY: “Sim, na verdade, queremos estar na edição de outubro/novembro com o evento de comemoraçao dos 25 anos. Estamos avaliando junto ao Paulo Borges uma forma de isso acontecer.”
ELA: Em 2016, a marca só desfilará no Rio? Por quê?
JATAHY: “Nascemos no Rio e não desfilamos na cidade há muito tempo. Faz muito sentido realizar o desfile de comemoração dos 25 anos de marca aqui. Além de tudo, somos uma marca nacional, não importa onde o desfile vai acontecer, sempre será para todo o Brasil.”
ELA: Quais serão as medidas que vocês pretendem tomar para não ter uma delay entre as peças desfiladas e o que está nas lojas?
JATAHY: “Toda uma estratégia está sendo pensada para que o calendário de criação se ajuste. Hoje, fazemos três coleçoes ao mesmo tempo: verão 2017, cujo desfile já está pronto, inverno 2017 que está em andamento, e o verão 2018, que acabou de iniciar o processo criativo.”
ELA: O que você fará para manter o desfile uma ferramenta atraente?
JATAHY: “Não mudaremos nada. O desfile continua sendo o ápice da coleção, a maior expressão da marca, com total liberdade para experimentar. A diferença é que nos organizamos para que estas peças cheguem antes. Não estamos criando um desfile mais comercial para as passarelas, estamos levando a passarela para as nossas clientes, pois elas merecem ter acesso a essas peças.”
ELA: Hoje, qual é o canal que você acredita ser o que mais aproxima e seduz o cliente para a marca?
JATAHY: “As mídias sociais, sem dúvida, revolucionaram o mundo da moda pela facilidade com que elas comunicam visualmente nossas coleções. Moda é imagem e, nestes novos tempos, a imagem das marcas se democratizou, marcas de luxo são tão acessadas quanto as marcas mais populares.”
ELA: A Animale pretende continuar criando coleções de acordo com a estação?
JATAHY: “Fazemos cinco coleções por ano e temos todas as estações do ano nelas. somos uma marca nacional que atinge o frio do Sul e o eterno verão do Nordeste. Além de tudo, as estações do ano também mudaram, não adianta pensar que conseguiremos colocar o inverno quando o inverno começar, temos que ter sempre todas as opções. O mundo está mais fluido, e quem não se adaptar vai desaparecer.”
CEO da Animale fala sobre a decisão de não participar da SPFW e fazer calendário próprio
