30/12/2015 às 05h00 Por Gustavo Brigatto | De São Paulo Em meio aos percalços de 2015, duas antigas promessas do mundo da tecnologia deram passos concretos para se tornarem uma realidade no dia a dia do brasileiro: a carteira digital e os sistemas de pagamento de compras com o celular. Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Mastercard e Visa lançaram iniciativas nessas áreas e em 2016 mais competição virá. O Valor apurou que a Samsung pretende lançar seu sistema de pagamento, o Pay, ainda no primeiro trimestre, em parceria com uma instituição financeira. Para Elizângela Moreira de Souza, gerente de canais digitais do Bradesco, a vinda de estrangeiros para o país por conta das Olimpíada pode ser um incentivo aos serviços em 2016. Segundo a empresa de pesquisa Frost & Sullivan, o número de usuários de carteiras digitais no país saltará de 1,5 milhão em 2014 para 87,6 milhões em 2019. Os sistemas de carteira digital e de pagamento com o celular são diferentes, mas estão intimamente relacionados. Na carteira digital, o consumidor coloca os dados de seu cartão de crédito e, na hora de fazer uma compra pela internet, não tem que digitálos novamente. Basta entrar com o login e a senha do serviço de carteira e a transação é realizada. Mas a varejista tem de ter acordo com a instituição financeira para aceitar esse tipo de pagamento. As redes Ricardo Eletro e a Livraria Cultura, por exemplo, aceitam o MasterPass, da MasterCard. A Stelo, carteira digital criada pelo Banco do Brasil, Bradesco e pela Cielo, pode ser usada em lojas como Netshoes e Zattini. “A experiência e a conveniência são os itens que o consumidor mais valoriza no comércio eletrônico”, disse Valério Murta, vicepresidente de produtos e soluções da MasterCard para Brasil e Cone Sul. O pagamento com o celular é uma extensão desse modelo. Usando a tecnologia de transmissão de dados sem fio NFC do smartphone, o consumidor usa a carteira digital para fazer compras em lojas físicas. Basta aproximar o aparelho da maquininha de cartão do estabelecimento. A adoção das duas tecnologias ainda engatinha em quase todo o mundo. As exceções são China e Coreia do Sul, onde são amplamente adotadas. Isso ocorre por barreiras tecnológicas (consumidor e varejista precisam ter equipamentos e sistemas compatíveis) e de conhecimento sobre os serviços é preciso saber como funcionam e sentir segurança para usar. Na avaliação de Raul Moreira, vicepresidente de negócios de varejo do Banco do Brasil, a parte das tecnologias já está bem equacionada no Brasil. Além do número de smartphones com NFC estar em crescimento em quatro anos, 75% dos aparelhos serão compatíveis com a tecnologia 70% das máquinas de cartão no país já são capazes de fazer a leitura dos dados por esse mecanismo. O que precisa ser trabalhado agora é o entendimento do serviço. “A mudança cultural é uma dificuldade, as pessoas têm que trocar o que elas usam”, disse Percival Jatobá, vicepresidente de produtos da Visa, que em outubro lançou o Visa Checkout. Na Stelo, uma forma de incentivar o uso tem sido oferecer descontos nas compras. Lançada oficialmente em setembro, a companhia tem 150 lojas e 50 mil compradores cadastrados. Dentre os internautas, 80% conheceram o serviço navegando por um site de comércio eletrônico. “Deles, 60% fizeram uma compra já no primeiro momento”, disse Ronaldo Varela, presidente da companhia. De acordo com ele, 2016 será o ano de acelerar o crescimento da base de usuárias, ganhar massa crítica e investir em novos tipos de produtos. O interesse dos bancos brasileiros pelos sistemas de pagamento digital faz parte da evolução natural do modelo de negócios das instituições. À medida que os clientes ficam mais conectados, oferecer novos canais e formatos de atendimento tornase inevitável. Mas o movimento não deixa de ser, também, uma resposta à estratégia de empresas de tecnologia como Apple, Google e Samsung, que também estão entrando neste mundo. “O consumidor espera que essas empresas entrem em pagamentos e têm mais disposição a adotar sistemas criados por elas do que o de um banco”, disse Marco Santos, diretor da consultoria GFT. Para ele, com um grande número de carteiras oferecidas por diferentes empresas, a tendência dos consumidores será concentrar suas transações em apenas uma. A Apple tem sondado o mercado brasileiro desde 2014, mas as instituições financeiras não gostaram muito dos termos apresentados pela companhia. “Sem parcerias com os bancos, eles não vão a lugar nenhum. Não temos um mercado fragmentado como o americano ou o europeu”, disse um executivo do setor que não quis se identificar. Para Rita Castro, superintendenteexecutiva da Bradesco Cartões, uma forma de driblar a confusão que pode ser gerada entre os clientes é oferecer a ele mais do que a função de pagamentos. “No nosso aplicativo, teremos mais coisas. Com o relacionamento que temos com o cliente, podemos oferecer a ele mais opções”, disse, sem dar detalhes.
Valor Econômico – SP