13/11/2015 às 05h00
Por Adriana Fonseca | Para o Valor, de São Paulo
Quase metade das cem maiores empresas latino-americanas não tem uma única mulher em seu conselho de administração. A constatação é do Corporate Women Directors International (CWDI), um grupo de pesquisa com sede em Washington que divulgou recentemente um levantamento sobre o tema. Nas 100 companhias, as mulheres representam apenas 6,4% do total de conselheiros - no Brasil a taxa fica bem próxima: 6,3%. Segundo Irene Natividad, da CWDI, o índice deixa a América Latina bem atrás da América do Norte, onde elas ocupam 19,2% dos assentos, e da Europa (20%).
Até na região da Ásia-Pacífico as mulheres têm maior participação: 9,4%.
Marília Rocca, 42, é uma das poucas brasileiras que frequentam conselhos de administração. Executiva da Totvs, ela integra o “board” do banco Santander, da Mãe Terra e da empresa americana GoodData. A primeira oportunidade de trabalhar como conselheira surgiu quando era diretora geral da Endeavor, organização de apoio ao empreendedorismo. Na época, a Totvs passava por um processo de captação de recursos e precisava estabelecer uma estrutura de governança mais formal. Foi quando Laércio Cosentino, fundador da empresa de tecnologia, convidou-a a integrar o “board”. “Ele queria um membro independente, que pudesse participar das decisões estratégicas da companhia”, lembra.
Marília integrou o conselho da Totvs de 2001 a 2013, quando assumiu a vice-presidência de negócios da companhia. Os outros convites para atuar como conselheira foram consequência dessa primeira experiência e de sua trajetória.
Ex-presidente da TVA e diretora executiva da Telefônica até abril, Leila Loria, 61, começa a movimentar-se para atuar como conselheira de empresas. Para isso, fez um curso de governança corporativa e frequenta outro, para formação de conselheiros. “Participando dos conselhos posso contribuir com minha experiência”, diz Leila, que faz parte do “board” do Coppead, a escola de negócios da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A discussão sobre a inclusão de mulheres nos conselhos de administração tem suas razões. Estudos mostram que um “board” diversificado aumenta o lucro das empresas. “A diversidade nos conselhos vem ganhando corpo porque dá às empresas jeitos diferentes de olhar o mesmo problema”, diz Regina Madalozzo, professora de economia do Insper e estudiosa das questões de gênero nas empresas. Tais argumentos fizeram surgir um projeto de lei que pretende impor cotas para forçar as empresas a incluir mulheres em seus conselhos. O que, vale ressaltar, já foi feito em mais de 20 países, como França e Noruega.
O grupo Mulheres do Brasil, que reúne as principais executivas e empresárias do país e é liderado por Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, defende as cotas. A proposta original do grupo, que apoia o projeto de lei em tramitação no Congresso, propõe 30% de vagas destinadas a mulheres em nove anos – 10% em 2016, 20% em 2019 e 30 % em 2022 e 30% em 2025. “Neste momento falamos de empresas públicas e sociedades de economia mista em que a União tenha maioria de capital votante, o que inclui algumas empresas de capital aberto”, explica Maria Luiza Bueno, integrante do grupo Mulheres do Brasil e diretora jurídica da BR Home Centers.
Além das cotas, o grupo faz um trabalho paralelo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para incluir a obrigação de informações, no formulário de referência, sobre diversidade de gênero na composição dos conselhos. Na Bovespa, a batalha é pela criação de um índice de governança corporativa que inclua diversidade de gênero como requisito de boa prática. “Ter mulheres nos conselhos é bom para o negócio”, diz Maria Luiza, citando pesquisa da McKinsey que demonstra a relação entre a presença feminina nos “boards” e lucros maiores. “Sem pró atividade, na melhor das hipóteses, somente daqui a 80 anos teremos algum vislumbre de equilíbrio.”
Regina, do Insper, também é a favor das cotas. “Fazem as empresas procurarem mulheres capacitadas para as cadeiras dos conselhos. E quando procuram acham”, afirma. “Há mulheres qualificadas, mas por questões culturais, não são chamadas”, diz. Marília Rocca acha que a função das cotas é acelerar a transformação social, mas teme que a inserção de mulheres aconteça para cumprir cota e não por mérito. Preparar executivas para que tenham mais chances de carreira é a proposta de um programa de mentoria a ser lançado ainda neste ano pela unidade de São Paulo do Professional Women’s Network (PWN).
Valor Econômico – SP