23/10/2015 às 05h00
Por Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre
Segundo maior polo da indústria de vestuário do país, Santa Catarina voltou a ultrapassar São Paulo, o primeiro do ranking, como principal exportador brasileiro do setor no acumulado de janeiro a setembro. Nesse período, as empresas catarinenses faturaram US$ 29,1 milhões no mercado externo, enquanto as concorrentes paulistas embarcaram US$ 28,3 milhões, de acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Considerando apenas os nove primeiros meses do ano, é a primeira vez que isto ocorre desde 2010. Num ano cheio, a última vez que os catarinenses ficaram à frente foi em 2004, quando embarcaram US$ 127,4 milhões, ante US$ 121,1 milhões dos paulistas. Desde então, as vendas externas do setor vêm caindo ano a ano por conta da concorrência asiática no mercado internacional. A troca de posições entre os Estados que respondem, juntos, por 62% das exportações brasileiras de produtos de vestuário, ocorre num contexto de retração generalizada da indústria. Mesmo assim, Santa Catarina vem conseguindo ostentar indicadores um pouco melhores do que a média nacional do setor, graças a investimentos e programas de qualificação de produtos e capacitação de mão de obra realizados nos últimos anos, segundo empresários e executivos. Conforme o IBGE, a produção física da indústria brasileira de vestuário e acessórios recuou 9,8% de janeiro a agosto ante o mesmo período de 2014. A Queda em Santa Catarina ficou em 4,7% e em São Paulo, 14,8%. As empresas catarinenses também aumentaram em 2,8 mil o número de empregados nos oito meses, enquanto em todo o Brasil houve 19,1 mil demissões líquidas, informou a Federação das Indústrias do Estado (Fiesc) com base nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Para o diretorsuperintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, o desempenho das confecções catarinenses superam a média graças a fatores como uma legislação tributária mais “amigável”, boa infraestrutura, diversificação e emergência de uma nova geração de empreendedores criativos e inovadores. Entre os incentivos estaduais, segundo a Secretaria da Fazenda, estão diferimento de impostos na importação de matériasprimas, desoneração e ampliação dos prazos de recolhimento de ICMS sobre novos investimentos. Segundo a Abit, de 2013 para 2014 o faturamento da indústria de vestuário brasileira recuou de US$ 42,34 bilhões para US$ 41,03 bilhões. Ao mesmo tempo, enquanto a participação de São Paulo oscilou de 28,8% para 28,4%, Santa Catarina foi de 16,8% para 17,4% e pode ganhar pontos adicionais nos próximos anos, entende Pimentel. Em 2014, o segmento representou 76,5% do setor têxtil como um todo (incluindo fios e tecidos), que por sua vez deve registrar uma queda de 4% no faturamento em 2015, para US$ 51,5 bilhões, prevê a associação. O presidente da Câmara de Desenvolvimento da Indústria da Moda da Fiesc, Sérgio Pires, atribuiu o desempenho local a investimentos em tecnologia, capacidade produtiva e gestão nos últimos anos, e também à decisão do setor de transformar o Estado em um polo de moda, e não só de tecidos. O mesmo acontece com as exportações, agora com a contribuição adicional da desvalorização do real que aumenta a competitividade dos produtos brasileiros no exterior e dificulta a entrada de importados no país. As vendas externas de vestuário catarinense registram queda de 6,1% de janeiro a setembro ante igual período de 2014 (a retração é de 11,9% no total do país). Mas a expectativa de Pires é que no acumulado até dezembro as indústrias do Estado empatem ou até consigam “algum crescimento” frente aos embarques de US$ 43 milhões do ano passado. Na outra ponta, Pires aposta que as importações brasileiras devem “parar de crescer” em 2015, depois de 11 anos de altas consecutivas, e recuar um pouco em 2016. Segundo Pires, a reconfiguração do setor no Estado teve o apoio do movimento Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC), criado em 2005 por empresas como Altenburg, Hering, Círculo, Dudalina, Karsten, Lepper e Marisol. “Nosso objetivo é desenvolver e transferir design e qualidade para a indústria da moda para valorizar as marcas e os produtos locais”, disse o presidente do SCMC, Claudio Grando. De acordo com ele, o movimento foi criado quando o setor percebeu que precisava se capacitar para enfrentar a invasão de produtos chineses. A estratégia foi unir empresas e universidades que oferecem cursos de moda, mediante a integração de estudantes nas equipes de criação das indústrias e a participação dos profissionais nas atividades acadêmicas, disse. Segundo Grando, o SCMC tem 17 empresas associadas e 16 instituições de ensino parceiras. Em dez anos capacitou 26 mil pessoas. No fim do ano passado, segundo a Fiesc, com base em dados do Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho, Santa Catarina tinha 8,3 mil fabricantes de artigos de vestuário que empregavam 113,2 mil funcionários. Os números ficam atrás apenas de São Paulo, com 15,1 mil empresas e 169,8 mil empregados, de um total de 58,5 mil indústrias e 683,8 mil trabalhadores no segmento em todo o país.
Valor Econômico – SP