04/09/2015 às 05h00
Por Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
Um dos maiores fabricantes de relógios de pulso do país está mudando o rumo de seus negócios. A Seculus, empresa pertencente a uma família de Minas Gerais, quer se tornar uma marca forte no mundo dos acessórios de moda e diminuir sua dependência em relação às vendas de relógios. Dona das marcas Seculus e Mondaine, a empresa da família Azevedo, tem também em seu portfólio contratos de licença e distribuição dos relógios Speedo, Guess, Puma e Cássio. No mercado nacional, a Seculus se apresenta como a segunda maior do país, atrás apenas da Technos. A mudança de estratégia começou há dois anos, embora de modo discreto. Foi quando a empresa lançou uma linha de bolsas femininas com a marca Mondaine. O resultado até agora é tímido, mas os donos da Seculus alimentam muita expectativa nesse nicho. Falam que nos próximos três anos, as vendas de bolsas poderão contribuir com 10% a 15% do faturamento da empresa. A segunda fase da mudança começa agora. A Seculus fechou um contrato com a suíça Swatch, dona de mais de 20 grifes, para distribuir semijoias da Calvin Klein no Brasil, da linha Calvin Klein Jewlery, a partir do início de 2016. O contrato também inclui relógios CK. Na mesma linha de se posicionar no mundo dos acessórios de moda, a Seculus acaba de selar um acordo com a Swarovsky para distribuir com exclusividade semijoias e também relógios da marca em relojoarias e joalherias do Brasil, contou ao Valor, Alexandre Azevedo, presidente da Seculus da Amazônia. A ideia é que as vendas comecem neste Natal. A Swarovsky já tem lojas e franquias no Brasil. O acordo com a Seculus faz parte de um movimento de expansão no país da empresa de origem austríaca. Azevedo, de 43 anos, e filho de um dos irmãos que fundaram a Seculus, diz que tem em vista diminuir a dependência da empresa em relação ao relógio. “A ideia é virarmos uma empresa de acessórios de moda e não uma empresa de relógios. A gente sabe que ainda é uma empresa de relógios, mas no futuro a gente quer ser uma gestora e distribuidora de acessórios de moda.” Ele conta que tem o apoio de uma consultoria exatamente para pensar novas estratégias. “A gente já mudou a ideologia. Nossa ideologia hoje já não está mais focada em relógio, mas em acessórios de moda. Começamos com o negócio de bolsa, agora vamos entrar em joias e a gente está estudando outros segmentos ligados a acessórios de moda para podermos expandir”, diz o executivo e um dos herdeiros. Entre outros produtos que a Seculus avalia para o futuro de seu portfólio estão óculos, cosméticos, além de carteiras e cintos, diz Azevedo. A aposta no mercado de acessórios da moda é alta, a ponto de a Seculus já cogitar aquisições nesse business. “Entrar em outros setores através de aquisição faz mais sentido do que uma aquisição do setor relojoeiro”, disse. Na nova fase, a empresa quer continuar a atrair público mais jovem, de 18 a 35 anos, que gasta em produtos entre R$ 150 a R$ 300. Azevedo faz a seguinte previsão sobre o mercado de relógios de pulso: “O relógio não está fadado ao fracasso. Se adaptou como acessório de moda.” Mas na estratégia que ele desenha para a Seculus, o item terá protagonismo não por muito tempo mais. “O relógio vai ter muita importância no nosso negócio ainda pelos próximos cinco ou dez anos.” Para uma empresa que este ano completa 65 anos parece um prazo pequeno. O principal concorrente do Brasil no ramo dos relógios, a Technos, que tem ações negociadas em bolsa, tem planos diferentes da concorrente mineira. “A gente vê ainda um potencial enorme no segmento de relógio, com muito espaço para crescer”, disse Thiago Frias Picolo Peres, diretor presidente da empresa. “A nossa leitura está muito mais voltada para melhorar o trabalho que a gente faz no segmento de relógios do que de explorar outros segmentos e diminuir o foco no relógio.” A Technos, que segundo estimativas próprias tem 43% do mercado nacional de relógios, registrou um lucro líquido ajustado no segundo trimestre de R$ 15 milhões, ou 8,9% a mais do que do mesmo período do ano passado. A Seculus diz ter entre 22% e 23% do bolo nacional e sua previsão é fechar o ano com um faturamento de R$ 280 milhões, o mesmo que 2014. E mesmo com o câmbio pressionando as margens, a Seculus calcula chegar a dezembro com um crescimento de 18% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla, em inglês). Technos e Seculus e mais Orient e Magnum concentram, segundo Alexandre Azevedo, mais de 90% do mercado de relógios de pulso no país. Todas produzem em Manaus. É um dos poucos ramos da indústria que não estão no vermelho, como acontece com muitos nos últimos meses. De janeiro a junho, as empresas brasileiras que montam seus relógios Manaus viram sua produção crescer 3,59% em relação ao mesmo período do ano passado, alcançando as 4.732.506 de unidades, segundo dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). O faturamento foi para US$ 198,5 milhões. Somente a Seculus deve fechar o ano com 2,5 milhões de unidades produzidas. “Esse é um baita mercado, formado principalmente por clientes masculinos, que se interessam muito pela marca. Relógio é item número um entre os acessórios de moda do homem”, diz o Edson D’Aguano, da Consultive Branding, consultoria de gestão no ramo da moda. Mas ele vê também um caminho francamente aberto para empresas que embarcam no ramo de acessórios de moda. “Não tem uma referência nacional nesse negócio e por isso a gente vê uma grande oportunidade”, diz Azevedo.
Valor Econômico – SP