Apesar da desaceleração da economia brasileira nos últimos anos e da expectativa de queda de mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, o Brasil aparece entre os cinco destinos potencialmente mais atrativos para Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) entre 2015 e 2017, de acordo com pesquisa realizada pela Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) em parceria com a McKinsey. Em contrapartida é o país que tem o menor índice de internacionalização na América Latina e não aparece nem entre os 20 países que mais investem em outras economias, segundo a entidade.
Os dados aparecem no “Relatório Global de Investimentos 2015” da Unctad, divulgado no Brasil em parceria com a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet).
Pesquisa realizada com mais de 1000 multinacionais em 89 países do mundo mostra que os executivos continuam a apostar no Brasil, apesar do cenário doméstico bastante complexo. No ranking dos países mais atrativos para receber investimentos nos próximos três anos, o Brasil aparece em quarto lugar, com 10% das respostas, uma colocação acima em relação ao ano anterior.
A China deve continuar a ser o principal destino de IED no mundo, de acordo com a pesquisa realizada com executivos globais, com 28% das intenções de investimento. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com 24% das respostas. A Índia deve ser o terceiro país mais requisitado para investimentos, diz o relatório.
Para Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet, o desempenho positivo pode não se traduzir, necessariamente, em aumento do IED para o país neste ano, à semelhança do que aconteceu em 2014.
No ano passado, observa Lima, o investimento produtivo direcionado ao Brasil caiu 2,3%, para US$ 62 bilhões, mas o país subiu uma posição no ranking dos principais receptores globais de IED.
O país, que chegou a ocupar o quarto lugar no levantamento em 2012, subiu da sétima para a sexta colocação entre 2013 e 2014. Uma novidade mostrada pelo relatório é que o Estados Unidos perderam a liderança desse ranking para a China, que passou a ser o principal destino de IED no mundo. US$ 129 bilhões foram destinado para projetos ou aquisições na China no ano passado, contra US$ 92 bilhões nos EUA.
Outra tendência, essa mais antiga, mostrada pela Unctad é que as empresas brasileiras continuam a perder espaço no mercado internacional. No ano passado, o país “desinvestiu” US$ 3,5 bilhões, o que o coloca na lanterna entre os países da América Latina. O Chile, por exemplo, foi origem de US$ 13 bilhões em investimentos para o exterior em 2014.
A Unctad pondera que os dados são de certa forma distorcidos pelo elevado volume de investimentos intercompanhia entre matrizes brasileiras e suas filiais no exterior, que inflam os dados de repatriação de recursos para o país. Uma boa notícia, nota o órgão, é que os investimentos brasileiros em participação no capital de empresas estrangeiras aumentaram 32% em 2014, para US$ 20 bilhões.
Ainda assim, comenta o presidente da Sobeet, o dado evidencia a necessidade de mudança de postura das companhias nacionais. Depois de anos de crescimento do consumo, a mudança de cenário econômico deve exigir que os executivos brasileiros olhem com mais atenção as oportunidades internacionais.
A internacionalização, pondera o presidente da Sobeet, enfrenta dificuldades, como diferenças de legislação tributária, mas há um entrave adicional neste ano. Empresas do setor de construção civil, que têm presença mais relevante no exterior, são alvo de investigação na Operação Lava-Jato, o que pode dificultar o avanço das operações dessas companhias em projetos fora do país.
Para Carlos Marcio Cozendey, diretor do departamento de assuntos financeiros do Ministério das Relações Exteriores, o incentivo à internacionalização das companhias domésticas está longe de ser ponto pacífico na sociedade brasileira. “Basta olhar a discussão em torno do apoio do BNDES a empresas no exterior, que não está sendo feita com base em critérios objetivos, mas na noção de que investir fora do país gera menos empregos no Brasil”.
Valor Econômico – SP