12/05/2015 às 05h00
Por Lucy Hornby e Andres Schipani | Financial Times, de Pequim e Caracas
A China pode ser nominalmente comunista, mas as preocupações com a sua exposição financeira a parceiros sul-americanos de pendores socialistas, como a Venezuela e a Argentina, estão levando o país a pender mais para outros Estados mais liberais da região.
O premiê Li Keqiang vai confirmar investimentos chineses em ferrovias durante uma visita que fará este mês a Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Ele quer promover uma ligação ferroviária transandina construída pelos chineses, que permitiria o embarque de soja e minério de ferro brasileiro em portos do Peru no Pacífico para a Ásia, evitando o Canal do Panamá.
O aumento dos investimentos no Peru - que tem uma das maiores populações de prigem chinesa da América Latina - e nesses outros países permitirá à China reduzir sua exposição a governos esquerdistas, que ela cultivou ao longo da última década. A Venezuela tomou emprestados mais de US$ 50 bilhões, especialmente do Banco de Desenvolvimento da China, mas a grande queda nos preços do petróleo agravou os problemas de sua já combalida economia.
A China está ficando preocupada com o modelo de empréstimos garantidos por commodities, segundo diz Li Renfang, analista de América Latina da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sudoeste, na província de Sichuan.
“Acredito que é mais seguro para a China emprestar dinheiro para os governos de centro-direita”, afirma ele.
Os contratos ferroviários internacionais são prioridade para Pequim, que vê as exportações como uma solução ao incômodo excesso de capacidade da China de produzir aço e trilhos, e de serviços de construção e engenharia, à medida que o ritmo de crescimento de sua economia desacelera. Projetos ferroviários de construção chinesa foram propostos para Tailândia, Indonésia e Ásia central.
Um programa ferroviário se encaixa na preferência de Pequim por acordos de infraestrutura firmados de governo para governo que possam ser alocados para companhias estatais, que continuam cautelosas em relação às complexas leis fiscais e trabalhistas latino-americanas. No fim do ano passado, a China promoveu a fusão de suas duas empresas estatal de material ferroviário, para impedi-las de concorrer uma com a outra disputas internacionais.
O conceito de uma ligação ferroviária transandina é ambicioso, com as estimativas de custos indo de US$ 4,5 bilhões a US$ 10 bilhões para uma ligação pelo norte através da Amazônia. É quase certo que essa rota enfrentaria a oposição de grupos de ambientalistas e de defesa das populações indígenas, uma vez que cruzaria florestas virgens. Uma alternativa mais longa, atravessando os desertos do sul do Peru teria de incluir a Bolívia, mas implicaria grandes investimentos em portos no sul do Peru.
O plano da ferrovia andina poderia ser vinculado à visão da América do Sul de desenvolver mais laços com a Ásia por meio da Aliança do Pacífico, um pacto comercial entre Chile, Colômbia, México e Peru. Os chineses reclamam que o plano de movimentação mais livre de produtos é pouco detalhado.
“Tínhamos comércio, mas faltavam investimentos”, diz Chen Taotao, do Centro de Estudos Administrativos China-América Latina da Universidade de Tsinghua, observando do apetite chinês por recursos brasileiros. “As companhias chinesas estão cada vez mais interessadas, de modo que faz sentido formar laços de liderança.”
Chile e Brasil estão entre os maiores fornecedores de matérias-primas para a China, mas o Peru está se tornando um centro de investimentos chineses na região. Com US$ 19 bilhões previstos, os investimentos chineses respondem por cerca de um terço dos novos projetos de mineração no país, incluindo as minas de cobre de Toromocho e Las Bambas. No fim de 2014, a estatal de petróleo CNPC comprou operações de Petrobras no Peru por US$ 2,6 bilhões.
Entretanto, os investimentos chineses têm se mostrado evasivos em alguns países. Embora uma autoridade da Colômbia tenha afirmado que os dois países estão trabalhando em “dois projetos de infraestrutura muitos ambiciosos”, outros planos precisam ser concretizados. Em 2011, o presidente da Colômbia disse que investidores chineses estavam interessados numa conexão ferroviária e portuária que ligaria as costas do Atlântico e do Pacífico. Mas isso não avançou.
Enquanto isso, diplomatas colombianos dizem que estatais chinesas têm evitado competir diretamente em grandes licitações de infraestrutura. Na Nicarágua, um empresário chinês de telecomunicações abriu novas perspectivas de construção de um canal para concorrer com o Canal do Panamá, num projeto de US$ 50 bilhões, mas ainda não se sabe até onde o projeto tem o apoio de Pequim.
Empresas chinesas vêm investindo com sucesso em projetos de energia no Brasil grupos de petróleo têm participações minoritárias em blocos de exploração no país e a State Grid, a maior empresa de serviços públicos da China, tem investimentos significativos em energia. Mas as propostas chinesas de siderúrgicas e fábricas de automóveis no Brasil nunca saíram do papel, apesar de anos de discussões. Suas tentativas de investir em agricultura no Brasil também renderam poucos frutos.
No Chile, uma opção de 2005 da trading estatal Minmetals de assumir uma participação na mina de Gaby venceu em 2008, embora a Minmetals siga comprando cobre chileno por um acordo de longo prazo. Investimentos chineses na região também estão sendo submetidos a um escrutínio maior.
Pequim ainda se recupera da revogação, pelo México, de um contrato de US$ 3,75 bilhões para a construção de um trem-bala, depois que foram veiculadas informações de que uma mansão da família do presidente mexicano foi construída e paga pelo sócio mexicano no consórcio.
Valor Econômico – SP