MÁRCIA DE CHIARA – O ESTADO DE S.PAULO
02 Maio 2015 | 02h 02
Modelo que mistura atacado e varejo atingiu 436 unidades em 2014
O orçamento apertado do consumidor brasileiro, que sentiu no bolso o impacto da inflação, mudou no ano passado o perfil do varejo de autosserviço, que vende itens do dia adia, como alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza. Pela primeira vez o número de lojas de atacarejo, uma mistura de atacado com varejo cujo foco é o preço baixo, superou o de hipermercados no ano passado.
Também em 2014 as vendas nas lojas de atacarejo cresceram num ritmo que foi quase o dobro da média do varejo de autosserviço como um todo, que inclui, além do atacarejo, hipermercados e supermercados.
Isso é o que revela 44º Relatório Anual da revista Supermercado Moderno, que realiza uma radiografia do varejo de autosserviço. De acordo com a pesquisa, o ano de 2014 encerrou com 436 lojas de atacarejo em operação no País, ante 427 pontos de venda dos hipermercados. “É a primeira vez que os atacarejos ultrapassam os hipermercados em número de lojas”, afirma Valdir Orsetti, responsável pela pesquisa.
No ano passado, em comparação com 2013, o varejo de autosserviço como um todo faturou R$ 353,6 bilhões e teve crescimento real, descontada a inflação, de 1,7%, o pior resultado dos últimos três anos. Os atacarejos, por sua vez, cresceram a um ritmo mais forte, registrando um avanço real no mesmo período de 3,2%. Com isso, superaram com folga o desempenho dos hipermercados, que cresceram apenas 0,9% nas mesmas bases de comparação.
O maior interesse do consumidor por fazer as compras no atacarejo também é nítido quando se avalia a sua fatia de mercado. Entre os três tipos de lojas analisadas pela pesquisa – supermercado, hipermercado e atacarejo -, apenas o último ampliou a sua participação no bolo das vendas em relação ao ano anterior. O porcentual, que era de 10,4% em 2013, subiu para 15,3% no ano passado.
Perecíveis. Para Orsetti, não apenas o fato de os atacarejos oferecerem produtos com preços cerca de 15% menores do que o varejo alimentar atraiu um maior número de clientes para esse tipo de loja. No último ano, os atacarejos melhoraram o mix de produtos nas prateleiras e começaram a vender maior volume de alimentos perecíveis, como carnes, embutidos e produtos lácteos.
“Tempos atrás, os atacarejos não davam muita importância para os perecíveis. Mas agora perceberam que, ao incluir esses itens, conseguem atrair novos consumidores de maior renda para as suas lojas”, explica Orsetti.
O presidente da Associação Brasileira do Atacado de Autosserviço e do Atacadista Roldão, Ricardo Roldão, notou neste ano muitos clientes vindo pela primeira vez fazer compras nos atacarejos. Na sua empresa, por exemplo, houve um crescimento de 10% no valor médio das vendas no primeiro trimestre deste ano. “Estamos avançando em relação a outros canais, como os supermercados e hipermercados”, diz Roldão.
Entre janeiro e março deste ano, as vendas dos atacarejos cresceram entre 7% e 8% em relação ao mesmo trimestre de 2014. “Se deflacionarmos os valores, crescimento do setor foi zero, mas estamos melhor do que o atacado tradicional (distribuidor)”, afirma Roldão. Levantamento da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad) mostra que as vendas do primeiro trimestre deste ano do atacado tradicional foram quase 10% menores em relação às do mesmo período de 2014, descontada a inflação.
Roldão atribui uma parte do sucesso do atacarejo à maior atenção que as grandes indústrias têm dado ao setor. “A indústria começou a perceber que nós somos um grande canal de vendas”, diz. Ele ressalta que a perspectiva para o setor é continuar crescendo não só por causa da conjuntura de crise que faz o consumidor procurar preço baixo, mas também pelo grande número de lojas programadas. Cerca de 40% das vendas do atacarejo são no varejo e 60% no atacado.
O Estado de S. Paulo – SP