12 Abril 2015 | 02h 04
Há algo novo no ar. Olhando para cima, na praça em frente ao edifício da sede da Da-Jiang Innovations (DJI), na cidade chinesa de Shenzhen, o visitante avistará um objeto pairando no céu com uma espécie de olho fixo nele. É o olho de um drone fabricado pela DJI, pioneira no mercado incipiente de aeronaves comerciais não tripuladas.
No dia 8 de março, em coletivas para a imprensa em Nova York, Londres e Munique, a empresa lançou sua nova série de drones Phantom 3. O modelo básico tem uma câmera embutida que tira fotos “still” de 12 megapixels e vídeos de alta definição “1080p”. A companhia, fundada em 2006 por um jovem chinês que estudava engenharia em Hong Kong, tornou-se uma potência nesse setor. Ela requereu centenas de patentes e está movendo ações contra concorrentes suspeitas de estarem infringindo seus direitos de propriedade intelectual.
Os drones da DJI são leves e relativamente fáceis de usar. Os modelos mais novos têm um GPS embutido e um suporte do motor que estabiliza a câmera permitindo que ela gire em várias direções. Considerando a tecnologia embutida nos aparelhos, eles também são baratos: um novo Phantom 3 pode ser adquirido por cerca de US$ 1.000.
Como a Boeing fez com os aviões comerciais na década de 30, a DJI hoje lidera a iniciativa que visa a transformar a fabricação de drones civis, inicialmente um empreendimento para os que se dedicavam a um hobby, num setor distinto. A Associação Internacional de Sistemas de Veículos Não Tripulados, que representa essas empresas, prevê que os drones se tornarão onipresentes, e se destinarão a todo tipo de uso, do monitoramento de safras à pesquisa atmosférica, da exploração de petróleo ao acesso à internet. A empresa de pesquisa WinterGreen prevê que as vendas globais de aeronaves civis não tripuladas poderão chegar aos US$ 5 bilhões em 2021.
Atualmente, investidores e empresas de tecnologia, como Boeing , GE e Qualcomm, injetam dinheiro nas empresas de drones. A americana 3D Robotics (fundada por Chris Anderson, ex-jornalista desta revista) levantou US$ 50 milhões em fevereiro. A Ehang Guangshi Technology, outra startup chinesa da área de drones, conseguiu recentemente um financiamento de US$ 10 milhões.
Agora, no Vale do Silício, corre o boato de que a DJI busca recursos externos. Acredita-se que em 2014 a companhia tenha registrado um faturamento de US$ 500 milhões (ela não confirma), e é possível que esteja prestes a se tornar a primeira fabricante de drones de consumo a atingir vendas anuais de US$ 1 bilhão.
Por outro lado, aumentarão também os problemas. À medida que as vendas das fabricantes de drones crescerem, também crescerão as expectativas de bons serviços por parte dos seus consumidores. No site da DJI, os usuários se queixam de que uma empresa das suas dimensões deveria investir mais nessa área: “Tente ligar para ela … será tratado como um incômodo”, escreve um deles. Outro risco é uma regulamentação exagerada. Em janeiro, um drone Phantom caiu no gramado da Casa Branca em Washington; em resposta, a DJI tratou de fazer uma atualização do microprograma dos seus drones para incluir novas “zonas de proibição de voo”, a fim de evitar o risco de uma restrição total. Embora a Administração Federal da Aviação dos EUA pretenda abrandar as restrições relativas aos drones, estes ainda terão de permanecer sob a vigilância dos seus operadores humanos e voar somente de dia.
O potencial do setor de drones para uso civil é tamanho que a DJI enfrentará um número crescente de concorrentes, da China e de fora. A companhia afirma que tem uma vantagem tecnológica, incluindo dezenas de milhões de horas de voo que as recém-chegadas terão dificuldade de superar. Ela zomba da ideia de que as gigantes da Defesa que fabricam drones para as Forças Armadas americanas queiram se beneficiar das vantagens do seu empreendimento: sim, elas são tecnologicamente avançadas, afirma Andy Pan da DJI, mas “levam de cinco a seis anos para lançar um novo modelo, enquanto nós levamos de cinco a seis meses”.
Falando do Phantom 2 Vision, em janeiro de 2014, o New York Times escreveu que há apenas cinco anos esse equipamento “pareceria uma engenhoca de filme de ficção científica ou um equipamento de vigilância usado por um superespião”. O fato de que esse modelo hoje tenha se tornado obsoleto demonstra a rapidez da evolução do setor.
O Estado de S. Paulo – SP