Por Adriana Mattos | A rede de móveis Mobly concluiu a operação de compra e assumiu o controle da Tok&Stok na última sexta-feira (8), com um cenário operacional de consumo de caixa em crescimento e perda de patrimônio líquido, mostra o balanço de janeiro a setembro.
Apesar disso, o prejuízo operacional tem diminuído na Mobly, e as vendas começaram bem o quarto trimestre, o que pode ser favorável para a geração de caixa, se as duas empresas entrarem nos trilhos daqui para frente.
Ontem, após a divulgação do balanço do terceiro trimestre pela manhã, a ação fechou o dia em alta de 5,13%. a R$ 2,05, num cenário de ânimo. No ano, o papel cai 22,6%.
No começo de novembro, a linha de frente da Mobly comemorou, em rede social, recorde de receita mensal. Antes disso, pelos dados do terceiro trimestre, a venda líquida avançou 22%, para R$ 151 milhões. O prejuízo recuou 7,7% de julho a setembro, para R$ 22,4 milhões, e no ano, caiu 8%. De forma acumulada, porém, são quase R$ 685 milhões em perdas na Mobly, que teve a sua abertura de capital em 2021. O patrimônio líquido caiu 12% no terceiro trimestre frente ao fim de 2023.
Juros novamente em patamares mais altos não ajudam negócios dependentes de crédito, mas na lista de pontos de atenção do mercado estão a unificação das culturas das redes, a integração dos sistemas de tecnologia e, principalmente, a gestão da logística das cadeias, questão crucial do projeto nos próximos meses.
O comando precisa montar um negócio eficiente sem que uma empresa canibalize a outra. O Valor apurou que, ontem, já houve contato na linha de frente da Mobly com a equipe da Tok&Stok, marcando um início de processo de integração e tentativa de virada conjunta de resultados.
A ideia é que as duas empresas atuem com focos diferentes e mantenham seus próprios portfólios de mercadorias, dizem funcionários que estiveram em reunião com a Mobly, de forma a evitar a canibalização das marcas.
A integração se dará, por exemplo, no braço de distribuição, na compra de determinadas mercadorias em comum da indústria e nas despesas de escritório (“back office”). Hoje, a empresa terá teleconferência com analistas para comentar os números do trimestre.
No total, são 67 lojas somadas e R$ 1,6 bilhão em receita anual das duas marcas.
A Mobly diz, no material de resultados publicado ontem, que há a expectativa de “possíveis sinergias significativas para impulsionar a geração de caixa”, resultando num adicional de caixa anual de R$ 80 milhões a R$ 135 milhões, após a aquisição da Tok&Stok.
Para efeito de comparação, isoladamente, a Mobly registrou quase R$ 132 milhões em consumo de caixa no ano até setembro – 33% acima do ano anterior. Desta soma, R$ 75 milhões foram consumidos na operação, um recuo de 37%.
Apesar da queda nessa ponta do consumo, no fim de setembro a varejista tinha em caixa final e equivalentes cerca de R$ 21 milhões, redução de 86% frente a 2023.
Esses números da Mobly ainda não consideram o desempenho da Tok&Stok, que deve ser publicado no balanço geral do quarto trimestre. Já é sabido, no entanto, que a Tok&Stok ainda dá prejuízo contábil, mas geraria caixa, segundo declarações recentes da família Dubrule, ex-controladora.
Por meio de fundos (antes nas mãos da gestora Carlyle), a gestora SPX era a sócia majoritária da Tok&Stok, com cerca de 60% do negócio, e os Dubrule, com 40%. A família era contrária à venda da rede. Com o fechamento da transação, os Dubrule têm que definir e comunicar oficialmente, nos próximos dias, se aceitam os termos da proposta.
No acordo fechado, na prática, a SPX trocou os 60% na Tok&Stok por 12% da nova empresa combinada. Pela relação de troca inicial, acionistas da Mobly ficam com 88% e a SPX com os 12%, mais um bônus de subscrição de meia ação para cada papel, e, com isso, poderão adicionar mais 6% da empresa entre o segundo e o terceiro ano após o acordo, ao preço da ação de R$ 9. O papel da Mobly hoje vale R$ 2,05.
A Justiça de São Paulo homologou, no último dia 8, o plano de recuperação da Tok&Stok, que envolve R$ 399 milhões em dívidas com bancos com vencimento em 2029. No acordo, os bancos têm o direito de converter a dívida em ações da Mobly a qualquer momento até 2029, ao preço mais alto entre R$ 9 por ação (ajustado a CDI mais 2% ao ano) ou o de mercado. Há carência para pagamento dos juros de um ano.
Ainda em termos de endividamento, a Mobly tem uma situação mais confortável: eram dívidas de R$ 16,1 milhões em 30 de setembro (R$ 36 milhões no fim de 2023), para um Ebitda negativo (que ajuda a reduzir a alavancagem) de quase R$ 6 milhões de julho a setembro. Eram R$ 10 milhões negativos um ano antes.
Há um aumento de capital já aprovado pela Mobly no fim de outubro, que deve ajudar nesse processo de reorganização. Têm que entrar, no mínimo, R$ 55,8 milhões e, no máximo, R$ 230,6 milhões, que vão para o montante de caixa final que tem sido absorvido pela operação. Ainda entram no balanço R$ 500 milhões da emissão de debêntures conversíveis em ações ordinárias (da espécie quirografária), para colocação privada, em série única. Esse dinheiro vai para a gestão do negócio.
Procurada, a empresa não se manifestou.
Fonte: Valor Econômico