Por Fernanda Guimarães e Adriana Mattos | O fundo americano LCatterton contratou a Vinci para buscar um comprador para a rede supermercadista St. Marché, apurou o Valor com fontes próximas da transação, que falaram na condição de anonimato.
A negociação envolve o controle da varejista, relativos aos 70% do capital que o fundo tem na companhia. Os sócios fundadores Bernardo Ouro Preto e Vitor Leal, com cerca de 20%, devem permanecer no negócio.
Essa não é a primeira vez a Catterton tenta vender um ativo e há alguns anos, por exemplo, chegou a tentar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), mas teve os planos frustrados com o aumento da volatilidade que fechou a janela para estreantes na B3. Segundo uma fonte, sem visualizar uma janela à frente, optou tem estruturar um processo de venda via um M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês). Do lado da Catterton, existe ainda pressão para a venda, visto que o fundo se aproxima do fim do prazo. A LCattertton investiu no St. Marché em 2016.
Segundo uma fonte próxima à negociação, o St.Marché manteve conversas com investidores após a tentativa de abertura de capital, mas avaliou naquele momento que havia crescimento a ser capturado antes de engatar um processo de venda. De lá para cá saiu de cerca de 20 lojas para mais de 30 e viu sua receita aumentar de R$ 800 milhões para hoje se aproximar em R$ 1,4 bilhão, em termos anualizados. “As lojas estão indo bem e as novas lojas amadurecendo”, disse o interlocutor, que falou na condição de anonimato. Ele lembra que a companhia, mesmo sem conseguir realizar seu IPO, manteve toda a estrutura de governança, incluindo a publicação trimestral de resultados.
Ainda não está fechado se a transação será apenas uma venda secundária, para a saída do Catterton, ou se poderá envolver uma tranche primária, ou seja, com recursos ingressando no caixa da empresa. “Essas discussões estão em aberto”, disse uma das fontes ao Valor. As conversas ainda estão em fase preliminar, mas o racional é de que o ativo atraia interesses de outros private equities (que compram participação em empresas), visto que a tese do supermercadista é de crescimento. “A visão da companhia é de que é possível chegar em 100 lojas”, disse uma das fontes. No entanto, o interesse também surgiu de supermercadistas com interesse em ingressar em São Paulo.
Uma fonte disse que o fundo busca para o ativo um valor aproximado de uma vez a venda anual da rede, que, em 2023, fechou o ano com quase R$ 1,1 bilhão em receita líquida, aumento de 15% frente ao calendário anterior, segundo balanço publicado pelo grupo. No entanto, as empresas listadas negociam, em média, com esse indicador em 0,5 vez. Em 2023, a empresa ainda dava prejuízo de R$ 62 milhões, frente a perda de R$ 66 milhões em 2022.
É possível que um eventual comprador também tenha que injetar recursos na empresa, dada a necessidade de acelerar crescimento e manter alavancagem sobre controle após recente alongamento de passivos. Anos atrás, a companhia passou por uma reestruturação para melhorar a estrutura de capital. Ao longo dos últimos meses, a empresa tentou tomar medidas para melhorar a gestão de caixa, e ainda negociou uma ampliação do prazo da dívida de curto prazo com bancos, para que mantivesse investimentos.
Eram pouco mais de R$ 300 milhões em empréstimos e em debêntures emitidas em 2023, e, com a pressão dos juros mais elevados, as despesas financeiras da rede cresceram 18% em 2023. Mas a relação entre dívida e lucro operacional melhorou no ano.
O grupo varejista tem prejuízos acumulados de R$ 339 milhões ao fim de 2023, além de patrimônio líquido negativo (atribuído aos acionistas controladores) de R$ 192 milhões, e eram R$ 130 milhões em PL negativo um ano antes.
Na visão de alguns gestores, nesse mercado de varejo alimentar, ainda há cautela por parte dos fundos de investimento pelo nível de risco atrelado à operação, o que acaba dificultando negociações com esses ativos. O histórico da rede varejista, que viveu alguns altos e baixos recentes, com o Catterton ainda como sócio, também pesa nessas negociações, apesar da força da marca no segmento premium.
Procurados, o St. Marché ainda não se manifestou. Vinci e LCatterton também não comentaram.
Fonte: Valor Econômico