Por Lucia Helena Camargo | Os shopping centers estão empenhados em se tornarem cada vez mais sustentáveis e em reduzir as emissões de carbono de suas operações. As ações vão desde a compra de eletricidade exclusivamente gerada por fontes renováveis ao investimento em um parque solar próprio, além de manejo e compostagem de resíduos da praça de alimentação com produção de hortaliças orgânicas, utilização de água de reúso e outras diferentes iniciativas de reciclagem.
Um dos pioneiros em projetos de sustentabilidade é o Shopping Eldorado, inaugurado em 1981 na zona oeste de São Paulo, que chega aos 43 anos como o segundo centro de compras mais antigo da cidade, atrás apenas do Iguatemi, que abriu as portas em 1966. “O telhado verde do Eldorado foi construído em 2012, pensado para dar um destino ecologicamente correto ao lixo orgânico gerado na praça de alimentação, marcando o pioneirismo do shopping em relação à sustentabilidade”, afirma Bettina Quinteiro, superintendente do Shopping Eldorado.
As 140 toneladas mensais de sobras de alimentos são processadas na usina de compostagem, e transformadas em adubo para a plantação de 30 tipos de vegetais orgânicos, distribuídos aos funcionários a cada colheita. Os 6 mil m² de plantações rendem 40 mil hortaliças por ano.
“A iniciativa reduziu significativamente a quantidade de resíduos enviados ao aterro sanitário e as emissões de carbono na atmosfera, que seriam geradas pelo transporte do material até os aterros. E a horta ainda ganhou a importante função de amenizar a temperatura interna do empreendimento, reduzindo o consumo de energia e de água utilizada nos equipamentos de refrigeração”, informa Quinteiro. O terraço pode ser visitado pelo público, mediante agendamento.
O shopping também encaminha para a reciclagem eletrônicos, bitucas de cigarro, além de papelão, plástico, alumínio e vidro, totalizando 1 mil toneladas por ano. Ainda trata o seu esgoto em estação própria, produzindo cerca de 90 mil litros de água de reúso diariamente, o que representa 40% do total utilizado pela operação.
Na zona leste da capital paulista, uma das áreas menos arborizadas cidade, o Shopping Penha se esforça para ser mais verde. De acordo com Julia Lima, gerente de marketing do empreendimento, o uso de energia comprada de fontes eólica, solar e biomassa permitiu ao centro de compras zerar suas emissões de carbono, que eram da ordem de 302 toneladas anuais.
Já o Praça da Moça, em Diadema, com uso de energia renovável, coleta seletiva de recicláveis e reúso da água, em quatro anos (2020 a 2024) reduziu as emissões em 1,6 mil tCO2, equivalentes ao plantio de 11 mil árvores, segundo cálculos da Raízen.
O Village Mall, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, foi ainda mais longe: em vez de comprar eletricidade de fonte limpa no mercado livre, decidiu gerar a própria energia. E desde 2019 produz 100% da energia que consome. O parque solar que provê a eletricidade fica em Itacarambi (MG), e foi construído por meio de uma parceria da administradora do shopping, a Multiplan, com a empresa portuguesa de distribuição de energia EDP, contando com aproximadamente 25 mil placas fotovoltaicas, que produzem cerca de 8,3 MWP. “O shopping consome por volta de 2 MW por mês e economiza até R$ 5,5 milhões anuais na conta de luz, evitando emissões de cerca de cerca de 18 mil toneladas de CO2 ”, declara Vander Giordano, vice-presidente institucional da Multiplan. “Todos os 20 shoppings administrados por nós usam 100% de energia proveniente de fontes renováveis”, afirma.
A Ancar Ivanhoe passa essa mesma diretriz aos 24 centros de compras que administra: que toda a energia venha de fontes renováveis. Além disso, estabeleceu a meta de redução de 5% no consumo de água em todos os shoppings da rede nos próximos seis anos. A administradora acaba de ingressar no Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil.
“O objetivo é mobilizar a comunidade empresarial em torno da adoção de boas práticas de negócios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção”, diz Alexandre Sattos, gerente de ESG da companhia. Entre os destaques está o Shopping Parque das Bandeiras, em Campinas, que este ano alcançou a marca de 90% de resíduos sólidos reciclados; e a decoração de Natal totalmente feita em papel do Shopping Pátio Paulista, em 2022, que no ano seguinte encaminhou o material para a reciclagem, convertendo o dinheiro em doação de cadernos para a ONG Casa do Zezinho.
Considerado o maior outlet da América do Sul, com mais de 51 mil m² de área, o Catarina Fashion Outlet, em São Roque (SP), conquistou a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (Leed), pela performance sustentável na operação. Com corredores ao ar livre, não consome energia para iluminar as áreas comuns. Além disso, reduziu em 56% o uso de água no último ano e envia para a reciclagem 335 toneladas de resíduos anuais, volume que representa 35% da geração, com meta para obter certificação lixo zero até o final de 2024. Na área social, o shopping mantém o programa Qualifica São Roque, para capacitação de mão-de-obra local.
“A sustentabilidade é questão tão importante quanto mix, preço, serviços e entretenimento”, diz Walter Borghi, diretor de operações da JHSF, administradora do shopping.
Fonte: Valor Econômico