Por Benny Cohen e Thiago Bonna | O CEO do grupo Supernosso, Euler Fuad Nejm, falou em entrevista exclusiva ao jornalista Benny Cohen, no EM Minas, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal Uai, sobre como a taxa de juros afeta o mercado varejista, rumores surgidos após o Carrefour encerrar lojas de bairro arrendadas para o Supernosso, os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre o abastecimento de produtos no mercado mineiro, e o desempenho do grupo em 2024. “Foram os melhores cinco meses dos últimos anos em termos de evolução de venda, em termos de resultado”, afirmou.
Fuad Nejm comentou ainda a automatização de vendas e os resultados no comércio on-line no setor supermercadista. “Hoje a venda pelo e-commerce, pelo canal digital, representa 10%. Isso é muito representativo. O mercado de supermercados de modo geral é 2% e nós estamos com 10% de participação”, comemorou. Com mais de 80 anos de atuação, o grupo tem sobre o seu controle, além da rede Supernosso, unidades do atacarejo Apoio Mineiro, a distribuidora DecMinas, que leva produtos para todos os 853 municípios mineiros, e a Raro Indústria, que trabalha com carnes e panificação. Ao todo, o grupo emprega diretamente cerca de 10 mil pessoas.
Como é o grupo Supernosso? Quantas empresas, lojas e empregados?
O grupo Supernosso foi fundado há 80 anos pelo meu pai. Eu já trabalho há mais de 50, mas não vou falar precisamente senão eu confesso a idade. Começou como um armazém de secos e molhados no Bairro Santa Tereza. Depois, meu pai foi para a Rua Guaicurus, onde eu comecei a trabalhar. Aos 8 anos de idade, levava a chave para abrir a loja. Aos 12, passei a ter carteira assinada. Aos 15, meu pai me emancipou, passei a ter a responsabilidade da maioridade… e vai passando e estamos até hoje. O Supernosso em si foi uma criação minha, que fundei depois que meu pai faleceu. O grupo Supernosso são o Supernosso Supermercados, que tem 45 lojas hoje, todas na região metropolitana; 22 lojas do atacarejo Apoio Mineiro; a distribuidora DecMinas, que distribui produtos de supermercados para todos os 853 municípios de Minas. Nós temos ainda mais de 600 vendedores e a Raro Indústria, que são duas plantas, uma de carnes, fatiamentos de embutidos, e outra de panificação. A gente fabrica para nós mesmos, o principal cliente, e fazemos trabalhos para terceiros também. No total são em torno de 10 mil colaboradores diretos. Os indiretos é impossível de calcular porque tem gente no campo plantando, transportadora… movimenta toda a economia, como postos de gasolina, lanchonetes e indústrias fabricando. É uma cadeia produtiva bastante interessante.
Começou com seu pai e agora você está passando para seus filhos… agora não, porque Rafaela e Rodolfo já estão há alguns anos na empresa, né?
Eu fui mais complacente que o meu pai. O Rodolfo, aos 13, eu já levava ele para cheirar armazém. Ele está com 40 e já cuida de toda a área comercial, marketing e operações. É sócio também, assim como a Rafaela. Ela está voltando agora para o marketing, produtos e relações públicas do grupo.
Recentemente o Carrefour decidiu encerrar as lojas de bairro que estavam arrendadas para o Supernosso. Houve muitos boatos nas redes sociais de que haveria demissão em massa, que o Supernosso estava falindo. O que há de verdades e o que há de mentiras nessas histórias?
O Supernosso é uma empresa sólida, econômica e financeiramente. Empresa em franco crescimento. Fizemos uma parceria inédita com o grupo Carrefour. Digo inédita, porque um grupo com a marca global submeter-se a uma marca regional é uma coisa que é inédita no mundo. Inclusive, chancela a minha marca Supernosso e a nossa gestão e, como o contrato tinha vencimento, nós não renovamos, mas foi interessante enquanto durou. Eram 15 lojas que o Carrefour não quis absorvê-las de volta e, na verdade, devolveu aos proprietários os imóveis.
Esses empregados todos do Supernosso que atuavam nessas lojas foram deslocados para outras unidades? Como é que foi isso?
Acredito que o novo operador dessas lojas vai absorver os funcionários, mas eu mesmo deixei em aberto para todos os funcionários que a gente tem condições de absorvê-los de imediato, tamanha a expansão que a gente está projetando para os próximos anos.
E como foi essa experiência de atuar com uma outra rede de supermercados, do ponto de vista da logística? Foi positivo?
Foi muito intenso e foi interessante em todos os aspectos: a consolidação da marca, nossa gestão, aprendizado com o próprio Carrefour, que é uma empresa multinacional de processos, e passamos por diligência para fazer essa parceria, que eu achei bastante interessante. Aprendi muito e também eles aprenderam muito conosco, porque é uma administração regional. O cliente tem particularidades, ele tem preferência por marcas regionais. O mineiro tem muito bairrismo. Foi muito interessante para ambas as partes.
O senhor falou no bairrismo do mineiro. Como é o consumidor de Minas Gerais?
Fui feliz pela escolha da marca Supernosso, que dá um sentimento de pertencimento, e o mineiro é isso mesmo. Prefere comprar de casa, se sentir em casa, e a gente procura dar preferência a marcas mineiras, as indústrias mineiras, até para aquisição de produtos. Uma indústria como a Unilever, da qual nós somos distribuidores e tem fábrica em São Paulo e fábrica em Minas, mas a gente prefere comprar por Minas, gerando emprego, receitas, impostos em Minas. É uma cadeia interessante que a gente preza muito por ser mineiro também.
E 2024 está sendo um ano bom?
Para nós, do grupo Supernosso, foi o melhor quadrimestre até então. Agora sai o resultado de maio, que também foi muito interessante, quando nós comemoramos o aniversário do Apoio Mineiro. Foram os melhores cinco meses dos últimos anos em termos de evolução de venda, em termos de resultado. Em todos os segmentos que atuamos, o Supernosso crescendo 15% nas mesmas lojas, o Apoio Mineiro crescendo em torno de 10%… quer dizer, crescimento acima da inflação. A distribuidora DecMinas crescendo 12% e a Indústria Raro, de vento em popa, crescendo também, fazendo serviços para terceiros. A indústria tem o selo de serviço de inspeção federal e já fizemos trabalho inclusive para a BRF, de embalar os embutidos, como presunto e mussarela. É uma indústria que dá prazer de ser mineiro.
A tragédia no Rio Grande do Sul teve algum impacto grave para o setor supermercadista no fornecimento de produtos?
A gente lamenta. É muito triste o ocorrido, mas até então não tivemos nenhum problema de abastecimento. Teve muita procura de arroz. Tudo é questão de oferta e demanda, oferta e procura. Os preços do arroz aumentaram, mas a produção de arroz já tinha sido colhida. Tem estoque suficiente para abastecer normalmente. Além disso, o governo também está propondo, me parece que já fez até a importação. Vejo também bairrismo do Brasil, de modo geral, um movimento para preferir as marcas do Rio Grande do Sul. E essa solidariedade que tem demonstrado o brasileiro em todos os segmentos é muito positiva.
Você considera que o país está passando por um bom momento? O ministro Fernando Haddad e o presidente Lula estão indo bem no que se refere ao segmento dos supermercadistas?
A gente percebe pleno emprego. Tenho tido dificuldades de contratação, cheguei a ter 500 vagas em aberto, hoje deve ter metade, 250 vagas em aberto, e não é um problema localizado em Minas Gerais, é um problema no Brasil. Todo segmento tem passado dificuldade de pessoas, principalmente para operação, primeiro emprego, para pessoas de empregos mais simples…
…e isso se reflete no desempenho das lojas? Os indicadores mostram também que a renda está se mantendo. O consumo está funcionando bem?
Esse pleno emprego acaba dificultando a gente a treinar pessoas, para elas ficarem, porque o turnover cresce, tamanha as vagas disponíveis no mercado. É difícil contratar e, quando você contrata, tem que treinar e às vezes a pessoa não dá sequência a esse trabalho. Acaba trocando por pouca coisa, por pouca diferença, acaba procurando uma outra oportunidade. Em termos de salário e até de trabalho, porque o supermercado trabalha também aos finais de semana, feriado, mesmo que em forma de escala, mas tem todo esse trabalho. A gente perde funcionário até para a construção civil. A rotatividade tem sido alta. A gente tem criado muitas atividades em recursos humanos, na gestão de pessoas, para reter esse pessoal: premiação, treinamento… tenho investido muito para isso.
No início do governo atual, havia uma expectativa de que a taxa de juros fosse caindo numa velocidade que, na verdade, não está acontecendo. Nos Estados Unidos a inflação não baixou e isso deu uma freada na taxa de juros aqui. Está baixando, mas não aparentemente na velocidade com que desejava o mercado. Isso está afetando o seu segmento?
A taxa, como você bem disse, vem baixando, mas não a ponto de movimentar tanto a economia. No nosso setor, que as margens de lucros são muito estreitas, a distância entre o lucro e o prejuízo é mínima. O custo do dinheiro sendo alto não permite erros. Temos que ter uma gestão bastante enxuta, efetiva, porque não pode faltar produto em gôndola. Tem esses problemas localizados de logística de abastecimento, a exemplo do Rio Grande do Sul, então, temos que formar estoque de segurança. E o custo do dinheiro ainda está alto perto do que já foi. A gente percebe o trabalho dos economistas do Executivo para melhorar, mas uma fala mal colocada compromete, pelo menos no curto prazo, em termos de ações, dólar, isso tudo gera uma insegurança de mercado. Nós dependemos de muitas commodities agrícolas, principalmente. Então, tudo tem preço de dólar para vender, preço de dólar no mercado e a indústria também, as multinacionais, de modo geral, têm que reportar em moeda forte. Acaba que isso tudo pode, no médio, longo prazo, alterar os preços.
O câmbio do dólar rege os preços mesmo nacionais?
Não de imediato, mas nessas indústrias multinacionais, acaba afetando.
Qual seria uma taxa de juros ideal?
Se nós estamos falando de um custo hoje de 12%, em torno disso, e uma inflação de cinco, os juros reais estão com 7%. É uma taxa alta. A gente imagina um custo viável de juros, fora a inflação, até 4% sendo viável.
Quais são, hoje, os maiores desafios desse setor varejista neste cenário econômico?
O maior tem sido pessoas. Acho que sempre é o problema do empresário. A gente quer investir, mas pessoas qualificadas ou pessoas de trabalhos mais simples sempre é o principal entrave. É um tripé, são recursos humanos, recursos financeiros e as informações. Esse tripé é necessário para parar em pé qualquer investimento.
A reforma tributária vai favorecer o setor varejista?
Acredito muito na reforma tributária. Agrada, principalmente se forem excluídos os impostos de cesta básica. A associação tem feito um trabalho bastante importante e se tiver a isenção da cesta básica, acho que isso é muito bom para o Brasil.
Dentro da reforma tributária, há algum aspecto que ainda vai exigir do setor varejista um empenho no Congresso?
A gente percebe que todos os setores, os principais setores da economia, têm participado da reforma. Tem sido democrática, mas isso faz com que até atrase. O que eu ouço é que até 2032 ela vai estar em plena atividade. Acredito muito na dificuldade estadual. Cada estado tem uma legislação interna de ICMS. Isso é um complicador para operacionalizar. A DecMinas tem uma filial na Bahia e os impostos são totalmente diferentes. Por falar nisso, Minas Gerais é o estado mais voraz em termos tributários. A carga é alta. É um estado que tem muitos problemas e precisa da arrecadação, a gente entende isso, e acredito que o governo atual tem feito um bom trabalho de modo geral com as ferramentas que tem.
Hoje a gente vai aos supermercados e estamos vendo caixa de atendimento automático e temos a venda pela internet. Como que o Supernosso está nesse segmento?
Nós temos uma característica inovadora. Sempre gosto de estar na vanguarda e acredito muito é na ferramenta que a tecnologia traz. A gente tem que saber utilizá-la. Apesar de entender pouco, invisto muito nesta área. Já temos lojas com self check-out e as visitas técnicas, que todo ano fazemos à NRF, que é uma feira nos Estados Unidos de tecnologia, o que a gente percebe é que o que você via em um ano, demorava 10 anos, cinco anos, para chegar aqui. Agora, a coisa é muito rápida. O ciclo de mudanças tem estreitado. É ótimo isso, agora, a gente tem de medir o custo, porque a tecnologia depois de instalada e escalada, tende a ficar mais acessível.
E o e-commerce? A compra pelo site tem funcionado bem?
O Supernosso foi pioneiro em e-commerce de lojas premium, lojas gourmet. Hoje, a venda pelo e-commerce, pelo canal digital, representa 10%. Isso é muito representativo. O mercado de modo geral, o mercado de supermercados, é de 2% e nós estamos com 10% de participação na venda digital. Atribuo isso ao pioneirismo, investimento…
Como funciona essa escolha na unidade do supermercado para atender um cliente que está a alguns quilômetros de distância?
Isso é um grande desafio, que nós viemos minimizando as expectativas, as diferenças. Às vezes, o consumidor pede um mamão, mas ele está imaginando consumir no dia seguinte, e a gente pode entregar um mamão mais verde. A gente, então, acaba dando a opção para o cliente de janelas de entrega. Às vezes, a pessoa está trabalhando durante o dia e quer receber depois das 18h, então, temos essa janela de entrega para poder atendê-lo.
Como vão ser os supermercados daqui 10, 15 anos?
É uma área necessária para a sociedade, para a comunidade, para o ser humano. É lógico que a tecnologia, as alternativas de abastecimento, vão se ampliando, mas a loja física, que muita gente imaginava que ia acabar, mas não é o caso. A loja física tem a importância e a do digital vem crescendo. Na pandemia foi um boom, nós surfamos esse momento, mas nós estamos dando continuidade ao crescimento do digital. Não paramos de investir em tecnologia para melhor atender a experiência de compra do consumidor para ele ter a mesma sensação da loja no e-commerce.
Queria te perguntar também sobre um outro aspecto do grupo, que é o Be Honest. Explica melhor o que é essa área de atuação?
O Be Honest é uma startup que o grupo Supernosso adquiriu o controle e a gente está muito feliz com a operação. Hoje são mais de 250 pontos de venda. São minimercados abertos dentro de condomínios, principalmente, prédios de salas de escritórios que tenham movimentação interessante. A gente mensura, naquele condomínio, o tanto que tem de demanda para esse tipo de apelo. Em uma demanda de urgência, por exemplo, como quando você está recebendo um convidado na sua casa e foi pego de surpresa. É uma coisa de momento. Tem vários tamanhos, inclusive containers. Tem lugares que você precisa da identificação como o condômino para poder entrar. Nesses temos mais controle.
Há um registro alto de pessoas que levam produtos e não pagam?
As câmeras inibem, mas é mais alto do que o furto de loja, porém, isso tem minimizado e conscientizado da importância do serviço que tem que é, e tem diminuído essas perdas. Vai criando uma cultura. Para nós, é um fortalecimento da marca. Temos Supernosso Be Honest em Belo Horizonte, Goiânia, Brasília e fazemos parcerias com outros supermercados regionais, locais.
Fonte: Estado de Minas