Por Ricardo Ivanov | Pegar um avião e desafiar o mercado externo em seu próprio solo é uma missão que exige jogo de cintura. É o que descrevem ao Valor as franquias que se internacionalizaram. “A adaptação do modelo de negócio e do produto ou serviço é essencial para o sucesso do empreendimento. Questões culturais, mercadológicas e de concorrência precisam ser analisadas a fundo, além, claro, de grandes investimentos”, diz Natan Baril, diretor internacional da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Baril ressalta ainda a importância de atentar para os aspectos legais, regulatórios e fiscais. O estudo mais recente da entidade sobre internacionalização, divulgado no ano passado, mostra avanço de 16% no número de franquias brasileiras no exterior em 2022, na comparação com 2021 – um total de 213 marcas em 126 países. O segmento de moda é um dos que mais se destacam fora do Brasil, com mais de 40 marcas internacionalizadas, junto com saúde, beleza e bem-estar.
Os Estados Unidos é o país que mais atrai franquias brasileiras, como a mais internacionalizada de todas atualmente, a iGUi, fabricante de piscinas, que carimbou seu primeiro passaporte em 2005, para a Argentina. Geralmente a trilha se inicia nos países próximos ou com cultura e língua semelhante, como Portugal.
“Em 2008 fizemos uma fábrica em Portugal e expandimos nossos negócios para a Europa. Hoje, mercados como EUA, França e Austrália são interessantes pelo volume que representam”, diz Filipe Sisson, fundador e CEO da marca, que atualmente, está em 54 países. “Mesmo com toda nossa experiência internacional, continua sendo um constante aprendizado, por conta de fatores culturais, logísticos e econômicos. Não podemos rejeitar nenhum modelo de negócio, mas a distribuição é a mais frequente pela simplicidade da relação comercial”, afirma.
Os benefícios e isenções fiscais para exportadores acabam aumentando a lucratividade dessas franquias que se apoiam na distribuição. “Temos um produto ecologicamente correto, de fácil e rápida instalação e um sistema de filtragem único que é considerado uma verdadeira central de tratamento de água”, diz Sison sobre as vantagens que acredita colocarem a empresa em boas condições para as batalhas comerciais.
A Oakberry é outra desbravadora dos sete mares, justamente com o fruto brasileiro saudável e inimitável: o açaí. Ela oferece no Brasil um modelo de franquia a partir de R$ 150 mil, o que nos EUA, onde tem 200 lojas – querem aumentar esse número – necessitaria de um investimento entre US$ 150 mil e US$ 320 mil. O fundador e CEO, o paulistano Georgios Frangulis, inclusive, morava na Califórnia quando percebeu a aderência do fruto a tendências por superalimentos e saúde no mercado local. A empresa nasceu no Brasil em 2016, mas já tinha a visão de ser uma marca global.
“Quando nos internacionalizamos, entre 2018 e 2019, a fórmula já estava pronta. Atualmente, temos mais de 700 lojas no mundo, sendo 50% no exterior, em lugares como EUA, Emirados Árabes, França, México, Espanha, Reino Unido”, afirma Bruno Cardinali, CMO da Oakberry. Com isso, em 2023, 70% do faturamento da marca vem da operação internacional – no mesmo ano, em dezembro, receberam aporte de R$ 325 milhões do BTG Pactual para acelerar essa expansão. A adaptação a sabores locais se dá como no Oriente Médio, em que fazem especialmente para eles um topping de tâmaras, muito popular por lá – a Oakberry deixa 20% dessas coberturas, fora das tradicionais, abertas para preferências do mercado local.
Interpretar tendências é algo que o mercado da moda tem de ter em seu DNA para sobreviver, e é o que a Arezzo faz ao desfilar pelo mercado internacional. “Isso e despertar desejos por meio de uma plataforma de marcas com atuação nacional e internacional, que é suportada por uma visão globalizada de varejo. Este era um grande sonho que se tornou realidade com três marcas: Arezzo, Schutz e Alexandre Birman, além da recente Paris Texas, após aquisição”, afirma Luciana Wodzik, CEO da business unit de acessórios e sapatos femininos da Arezzo&Co.
“Nossa jornada no exterior começou em 2012, com a entrada da Schutz no mercado americano. Nestes 12 anos de presença fora do Brasil, conseguimos ganhar know-how importante para fortalecer o DNA de nossas marcas icônicas para outros mercados. Identificamos diversos padrões de consumo que guiam nossa oferta de produtos pra atender a demanda local com agilidade, adaptabilidade e proteção de rentabilidade. Atualmente, das 10 lojas internacionais que temos, seis são franquias”.
No setor de saúde, beleza e bem-estar, a Emagrecentro está começando sua jornada para o exterior com a ideia de terminar os próximos 10 anos com 500 unidades internacionalizadas. Hoje, tem duas lojas nos EUA, uma na Espanha e outra no Paraguai. “Miramos Europa, América do Sul e Índia. A obesidade é uma dor atual mundial. Portanto, negócios que se propõem a auxiliar na questão apresentam alto potencial de escalabilidade”, diz o dr. Edson Ramuth.
Fonte: Valor Econômico