Por Adriana Mattos | Boa parte desses movimentos nas altas cúpulas refletem necessidade de reorganização das empresas, e de entregar resultados aos acionistas, em estruturas mais enxutas e num ambiente de maior cobrança do mercado.
Como informado nesta quinta-feira, a Americanas tirou da Casas Bahia o executivo Tiago Abate, profissional tarimbado, há duas décadas atuando na área de soluções financeiras para o varejo, com passagens pelo Santander, Unibanco e Citibank. Foi uma negociação que envolveu um valor garantido relevante, a ser pago independente do resultado a ser entregue por ele, segundo duas fontes consultadas.
Não é algo comum nesse mercado, em sua maioria, com acordos atrelados ao desempenho, mas para conseguir trazer nomes com maior credibilidade, num cenário ainda de instabilidade para a Americanas, foi preciso abrir a carteira e colocar na mesa valores fixos robustos.
“Pagaram mais de 50% de aumento, e precisaram negociar um ‘garantido’ porque não se tem ideia ainda de resultado. Eles têm que reconstruir a Americanas, precisam recompor o time, mas como garantir um variável assim? Fica difícil” diz uma pessoa a par das tratativas. Abate começa no cargo na segunda-feira (17).
A LTS Investments, empresa que administra os negócios de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, envolveu-se diretamente na negociação, apurou o Valor, e teve reunião o executivo. Procurada, a empresa disse que não irá fazer novos comentários sobre o assunto.
Abate foi um dos nomes que ganhou espaço no Santander após a troca de CEOs, em 2022, com a saída de Sergio Rial do cargo (Rial foi CEO da Americanas no início do turbilhão que afetou a rede), e a entrada de Mario Leão.
Abate foi nomeado diretor do banco no começo daquele ano, junto com um grupo de dez nomes de alto escalão do banco.
O executivo ficou oito meses na Casas Bahia, sendo três como estatutário, liderando a área de soluções financeiras da varejista, e tinha como foco de seu trabalho uma das peças do plano de retomada da Casas Bahia: o crescimento da companhia por meio de serviços financeiros.
A sua saída pegou de surpresa a Casas Bahia, que preferiu não cobrir o pacote colocado na mesa pela Americanas.
Mais impactos
Ainda na Americanas, está chegando Paulo Drago, ex-Carrefour, e que saiu do Lopes Supermercados após um ano e meio na empresa. Drago vai liderar a Hortifruti Natural da Terra (HNT), negócio que perdeu prioridade dentro da Americanas depois do início da crise financeira na varejista.
Até então, era Fabio Amorim que presidia a HNT, à frente da empresa no auge das turbulências que arrastaram a marca de supermercados para a crise da Americanas. Não há informação do destino de Amorim no comunicado da Americanas.
A HNT foi vendida por R$ 2,1 bilhões apenas um ano e meio antes do anúncio do baque contábil na rede.
As informações no setor são de que o negócio recebeu parcos investimentos no ano passado, e a HNT deve ser vendida pela Americanas pelo já acordado junto aos credores, em seu plano de recuperação judicial. Essa decisão não deve ter volta.
A Americanas teria dois anos para vender a HNT, e deve tentar melhores propostas nesse período, já que as ofertas de compra pelo negócio, abaixo de R$ 1 bilhão, não foram aceitas.
Efeito dominó no setor
Para já dar uma resposta ao mercado após a perda de Tiago Abate, e num momento em que a Casas Bahia busca uma retomada no resultado, a rede já comunicou a renúncia dele na semana passada, antes do comunicado da Americanas.
A Casas Bahia relatou a promoção de Vital Flores Leite, então diretor de crédito e cobrança, que ficava abaixo de Abate. Leite passa a liderar toda a área e deve reportar ao CEO da empresa, Renato Franklin.
Há uma percepção que Leite tem potencial para crescer, e que agora isso terá que ser acelerado, diz fonte.
Mais alterações
A mudança ocorre após a Casas Bahia trazer do Carrefour dois novos nomes em menos de um mês e meio, entre maio e junho.
O Carrefour é outra empresa do setor em plena reformulação de funções e revisão de estrutura.
Gustavo Pimenta veio do Carrefour em junho para ser diretor executivo do digital na Casas Bahia — ele esteve dois anos na varejista alimentar —, e Frédéric Gauthier, também da rede francesa, foi contratado como vice-presidente de operações para as lojas físicas da Casas Bahia.
Gauthier era diretor de operações de hipermercados no Carrefour, um modelo de loja que perde terreno na empresa e tem sido convertido em Atacadão. E tinha ideias diferentes sobre a operação de hipermercados, em relação ao comando do Carrefour, e pediu demissão em maio, como o Valor antecipou.
Na Casas Bahia, Gauthier entra na função após a saída de Marcelo Ubriaco, que foi diretor de operações da rede, e outro executivo experiente do varejo.
É bem provável que essas movimentações continuem, porque há uma safra grande de nomes de peso do setor de consumo na praça, após cortes e enxugamentos dos negócios passada a pandemia e a escalada dos juros, que fez diversas companhias passarem por um duro processo de reorganização.
Fonte: Valor Econômico