Por Adriana Mattos | No pacote de opções que a chinesa Temu está oferecendo ao consumidor, para começar a entrar na batalha pelo mercado brasileiro, já dá para compreender melhor o nível de agressividade da companhia.
A Temu é controlada pelo grupo Pinduoduo, terceira maior plataforma de serviços digitais da Ásia, atrás apenas da Taobao, do Alibaba, e do Douyin, dono do “Tik Tok da China”.
Logo de cara, considerando a aprovação no Brasil, na quarta-feira (5), da taxa de importação de 20% para produtos importados abaixo de US$ 50, que deve encarecer os envios, a empresa já põe em oferta mercadorias com preço final de R$ 1,99, e frete grátis em todos os produtos. É o mesmo patamar de preços na manhã dessa quinta-feira das “super ofertas” do AliExpress, do grupo chinês Alibaba.
Isso torna as condições muito competitivas, mesmo com os 20% e o ICMS de 17%. Todos os impostos têm que ser pagos pelo comprador, e não pela plataforma. Os 20% passarão a ser aplicados após a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No momento da compra, os “pop ups” de cupons que aparecem no aplicativo são visualmente muito parecidos com os da concorrentes Shopee, assim como as cores, em laranja, vermelho e branco, as mesmas tonalidades usadas pela Shopee em suas ações comerciais.
Na tarde dessa quinta-feira, nas simulações de compra feitas pelo Valor, a empresa está cobrando os 17% de ICMS, mas não os 20%. Mas só autoriza compras a partir de R$ 75 — abaixo disso, sugere elevar o gasto.
Nos compromissos que a Temu afirma que passa a ter com o consumidor brasileiro, em texto no aplicativo, ela fornecerá R$ 10 de crédito, direto na conta do cliente, em caso de envio atrasado (o que pode até superar o valor do item em si). E o dinheiro será adicionado ao saldo da carteira até 48 horas após a última data de entrega estimada.
A Temu irá trabalhar com os Correios, que é fonte frequente de reclamações de consumidores sobre atrasos nos sites das plataformas estrangeiras, além da empresa privada J&T Express.
A empresa ainda diz que oferecerá reembolso se a compra não tiver atualização no sistema por mais de 15 dias, mas, se o pedido, mesmo após a liberação do reembolso, chegar no cliente, ele pode ficar com o reembolso e o produto.
Os reembolsos podem demorar de 5 a 14 dias úteis, chegando a até 30 dias úteis, alerta a plataforma, a depender da instituição financeira que fez a intermediação da transação. Caso, após 90 dias, com o produto adquirido, o consumidor queira devolver, o frete de devolução é grátis na primeira compra.
Ainda foi lançada pela empresa uma “política de ajuste de preços em 30 dias”. É algo que seus rivais diretos, como Shopee, AliExpress e Shein, não têm.
Nesse caso, se a mercadoria comprada pelo consumidor tiver redução de preço 30 dias após a aquisição, a Temu irá depositar a diferença de preço na conta virtual. Itens em promoção podem não se qualificar para essa condição.
A empresa ainda conta que, em novembro de 2023, fechou uma parceria com a empresa HackerOne para criar um programa de recompensas “à comunidade de segurança cibernética”, que será dada caso seja descoberto por hackers no mercado alguma vulnerabilidade em sua segurança.
A chegada da empresa ainda ocorre de forma concomitante a mudanças em artigos da portaria que definiu regras para o programa Remessa Conforme, que ao qual a Temu aderiu dias atrás.
Foi flexibilizada a exigência de monitoramento de vendedores cadastrados nos sites das plataformas. Trata-se de um controle que colocava as plataformas no centro das cobranças de eventuais irregularidades nas importações.
Pela portaria 130/2023, de julho, era obrigatório o fornecimento de um documento oficial com detalhes da política de admissão e de monitoramento de lojistas no “app” e site das companhias. Mas, desde fevereiro, com uma nova portaria, a 140/2024, passou a ser necessária apenas declaração da própria empresa afirmando que possui programa de conformidade tributária e aduaneira, e que ela tem política de admissão de lojistas.
Indústrias e varejistas locais iniciaram contatos com a Receita Federal e Ministério da Fazenda, para entender a razão pela qual decidiu-se flexibilizar as regras.
Fonte: Valor Econômico