Por Wagner Matheus | Em 1995, em visita ao Rio de Janeiro para um evento internacional de moda, o estilista francês Hubert Givenchy disse não acreditar na entrada de marcas brasileiras no mercado europeu, principalmente, na França.
Quase duas décadas depois, marcas do Brasil têm conseguido superar a resistência histórica ao que não vem co m a etiqueta “fabriqué en France”.
Osklen, Farm, Água de Coco e Lenny Niemeyer são algumas das marcas brasileira encontradas ao lado de grifes internacionais em cadeias multimarcas renomadas, além de ganharem espaço em lojas próprias ou de departamento na capital mundial da moda.
Segundo a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção), a exportação brasileira de têxteis e confeccionados para a União Europeia foi de US$ 68 milhões em 2023, apresentando crescimento de 9,6% em relação a 2019, último ano antes da pandemia. A França representou 27,9% do total, chegando a quase US$ 19 milhões, 56% mais do que em 2019.
Os principais produtos exportados pelo setor para a França são os fios de seda (US$ 13,4 milhões) e os produtos de vestuário (US$ 3,1 milhões), com destaque para moda praia (US$ 453 mil) e itens de moda casual, como calças e bermudas (US$ 426 mil), casacos (US$ 418 mil), vestidos e saias (US$ 351 mil).
Outro destaque, informa a Abit, é o perfil dos produtos destinados à França, normalmente de maior valor agregado. Em 2023, o preço médio das exportações para esse país de têxteis e confeccionados foi de US$ 33,88, ante US$ 5,71 no âmbito das vendas para todos os países.
Marcello Bastos, carioca, cofundador da Farm, ao lado da sócia Kátia Barros, conhece bem o disputado mercado francês. A marca com DNA carioca, inaugurada há 26 anos, deu os primeiros passos no país europeu em 2005, ano do Brasil na França.
“À época, participamos de um stand brasileiro na Galeries Lafayette, principal loja de departamentos da França. Apesar do sucesso, optamos por não nos internacionalizar. Menos de duas décadas depois, já com informações sólidas do mercado europeu, recolhidas por uma das maiores consultorias mundiais que contratamos, fechamos parcerias com ícones franceses do setor, entre eles Galeries Lafayette, Le Bon Marché e La Samaritaine. E, em maio, vamos abrir nossa primeira flagship no Marais, bairro de referência em arte e moda”, diz o executivo da marca, presente também na Inglaterra, Itália e Estados Unidos.
A consultora internacional Marina Espíndola, CEO da RPM Brand, sediada na Suíça, relata existir, nos últimos dois anos, um crescente interesse de empresários europeus por produtos do Brasil, em especial, roupas e acessórios.
“O clima positivo para negócios me levou a realizar, em setembro deste ano, um desfile e feira de negócios de marcas brasileiras em paralelo à Semana de Moda de Paris, no Les Salon Hoche, local famoso da cidade”, afirma Marina, especialista em posicionamento de marcas no mercado exterior.
A designer de joias Raquel de Queiroz diz ter planos de expandir a marca, que leva seu nome, além da Espanha, país onde comercializa joias “de menor impacto ambiental”, produzidas no ateliê da empresa em São Paulo.
“Entro na passarela com acessórios dos looks da estilista brasileira radicada em Portugal Fabiana Thorres. Quero apresentar ao mercado francês a minha trilogia: biojoias, ecojoias e joias sustentáveis, definições desconhecidas, em geral, por consumidores e compradores. É o momento e lugar certos para o setor de moda com proposta de gerar menor impacto ambiental em conformidade com a nova legislação francesa que obriga as marcas a indicar nos produtos a pontuação ambiental de cada artigo”, diz a designer paulista.
Fonte: Folha de S.Paulo