Por Rennan Setti | A Shein iniciou uma ofensiva para expandir seu marketplace brasileiro, pelo qual vendedores locais comercializam seus produtos no site da gigante asiática. Lançado em abril do ano passado exclusivamente para “sellers” de São Paulo, o segmento já representa 55% das vendas da Shein no país e agora está sendo expandido para vendedores no Rio — da Saara, no centro da capital, à Rua Teresa, em Petrópolis. O plano é chegar a outros quatro estados este ano.
O anúncio faz parte da estratégia da Shein para que 85% de suas vendas no país sejam de produtos locais, sem envolver importação, até 2026. A companhia chinesa revelou o plano no ano passado, anunciando um investimento de R$ 750 milhões na fabricação de produtos no Brasil no auge das críticas do governo à atuação de e-commerces estrangeiros no Brasil por causa da baixa tributação.
O marketplace da Shein foi anunciado globalmente em 2023, começando pelo Brasil e, logo depois, sendo expandido para EUA e México. Originalmente, o site vendia exclusivamente produtos próprios, fabricados por uma azeitada rede de fornecedores no sul da China. Com o marketplace, a companhia passou a comercializar itens de terceiros, ganhando uma comissão sobre as transações.
‘Não é para quem está começando do zero’
Segundo Raul Jacob, diretor de marketplace da Shein, a implementação vem sendo gradual para garantir uma integração sem soluços com a rede logística da companhia. Inicialmente, a Shein plugou “sellers” baseados nos polos têxteis do Brás e do Bom Retiro, na capital paulista, com foco exclusivamente em vestuário feminino. Posteriormente, o e-commerce foi agregando vendedores de outras regiões da Grande São Paulo e novas categorias, como calçados, acessórios e roupas masculinas.
Hoje, a companhia diz já ter 15 mil lojistas cadastrados na plataforma. Desses, apenas 500 são baseados no Rio, que será o foco da expansão do marketplace neste primeiro trimestre do ano, conta Jacob. A ideia é chegar a 2 mil “sellers” no Rio até o fim de março. A Shein está mirando vendedores em 14 municípios, incluindo capital, Baixada Fluminense e interior, passando por cidades com vocação têxtil importante como Nova Friburgo, Petrópolis e São João de Meriti.
Para atrair lojistas, a Shein deixará de cobrar comissão sobre as vendas nos primeiros 30 dias, mas a companhia impõe critérios de seleção. Os “sellers” precisam ter CNPJ — ou seja, emitir nota fiscal —, comprovar certo nível de faturamento (R$ 15 mil por mês) e oferecer quantidade mínima de sortimento de produtos. A ideia é plugar apenas vendedores que tenham estrutura estabelecida e alguma experiência com vendas online.
— A Shein não é uma plataforma para quem está começando do zero — afirma Raul Jacob.
Controle
Uma das “sellers” do Rio que já estão vendendo pela Shein é a Mapolla Intense, fabricante familiar de moda íntima sediada no polo têxtil de Nova Friburgo. A marca fornecia exclusivamente para o varejo físico até a pandemia, quando precisou abrir um e-commerce próprio e se plugar a diversos marketplaces para manter o negócio aberto. A marca foi selecionada para o marketplace da Shein na primeira leva dos “sellers” do Rio e, hoje, ele já representa 80% do faturamento, conta Paolla Peixoto, uma das sócias. De acordo com a Mapolla, o faturamento saltou de R$ 40 mil para R$ 300 mil ao mês desde a entrada no marketplace da Shein.
— Fomos de 3 mil pedidos em janeiro para quase 10 mil em fevereiro — conta Paolla, que diz não temer a entrada de outros “sellers” do seu próprio têxtil no marketplace da Shein: — Há espaço para todo mundo.
Embora o modelo de marketplace permita a companhias de e-commerce escalar suas vendas sem precisar despender capital em capacidade produtiva, um dos riscos óbvios da estratégia dentro da Shein — que se prepara para abrir capital na Bolsa — é a perda da identidade no sortimento de produtos.
Conhecida por itens de vestuário que acompanham as tendências da moda nas redes sociais em velocidade ultrarrápida, a companhia está tendo que lidar agora com a explosão de produtos no seu próprio site que não necessariamente seguem as regras do receituário bem-sucedido até agora.
Mas Raul Jacob, diretor de marketplace, descarta que haja risco de perda de controle:
— Estamos em constante contato com a rede de vendedores, compartilhando tendências e palavras-chave mais buscadas. Vendedores com grandes volumes também têm acesso exclusivo a informações sobre nossa estratégia para cada categoria.
Faturamento de R$ 10 bilhões
No Rio, a Shein está trabalhando com as companhias de logística Anjun, Pegaki, Imile e Drops, que fazem a coleta dos produtos junto aos “sellers” e os leva para os centros de distribuição do e-commerce em São Paulo, de onde os itens saem para consumidores de todo o país.
Depois do Rio, a Shein focará a expansão nos estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Analistas do BTG Pactual estimam que a Shein tenha vendido R$ 10 bilhões no Brasil no ano passado, ainda abaixo da Renner (R$ 11,7 bilhões, projeta o banco), mas bem acima das receitas da C&A (R$ 6,6 bilhões projetados).
Fonte: O Globo