Por Fernanda Guimarães, Cristian Favaro e Monica Scaramuzzo | Empresas que decidiram não reestruturar seus passivos no ano passado na esperança de que a melhora da economia e a queda de juros pudessem mitigar os problemas financeiros devem ser protagonistas de uma nova onda de processos de renegociação em 2024. Após um ano recorde de pedidos de recuperação judicial, as companhias deverão seguir com repactuação de dívidas, buscando proteção contra credores, acordo extrajudicial ou mecanismos no mercado de capitais.
O caso mais recente foi o da Gol, que ingressou com recuperação judicial nos Estados Unidos, com dívidas de R$ 20,3 bilhões reportadas no fim do quarto trimestre. Na pandemia, a demanda por aviões estava perto de zero, o que facilitou a reestruturação da rival Latam, que entrou com pedido de proteção contra credores naquele período.
Na petroquímica Unigel, credores, controladores e detentores de dívidas (“bondhholders”) estão em intensas negociações para evitar pedido de proteção aos credores, processo que se arrasta há meses. A InterCement também renegocia com credores e colocou ativos à venda no Brasil e Argentina para ajustar seu balanço.
Segundo especialistas consultados pelo Valor, essa tendência deverá atingir empresas que ainda estão com o custo da dívida sufocando a geração de caixa, algo que não será amenizado com a queda dos juros ao longo de 2024. Muitas empresas estão ainda com vencimentos importantes neste ano e em 2025, e boa parte enfrenta dificuldade de mudar o perfil do endividamento e alongar os prazos. Existe uma visão de que o setor do varejo, ainda estrangulado, também seguirá com processos de reestruturação de seus balanços.
Importantes varejistas, como Casas Bahia (ex-Via), estão buscando alternativas para reduzir endividamento. O Magazine Luiza anunciou aumento de capital de R$ 1,25 bilhão, com suporte da família Trajano e BTG Pactual, para endereçar o problema. No mercado, analistas projetam que a operação pode ajudar a reduzir a alavancagem do grupo.
Para o sócio da gestora Farallon, Antenor Camargo, foi observado no segundo semestre do ano passado uma melhoria de humor do empresariado brasileiro principalmente após o início do ciclo de corte de juros. “A percepção de ‘luz no fim do túnel’ melhorou o cenário de crédito de um ano que começou muito difícil [com a crise da Americanas]. O início de 2024 deixa claro que a direção e intensidade da queda de juros foi importante, mas não suficiente para reverter a pressão financeira das companhias – principalmente para aquelas que não equalizaram seus passivos em 2022 e 2023.”
De acordo com Camargo, o custo financeiro médio no pós-covid ainda está excessivo e trará consequências nesse ano. “Uma retomada na atividade do mercado de ‘equities’ [ações] em 2024 pode suavizar o quadro.”
Fonte: Valor Econômico