Por Marcos Bonfim | A MadeiraMadeira está prestes a completar 15 anos, mas está de olho nos próximos 15 anos. Esse é o discurso que apoia a reestruturação pela qual a startup de móveis e produtos para casa está passando.
As mudanças incluem a demissão de 10% do time atual de 2.000 pessoas e a contratação de executivos com anos de atuação em grandes companhias de mercado. Nos últimos 18 meses, esse é o terceiro corte na startup, uma redução de quadro que supera o número de 250 profissionais.
A movimentação é parte de processo que os sócios-fundadores começaram a desenvolver há 1 ano e meio, olhando para a gestão do negócio e para o aumento da eficiência.
“Nós pensamos muito no longo prazo, em como construir uma empresa centenária e que vá muito além dos fundadores”, afirma Daniel Scandian, CEO de MadeiraMadeira. O executivo fundou o negócio em 2009, ao lado do irmão Marcelo Scandian e do amigo Robson Privado.
De acordo com ele, a operação não tem problema financeiro e cerca de 80% do valor captado na última rodada, no começo de 2021, ainda continua intocado.
Na ocasião, quando a MadeiraMadeira recebeu o valuation de US$ 1 bilhão, o aporte foi de US$ 190 milhões, em uma rodada série E liderada pelo SoftBank e pelo Dynamo.
Qual é o objetivo com a estruturação
O novo desenho busca fazer com que a empresa ganhe mais agilidade para escalar o negócio com maior velocidade – até por outros países. Segundo o sócio-fundador, a estrutura da startup estava engessada e com sobreposição de camadas entre as áreas.
“Nós fizemos com que a organização ficasse mais flat (plana). Com isso, ficamos mais rápidos, ágeis, a comunicação flui melhor e conseguimos, inclusive, dar mais autonomia e entender melhor as prioridades”, diz.
As mudanças, com redução do time e chegada de profissionais de mercado, miram não só a preparação para os grandes movimentos no longo prazo, mas ajustar a rota e fechar gargalos operacionais.
Em 2023, o MadeiraMadeira ganhou participação de mercado, segundo informação da própria empresa, a partir de dados da Ebit. A startup fundada em Curitiba, no Paraná, teria alcançado a sua maior representatividade em 15 anos, 26,37% das vendas online do setor de móveis.
Mas ficou com aquele gosto de quem ganhou e não levou. O crescimento ficou abaixo do duplo dígito, uma expectativa que a marca transportou para este ano. Além disso, as lojas físicas – um projeto com pouco mais de 2 anos e que chegou a superar a barreira de 100 unidades em janeiro de 2023 – minguaram para 60 atualmente.
“Além de termos errado em pontos, nós pegamos uma contração muito forte, principalmente no varejo físico, e aluguéis que não estavam no padrão”, diz Scandian.
Os números refletem também um mercado cambaleante e ressaqueado nos últimos 18 meses, após um período de expansão na pandemia.
No período, redes como a Etna anunciaram o encerramento das atividades e a TokStok reduziu as operações enquanto procura novas saídas para reestruturar o negócio.
Quem são os novos executivos
Até por isso, 2024 é percebido como ano para trazer resultado com eficiência. “Nós precisamos crescer cada vez mais saudável, até porque precisamos ter disciplina com o nosso caixa”, diz o executivo. Ou seja, os profissionais que entram na empresa já tem muito com o que colaborar.
Na lista, estão:
- Fabio Fadel: com mais de 15 anos na Pernambucanas, o executivo ocupou a liderança da operação da Dafiti no Brasil por pouco mais de 1 ano. Chega como chief revenue officer (CRO), em busca de novas fontes de receita
- Nilton Pereira Sampaio: ex-Ambev, empresa em que ficou por 15 anos, assume como VP de Operações logísticas;
- Erica Lima: é a VP de Private Label, após longa passagem pela Alpargatas em áreas como inovação global
- Thais Galli – ex-Quinto Andar, startup em que atuou como VP de Marketplace e General Manager, Galli chega como VP de Marketing e Inteligência de Mercado
De acordo com o CEO, a procura foi por profissionais que compartilhassem uma visão de longo prazo para o negócio e com disposição para acompanhar os novos rumos do negócio. Um deles, ainda sem data, é a internacionalização. “Eu diria que está no nosso horizonte de dois a três anos”.
Quais as grandes ambições no radar da MadeiraMadeira
Enquanto isso não sai do papel, os profissionais têm como objetivo contribuir para ambições mais prementes da startup, em busca de tornar um “superapp”.
Para este ano, a MadeiraMadeira quer ampliar o leque de itens na plataforma em 2 milhões, chegando a 5 milhões no total. A expansão deve contar com o incremento de produtos com maior valor agregado. Uma demanda do consumidor, segundo a empresa, mas com o potencial de contribuir para melhora das margens do negócio, impactadas pelo aumento recente de impostos.
Em outra frente, a startup procura consolidar a oferta de serviços, como montagens, limpezas diversas e instalação de piso, uma unidade na qual entrou em 2022 após adquirir a plataforma IguanaFix. A operação cresceu 600% no ano passado contra 2022 e a expectativa é de que avance no mesmo ritmo em 2024.
“Nós estamos muito focados em criar esse ecossistema de casa”, afirma Scandian. Para chegar lá, novas aquisições podem estar a caminho. “Estamos animados para continuar construindo esse quebra-cabeça”.
Fonte: Exame