Por Adriana Mattos | A necessidade de o grupo Carrefour melhorar os seus resultados no país tem feito a empresa avançar com um projeto de fechamento de unidades deficitárias nos estados, e acelerar as conversões de pontos de hipermercados em outras bandeiras da empresa.
Esse movimento levou o grupo a sair do segmento de hipermercados na Bahia, dizem fontes ouvidas pelo Valor. O mesmo deve ocorrer no Ceará, meses após ter investido capital e convertido lojas da rede Big (adquiridas pela empresa) em Carrefour.
No Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, a empresa não sairá do negócio de hipermercados, mas planeja fechamentos nos estados até o dia 31 de janeiro.
Decisão tomada
Na Bahia, o grupo tem seis unidades no estado, sendo três em Salvador e três no interior, e entre as seis, cinco devem fechar brevemente, nas próximas semanas, apurou o Valor. E uma loja apenas deve virar Atacadão.
Em outubro de 2021, o concorrente Extra, do GPA na época, teve 71 pontos vendidos para a rede de atacado Assaí, após ter desistido de continuar atuando nesse segmento por conta do desempenho abaixo do esperado.
Havia uma expectativa de que parcela desse mercado fosse absorvido pelo Carrefour, que passou a ter um competidor a menos.
“O Extra saiu de alguns estados e, mesmo assim, eles não cresceram no braço de varejo, porque a venda foi para o atacado regional. O Atacadão, que também é do Carrefour, pegou uma parte da venda do Extra”, diz um fornecedor de itens de mercearia.
Na época, questionada a respeito, a direção do Carrefour relatou que mantinha planos para o segmento de hipermercado, e não sairia desse negócio no Brasil.
O tamanho do negócio
Desde dezembro de 2022, já incluindo aquisições de negócios feitas (Makro e Big), a bandeira passou de 170 hipermercados para 143 em setembro. A maioria das mudanças teve relação com a troca de bandeira de hipermercado para outras marcas, como Atacadão.
Em área de vendas, o recuo nos hipermercados foi de 144 mil metros quadrados, queda de 13,5%, equivalente a 17 campos de futebol em nove meses.
“A operação com a bandeira Carrefour na Bahia não deu certo”, diz uma pessoa a par dos planos da empresa. A força de marcas regionais e o avanço do atacarejo no estado — com marcas como a do grupo Mateus na região, que abriu sete unidades na Bahia em menos de dois anos — afetou o desempenho do grupo, apurou o Valor.
Além da Bahia, o Carrefour ainda pode fechar os hipermercados no Ceará e não operar mais com a bandeira na região. Entre as três unidades no Ceará, dois hipermercados devem virar Atacadão e um será fechado, diz uma segunda fonte.
Esse processo ainda deve ter novos impactos no mercado.
O grupo informou, semanas atrás, novas projeções para o período entre 2024 e 2026, incluindo a expectativa de converter cerca de 40 hipermercados em lojas Atacadão e Sam’s Club.
Destas, cerca de 20 devem ocorrer em 2024, segundo fato relevante de novembro.
O que tem chamado a atenção do mercado nas últimas semanas é que além das conversões já previstas pelo mercado, há um volume de fechamento definitivo de pontos até o começo do ano que vem.
Redução de vendas sem margem
Supermercados e hipermercados do Carrefour tiveram vendas brutas de R$ 7 bilhões no terceiro trimestre, queda de 15% “explicada principalmente pela redução diária de vendas”, disse a analistas, em teleconferência em novembro, Eric Alencar, executivo que lidera a área financeira no grupo. A margem bruta caiu 1,9 pontos, para 23,6%.
Segundo Alencar, “o varejo fez uma atividade mais promocional [no terceiro trimestre] e isso não necessariamente se refletiu em um like-for-like [venda de lojas com mais de um ano] maior, como imaginávamos”.
“Nós temos um plano de ação, trabalhando em cima dele para trabalhar a compensação dessa margem”, disse ele.
Houve impacto no número do recuo na área de vendas, com a conversão de 32 lojas de varejo (27 hipermercados Big, 2 Todo Dia e 3 hipermercados Carrefour) em lojas Atacadão.
No acumulado de 2022, o braço de varejo teve alta de 5,7% em vendas, para R$ 22 bilhões. A margem bruta caiu 0,1 ponto.
Para a empresa, as conversões de unidades em Atacadão estão “funcionando muito bem”, disse o comando na teleconferência, apesar do efeito da deflação nos números de receita bruta nominal.
O Atacadão, no acumulado de janeiro a setembro, teve alta de 7,7% nas vendas, o menor crescimento entre os concorrentes de capital aberto. O Mateus cresceu 30% no mesmo período, e o Assaí, 24,6%.
“Estamos, ano após ano, trabalhando e analisando a nossa rede de lojas, loja por loja, lugar por lugar, o que faz mais sentido para os nossos clientes, entre o hipermercado Carrefour, o Atacadão, e houve agora, também, o Sam’s Club”, disse a analistas o CEO, Stéphane Maquaire, em apresentação de resultados do terceiro trimestre.
“Temos, também, a oportunidade de reduzir, por exemplo, o tamanho do hipermercado para poder colocar uma loja Sam’s Club e fortalecer muito esse ponto de venda que temos”, disse. Esse projeto já foi apresentado ao mercado neste ano.
Posicionamento
Procurada, a empresa informa que, conforme divulgado em 28 de novembro, o grupo “está em processo de revisão do seu portfólio como forma de otimizar a rede de lojas de seu ecossistema”.
“Neste sentido, algumas lojas serão convertidas para outros formatos e também estão previstos alguns fechamentos pontuais. Reafirmamos o compromisso da rede com o estado da Bahia, uma praça de extrema importância para nossos negócios, e que continuará contando com a presença do grupo Carrefour Brasil em diferentes formatos de varejo, cash&carry [atacado] e clube de compras”.
Fonte: Valor Econômico