17/03/2015 05:00
Por Felipe Marques e Carolina Mandl
O Itaú Unibanco e a MasterCard anunciaram ontem a criação de uma nova empresa no setor de cartões, que será controlada pela bandeira. Embora ainda faltem detalhes sobre a aliança, a parceria permitirá que o banco enxugue custos na área de cartões, ao mesmo tempo em que dará à MasterCard uma espécie de “proteção” de sua posição no mercado brasileiro, ao deixála mais próxima do principal emissor de cartões do país. A aliança vale pelos próximos 20 anos. Dentro da nova empresa, MasterCard e Itaú prometem criar um novo arranjo de pagamentos o que, na prática, é o equivalente a criar uma nova bandeira. Essa nova bandeira pode ser uma evolução do projeto Hiper, a marca de cartões própria que o Itaú lançou em outubro de 2013. Nessa estrutura, o Itaú fica responsável por emitir cartões com a bandeira e garantir sua aceitação. A MasterCard cuidará da complexa tecnologia que envolve essa operação. De acordo com informações divulgadas pelo banco, embora o controle da empresa caiba à MasterCard, o banco terá poder de veto em determinadas situações.
Segundo o Valor apurou, o Itaú chegou a fazer uma concorrência entre Visa e MasterCard pelo projeto. O banco teria oferecido ao vencedor o direito de deter a larga maioria dos cartões que ele emitir, de cerca de 85%, pelo período de duração do acordo. Ou seja, ajudaria a bandeira a manter uma importante fatia de mercado no país, já que hoje o Itaú é o maior emissor brasileiro de cartões, com cerca de 30% de mercado. Embora o número não seja divulgado pelo banco, estima-se que os cartões Visa representem um terço do portfólio do banco e a Master, o restante. Não custa lembrar que, por muito tempo no Brasil, o Itaú fez parte do grupo de bancos que só emitiam cartões MasterCard. Até 2010, a Rede, credenciadora que hoje pertence só ao Itaú, era a única a capturar os cartões dessa bandeira.
Em contrapartida, o Itaú teria negociado reduções nas tarifas que precisaria pagar à bandeira vencedora no período. O vencedor também passaria a fazer a gestão de tecnologia para as bandeiras próprias que o banco tem hoje, a Hiper e a Hipercard. Algumas tecnologias desenvolvidas pela MasterCard no exterior também teriam uso exclusivo pelo banco. Atualmente, a própria MasterCard presta uma série de serviços tecnológicos para a Hiper, que incluem o roteamento de transações para as diversas partes da cadeia de pagamentos entre outros serviços. Ou seja, na prática, é a MasterCard que já faz hoje todo o bastidor tecnológico da Hiper. Procurados, Itaú e MasterCard responderam questionamentos por email, reforçando que há uma séries de pontos ainda a serem decididos, bem como há a necessidade de aprovação por parte dos reguladores.
“Trata-se de uma evolução daquilo que nós já temos hoje no nosso portfólio de marcas proprietárias, que poderão ter uma maior abrangência (internacional)”, afirmou o Itaú, por meio de sua assessoria de imprensa. Vale lembrar que a bandeira Hiper, hoje, é apenas aceita nacionalmente. “O Itaú continuará a emitir cartões com a bandeira Visa e demais bandeiras. A Hiper continuará existindo e qualquer evolução da bandeira Hiper será analisada oportunamente”, disse o banco. O Valor apurou que há uma boa chance que esse projeto traga de volta um nome velho conhecido do mercado brasileiro de cartões: a Credicard. Em maio de 2013, o banco comprou a operação, que tinha 4,8 milhões de cartões do Citi, por R$ 7,3 bilhões.
Fontes ouvidas pelo Valor afirmam que o banco cogita batizar o novo arranjo de Credicard, marca que considera de forte apelo. “Dentro desse acordo, a MasterCard ficará responsável por fazer o roteamento das transações, pelas atividades de gestão do arranjo [de pagamentos], e suporte tecnológico ao negócio, enquanto o Itaú irá focar em suas atividades de emissão e adquirência, acesso a novas soluções tecnológicas e obtenção de ganhos de escala e eficiência”, afirmou a MasterCard. Analistas do BTG Pactual acreditam que o anúncio da parceria pode trazer semelhanças a uma aliança constituída no começo de 2013 entre a Visa e o J.P. Morgan . O acordo de dez anos prevê que o banco leve um determinado volume de transações com seus meios de pagamento à bandeira, em troca de uma série de soluções tecnológicas oferecidas pela Visa. (Colaborou Fabiana Lopes)
Valor Econômico – SP