Por Paulo Gratão
Um levantamento feito pelo instituto Hibou, a pedido da consultoria CommUnit, mostra, pela primeira vez, o perfil do empreendedor de franquias no Brasil. Nesse retrato, a pesquisa revela que boa parte dos franqueados é do sexo feminino e a idade média desses empreendedores, de modo geral, fica entre 36 anos e 45 anos.
Para chegar nesses dados, o levantamento “O perfil do franqueado e multifranqueado” compilou 1,5 mil entrevistas de empreendedores de 250 marcas localizadas em mais de 750 cidades em todas as regiões do Brasil.
No país, segundo último levantamento da Associação Brasileira de Franchising (ABF), há cerca de 189 mil lojas franqueadas de 3 mil redes.
Com o estudo inédito da consultoria CommUnit, que PEGN e Valor tiveram acesso, a pesquisa mostra que existe um universo de 58.149 de empreendedores no país, dos quais 179 franqueados são donos de 10.993 lojas.
As informações mostram ainda que metade dos entrevistados deseja comprar novas franquias, de preferência no mesmo segmento que atuam e 28% deles querem investir entre R$ 100 mil e R$ 300 mil no negócio (ver quadro acima).
De acordo com consultoria, a maior parte dos empreendedores comanda apenas uma franquia. O restante é dividido entre multifranqueados multimarcas e monomarca.
Dona de duas unidades da Cacau Show em Osasco (região metropolitana de São Paulo), a empreendedora Rosangela Lopes, 48 anos, pretende abrir novas operações, sobretudo para aumentar a participação na venda direta dos produtos. A Cacau Show é a maior franqueadora brasileira com mais de 4,1 mil unidades no país.
A motivação da empreendedora para abrir a primeira franquia, há quase 14 anos, foi a mesma de 51% dos que responderam a pesquisa: investir em um negócio estruturado. “Eu queria algo que viesse pronto para eu fazer o que sei de melhor, que é vender”, diz.
Outro tema importante para os entrevistados é o processo de sucessão nas empresas. Quase 70% dos entrevistados abordam esse assunto e já começam a se estruturar nesse sentido.
Na visão de André Friedheim, sócio da consultoria Francap, isso mostra amadurecimento. “Os franqueados passaram a ver o negócio como algo sério, que passa por gerações, não algo apenas complementar”, afirma.
Franqueado da rede fast-food McDonald’s há 33 anos, Ronald Luiz Monteiro, 66 anos, lançou-se na empreitada em parceria com sua falecida esposa, Marion Martins de Lima Monteiro. A ideia inicial era conseguir renda alternativa, mas agora está passando o bastão para dois de seus três filhos. “Os franqueados antigos entraram mais velhos e vêm de uma experiência de gestão de fora do McDonald’s. Os mais novos nasceram dentro disso e trazem uma nova visão. Quem ganha é o cliente”, diz.
Há cerca de um mês, o filho do meio de Ronald, Cesar de Lima Monteiro, 30 anos, assumiu uma franquia em Praia Grande (litoral de São Paulo), tornando-se o 67º franqueado do McDonald’s no Brasil – ele também atua como consultor da rede. A caçula, Beatriz de Lima Monteiro, 25 anos, já trabalha em uma das franquias do pai e se prepara para assumir como gerente para seguir os mesmos passos. O tempo médio previsto de preparação, no total, é de dois anos, mas todos os sucessores passam por avaliações da empresa.
O segmento de alimentação responde por 36% dos empreendimentos mapeados, seguido por moda (20%), serviços educacionais (14%) e beleza e bem-estar, com 11% do total. Cerca de 70% dos franqueados disseram que têm lojas em ruas, 35% em shoppings e 19% em centros comerciais. Para 25% dos entrevistados, o custo da matéria-prima representa o maior gasto da operação.
O estudo mapeou também quando os franqueados decidem criar estruturas administrativas para gerir seus negócios – 26% dos multifranqueados montaram o “backoffice” na segunda unidade, e 24% a partir da terceira.
Alexandre Saidel, 39 anos, franqueado da 5àSec, entra no segundo grupo. Para diluir o custo de suas três unidades e amparar a rede em questões administrativas, ele montou um escritório e criou lideranças internas para cada operação. “Acompanhamos as lojas por meio de ferramentas de gestão, que nos dão acesso aos relatórios”, diz.
No que diz respeito ao faturamento, seis em cada dez franqueados ouvidos dizem esperar ganhos mensais acima de R$ 10 mil por operação, mas mais da metade (54%) ainda não atingiu o objetivo. “O que o empreendedor espera [sobre o negócio] nem sempre é o que a franqueadora ou o mercado falou para ele”, diz Denis Santini, CEO da CommUnit. “As razões para não ter conseguido são várias. Pode ser um negócio em início de operação, podem ser problemas com a equipe, mudança de ponto ou a pessoa pode mesmo não ter aptidão para o negócio.”
Outro dado relevante é que 60% dos entrevistados possuem outra fonte de renda. A interpretação é que mesmo os multifranqueados “buscam calcar os pés em mais de um alicerce”. “A tendência é que, cada vez mais, os franqueados diminuam a dependência de um emprego para compor a renda”, aposta Friedheim.
Fonte: Valor Econômico