Por Angelo Verotti | “Demos o maior passo da nossa vida”. Assim o empresário Ederson Muffato define a inauguração do primeiro atacarejo do Grupo Muffato na capital paulista, quarta-feira (22), no bairro do Butantã. Em 49 anos de história no setor, a rede paranaense expandiu os negócios por 46 cidades do Estado do Sul, além de municípios vizinhos no interior de São Paulo, mas sem avançar à metrópole. O objetivo começou a ser conquistado em janeiro deste ano com a assinatura do contrato de compra de 16 lojas e 11 postos de combustíveis do Makro.
O valor envolvido na transação com a holandesa SHV não foi revelado, mas o montante utilizado na conversão de cada estabelecimento para a bandeira do atacarejo Max Atacadista — pertencente ao grupo — atinge R$ 60 milhões, num total de quase R$ 1 bilhão. “Estamos trabalhando forte desde meados do ano para entregar todas as lojas até o final de dezembro”, disse à DINHEIRO Ederson Muffato, diretor do grupo. “É a realização de um sonho.”
Durante os primeiros seis meses do ano, o Grupo Muffato se preparou com:
• projetos,
• aprovações,
• regularizações em prefeitura,
• logística,
• estruturação.
A meta, de acordo com o executivo, era estarem preparados para, quando pegassem as lojas, começar na semana seguinte as intervenções para a inauguração. “E os seis meses agora têm sido uma jornada de obras, de contratação de time e de conversão, que está culminando com esses dois meses de abertura das unidades.”
Somadas ao Butantã, três novas lojas já convertidas foram abertas ao público — Taubaté, São José dos Campos e Presidente Prudente. A expectativa está também pela inauguração das unidades nos bairros da Lapa e Interlagos, assim como em cidades vizinhas à capital, casos, por exemplo, de Guarulhos, São Bernardo do Campo e Santo André.
Além da questão sentimental, a expectativa da Muffato pela abertura das lojas está baseada em números. Como em qualquer negócio. Os 95 estabelecimentos distribuídos atualmente pelos estados do Paraná e de São Paulo respondem, respectivamente, por 80% e 20% da receita setorial do grupo, que ainda tem negócios na área de comunicação e imobiliária.
Com as novas operações na capital paulista e demais cidades da região, essa divisão deve ficar praticamente equilibrada até o final do ano que vem. “Acredito que deve ficar dividido em 55% para o Paraná e 45% para São Paulo.”
16 lojas da rede Makro em São Paulo têm sido convertidas para a marca Max Atacadista
O avanço em São Paulo significa também crescimento no mercado nacional. O Grupo Muffato fechou o ranking anual da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) de 2022 na sexta colocação. Uma marca importante entre os 94 mil estabelecimentos distribuídos de Norte a Sul do País que geraram uma receita total de R$ 695,7 bilhões com as suas operações, sejam em formatos físicos ou digitais.
O faturamento da organização paranaense chegou a R$ 12,1 bilhões, acima dos 10,6 bilhões de uma temporada antes.
O presidente da Abras, João Galassi, destaca a escalada contínua do varejo alimentar no Brasil. “Temos números exponenciais no setor supermercadista, o que vem reforçar ainda mais a grandeza de nossa atuação e mostrar o resultado de nosso intenso trabalho para atender da melhor forma os mais de 28 milhões de consumidores que passam em nossas lojas diariamente”, disse.
Galassi revelou ainda que as empresas têm crescido e se expandido diariamente. Atualmente, são 94 mil lojas em todo o País, nos formatos físicos ou digitais. A situação faz com que o varejo alimentar responda por 7,03% do PIB brasileiro. “Isso nos posiciona como um dos setores que mais movem a economia e o que mais gera emprego.”
HISTÓRIA
O movimento do Grupo Muffato em São Paulo era então considerado inimaginável quando o fundador José Carlos Muffato, o Tito, pai de Ederson, Everton e Eduardo, abriu o primeiro mercadinho em Cascavel, no Paraná, em 1974.
Um ano depois, o patriarca viu a oportunidade de fornecer alimentação para os empregados que trabalhavam na construção da Usina de Itaipu, na fronteira entre Brasil e Paraguai. “A maior obra em atividade no mundo à época”, segundo o diretor. Depois, Tito abriu a primeira unidade em Foz do Iguaçu — são oito na atualidade.
Pontapé inicial dado, a expansão pelo estado do Paraná se acentuou em 1995, um ano antes da morte do patriarca, em 1996, em um acidente aéreo. Nada, porém, que interrompesse os planos.
“Avançamos para o norte do Paraná. Até então, Londrina para era a maior cidade”, disse Ederson. Depois, vieram as operações em Maringá e Ponta Grossa.
“Mas um marco para nós foi a chegada a Curitiba, em 2002. Guardadas às devidas proporções, a mesma coisa que está sendo a chegada a São Paulo.”
Embora, a entrada no estado do Sudeste tenha começado já em 2003, em Presidente Prudente, cidade que já tinha três unidades do grupo.
Apesar dos 20 anos de presença no Estado de São Paulo, crescimento da rede pelo interior se acentuou praticamente apenas na última década. “Em 2010 e 2011 abrimos unidades em Araçatuba. Depois, Birigui. Em 2015, em São José do Rio Preto, onde já temos seis entre todos os modelos de negócio”, disse o diretor. “Posteriormente fomos para Ourinhos, Assis, Fernandópolis, Catanduva e Votuporanga”, afirmou.
FORMATO
A estratégia para atuar em São Paulo envolve de um time mais experiente a estrutura de logística maior, segundo Ederson. “Vamos ter outros competidores regionais, o que não acontece hoje. Mas qual é o bônus disso? Vamos brigar por uma pizza maior”, disse.
Inicialmente, os projetos na cidade estarão concentrados no modelo atacarejo com a marca Max Atacadista. “São pelo menos 14 mil itens variados, contra em média de 9 mil da concorrência. Além disso, temos pelo menos dez marcas próprias e produtos de importação exclusivos.”
Nos demais polos nos Estados de São Paulo e do Paraná o Grupo Muffato possui outros modelos de lojas, que ainda não serão adotados na capital paulista. São os casos:
• do Super Muffato, o tradicional hipermercado;
• o Muffato Gourmet, unidade premium;
• e o pioneiro MGo, mercado 100% autônomo inaugurado no ano passado, em Curitiba.
O projeto do MGo levou três anos de desenvolvimento. Traz a inteligência da visão computacional, machine learning e inteligência artificial. “Quando você pega o produto da gôndola, tem um sensor que registra a retirada. A loja tem várias câmeras que reconhecem o produto. Então, faz o reconhecimento de imagem. E tem uma aprendizado de máquina”, disse Everton.
Segundo ele, são:
• 4 mil sensores,
• 500 câmeras numa loja de 400 metros quadrados,
• além de 80 quilômetros de cabos.
Um processo que envolveu 16 parceiros e investimento de R$ 10 milhões. “A gente está fazendo uma loja como modelo de negócio. Fizemos um projeto de tecnologia, para dominar a experiência do consumidor e entender o conceito. E agora estamos com o projeto em desenvolvimento da segunda loja.”
Everton destaca que o Grupo Muffato sempre foi reconhecido como uma empresa pioneira. “Pagamos, às vezes, o preço da inovação. Acho que o nosso DNA sempre foi de inovação.” Foi a primeira rede do Brasil com reconhecimento facial, além de a primeira com pagamento autônomo, em 2012.
Muitas das novidades foram desenvolvidas no Mufato Labs. O laboratório de tecnologia e desenvolvimento de tecnologias para o supermercado pertencente ao grupo foi o responsável pela criação de aplicativo, a exemplo de soluções para frente de caixa, de abastecimento e de reposição. Segundo Éderson, o departamento de P&D recebe anualmente 5% do montante destinado a investimentos.
A atuação do grupo se estende à indústria por meio do Muffato Food, responsável pelo processamento, fatiamento, transformação e embalagem de alimentos que serão comercializados nas lojas.
Já a Muffato Malls gerencia os espaços imobiliários para locação nos empreendimentos do grupo, que além das unidades, incluem o Shopping Total Ponta Grossa, no Paraná, e o Parque Shopping Prudente, em Presidente Prudente.
A empresa também atua na área de comunicação com TV e rádios. Todos os negócios são uma mostra que o apetite do Grupo Muffato está longe de acabar. Os concorrentes que se cuidem.
Fonte: IstoÉ