09/03/2015 às 05h00
Por Beatriz Cutait | São Paulo
Em janeiro, o Brasil era colocado entre os poréns no grupo dos mercados emergentes. Em fevereiro, em comentários sobre a bolsa, a mensagem já indicava que as ações estavam chegando a um ponto atrativo para compra. E agora em março, o tom ficou mais otimista, com a sinalização de que um aumento de exposição no país está próximo.
Mark Mobius, presidente da divisão de mercados emergentes da gestora americana Franklin Templeton, está por trás dessas avaliações, que têm em comum uma visão de que os preços dos papéis brasileiros estão ficando interessantes. Mas não se trata apenas de “valuation”.
Quando olha para os mercados de forma geral e pensa nas oportunidades de investimento, Mobius diz gostar de olhar lugares considerados impopulares.
Na América Latina, além da Argentina e da Venezuela, o Brasil é possivelmente o país mais impopular da região atualmente. E a avaliação é de que setores orientados pelo consumo merecem maior atenção, que foram pressionados diante da estagnação da renda per capita e dos gastos dos consumidores. A gestora também está olhando para empresas do setor bancário, que poderão oferecer boas oportunidades no futuro.
“Neste momento, estamos considerando aumentar potencialmente nossa participação no país, particularmente em empresas de primeira linha que estavam previamente muito caras, assim como em outras com boas perspectivas e que pareçam ter uma gestão sólida e pouca ou nenhuma dívida”, afirmou Mobius, em texto publicado na semana passada em seu blog.
Em fevereiro, quando esteve no Brasil e reuniu-se com jornalistas, o gestor disse que as principais posições da carteira dedicada a América Latina estavam em ações de Itaúsa, seguida por Itaú Unibanco, Bradesco, Ambev, Walmart México, Lojas Americanas, Bradespar, Unidas, BM&FBovespa e Localiza. A gestora tem US$ 40 bilhões sob gestão em mercados emergentes, dos quais 4% (US$ 1,6 bilhão) aplicados em ativos brasileiros.
Na última publicação, Mobius afirmou que muitos investidores no Brasil, ele próprio incluído, têm estado de certa forma frustrados ao longo dos últimos dois anos, diante da falta de crescimento e progresso. Ele diz, contudo, acreditar que o país tem todas as condições para alcançar taxas mais altas de expansão se houver vontade política.
“Tenho o prazer de dizer que, embora o Brasil certamente ainda tenha problemas para resolver, estou um pouco mais otimista sobre as perspectivas de investimento lá do que há seis meses ou mais e isso se deve em parte ao fato de todo mundo parecer tão pessimista!”, ressaltou Mobius, no texto. E emendou com a declaração do falecido John Templeton de que comprar quando outros estão desapontadamente vendendo e vender quando estão comprando requer a maior força e paga as maiores recompensas finais.
Como um investidor que vai contra a maré, o gestor disse buscar oportunidades individuais em mercados emergentes que outros podem até estar evitando, mas nos quais enxerga potencial, o que inclui o Brasil.
Apesar de mais otimista, Mobius também mencionou no texto os riscos do país, ressaltando que, por enquanto, os gastos dos consumidores continuam como um “ponto de interrogação”, que o poder de compra está em baixa e que ainda há discussões sobre uma possível recessão.
Valor Econômico – SP