Por Marina Lang | Cidades do interior do Brasil estão na mira dos empreendedores de shopping centers. Dados divulgados pelo Censo Demográfico 2022 indicam que 56% dos centros de compra estão localizados em municípios que não são as grandes capitais do país. Em 47,9% deles, tratam-se de estabelecimentos de grande porte. Dos dez shoppings já inaugurados ou previstos para 2023 no Brasil, seis são no interior, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).
Em um período de dez anos, houve um avanço significativo para localidades menores, já que pesquisas anteriores apontavam uma proporção equivalente da quantidade desses negócios em grandes e pequenas metrópoles. Isso mostra que o crescimento foi veloz em mercados mais carentes de opções de compra e diversão.
É o caso de Lagarto, interior de Sergipe, cuja população de 101,5 mil habitantes vai receber, em novembro, um complexo com 634 espaços, que incluem área para supermercado, faculdade, quatro salas de cinema, parque infantil, praça de alimentação com 34 lojas e um hotel anexo, em mais de 43 mil m2 de área construída. Como fica às margens da BR-349, que interliga a Bahia ao Estado vizinho, os empresários esperam atrair o fluxo turístico e de viajantes que costumam trafegar pela rodovia. O CentroSul Shopping Center, cujo investimento gira em torno de R$ 180 milhões, deve gerar 1.100 empregos diretos.
“As capitais já estão saturadas de empreendimentos dessa natureza. Isso torna o interior um atrativo de grande potencial para centros comerciais porque as pessoas querem, mas simplesmente não têm onde ir. Essa expansão traz resultado muito positivo ao consumidor”, avalia Gerardo Andrade, superintendente da AG Malls, que administra o CentroSul.
Rio das Ostras, no interior fluminense, também vai receber seu primeiro centro de compras. Rafael Bousquet, empreendedor e presidente do Shopping Plaza, diz que o local será o ponto nuclear de um inédito bairro planejado do município, com escolas, hotéis, rodoviária, um local de decoração e loteamento de casas e prédios.
Com investimento de R$ 100 milhões e previsão de geração de mil empregos na cidade de 156 mil habitantes, a inauguração da área total construída de mais de 30 mil m2 (segmentada em 193 operações que vão de cinema e lojas-âncora a lojas-satélite) está prevista para dezembro. “As pessoas vão ganhar fácil acesso a lojas e marcas que antes só existiam na capital ou em municípios vizinhos, que são semelhantes em tamanho e potencial econômico, o que deixava a cidade defasada”, afirma Bousquet.
No interior, o shopping tende também a ser um programa mais familiar. Na capital paulista, 66% frequentam o shopping com a família, enquanto no interior esse índice sobe para 73%, segundo pesquisa sobre o comportamento do consumidor feita pela Abrasce.
“Considerando apenas o Estado de São Paulo, há diferenças importantes: a localização é menos importante no interior, onde as pessoas estão dispostas a ir mais longe para usufruir do shopping. O entretenimento é mais importante para o frequentador do interior, porque em geral há menos divertimento na cidade”, avalia Janice Mendes, diretora-executiva da Gouvêa Malls, empresa integrada à Gouvêa Ecosystem, onde coordena projetos desenvolvidos e aplicados em centros de consumo no Brasil e na América Latina.
Segundo um estudo conduzido pela Brain Behavior, o público do interior teve uma taxa de aumento da frequência a shoppings maior do que o público das capitais no pós-pandemia, embora não seja o canal preferido para compras.
“O público do interior tem o lazer como motivação da ida. Há três segmentos extremamente importantes em um shopping: entretenimento, serviços e alimentação. Quando se olha para o futuro, a busca pelo passatempo no interior é maior do que nas capitais”, explica Mendes. “O Shopping Partage, em Campina Grande, na Paraíba, é a grande vitrine da cidade: tudo o que acontece é lá. Há um papel de cultura no interior, portanto. Existe um comportamento diferente em relação à alimentação, que recebe um grande incremento e vira o principal consumo nos fins de semana”, afirma a executiva.
A situação se replica em outros centros do interior, diz ela, porque, diferentemente das capitais, nessas cidades há mais tempo de cozinhar nos demais dias. Quando os dados da pesquisa da Abrasce são estratificados para o interior, 100% dos entrevistados dizem consumir os serviços da praça de alimentação. Normalmente, porém, o consumidor interiorano também usufrui tanto de lazer quanto dos serviços nas ocasiões em que vai a esses centros de compras regionais.
Fonte: Valor Econômico