Por Adriana Mattos
Seis meses após o comando da rede de varejo de moda sueca H&M ter anunciado aumento de investimentos globais em mais de 40% e o avanço de sua atuação a novos mercados, a companhia negocia a abertura de lojas de grande porte no Brasil com empresas de shoppings, como antecipou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Na manhã desta segunda-feira (17), o grupo sueco informou que pretende iniciar operações com lojas físicas e on-line no Brasil em 2025, como parte de seu projeto de expansão na América Latina. Três fontes ouvidas ao longo do dia pela reportagem afirmaram que os contato com empreendimentos locais já começaram este ano.
Na nota, a H&M ainda informou que fez uma parceria com o Dorben Group, especializado na distribuição de marcas de luxo na América Latina, para apoiá-la na expansão. “Tivemos um bom desenvolvimento na América Latina e vemos bastante potencial no Brasil”, afirmou Helena Helmersson, CEO da H&M no comunicado.
O anúncio ocorre num momento que a H&M também sente, assim como as varejistas brasileiras, o avanço da chinesa Shein sobre seus mercados, mas a ideia da rede sueca é entrar em países com alto potencial de consumo, que tragam novos ganhos de escala.
A H&M sentiu, no acumulado até maio, perda em margem bruta e lucro operacional estável, mas manteve os planos de investimento. No trimestre fiscal encerrado em 31 de maio, as vendas globais subiram 6%, para 57,62 bilhões de coroas suecas (US$ 5,5 bilhões). O grupo conta com 4,4 mil lojas.
No Brasil, o foco está na abertura de lojas em shoppings com alto fluxo de visitantes — o investimento em lojas de rua deve ser mais pontual, concentrado em São Paulo. O Valor apurou que e a equipe de expansão da H&M já esteve, nos últimos meses, em contatos com a Aliansce Sonae BR Malls, a maior companhia do setor no Brasil, e com a Multiplan. As negociações se intensificaram e já há um acordo assinado para identificação e seleção dos primeiros pontos. O contrato exige sigilo das empresas sobre o interesse da H&M no país.
Na Aliansce, há seis lojas grandes em negociação, pelo menos. Na Multiplan, o Valor apurou que a H&M busca pontos também de maior metragem no Morumbi Shopping e no Anália Franco, ambos em São Paulo, e no Barra Shopping, no Rio — todos ativos líderes em vendas na empresa. Em ambas as empresas, ainda não houve fechamento dos espaços.
“A dificuldade é que eles querem lojas grandes, então têm começar a prospectar e abrir espaços agora, o que pode exigir algum remanejamento de pontos até lá”, diz uma fonte a par do tema.
Procuradas, Aliansce, Multiplan e H&M não comentaram.
A ideia da H&M é atender a classe média no Brasil, com roupas de qualidade “pelo melhor preço possível” — uma orientação global do grupo —, mas preservando a imagem de marca, na visão de pessoas próximas à negociação.
A H&M opera com faixas de preços mais baixas em produtos básicos, mas um pouco mais altas em coleções com apelo mais “fashion”. A estrutura pesada de custos de impostos e mão de obra no Brasil tende a obrigar a empresa escolher se colocará a marca um degrau acima em termos de preços em relação à política no exterior, ou se mantém agressividade maior subsidiando a operação, como outras redes fizeram no passado.
Para se ter uma ideia desse custo, a carga fiscal de uma varejista no país varia de 80% a 130%, a depender do segmento, segundo cálculos do IDV, entidade do setor.
No exterior, a H&M trabalha orientada para a alta rotatividade de produtos e o reabastecimento contínuo das lojas, e distribuição das linhas em poucas semanas, num modelo próximo ao da Zara, do grupo Inditex, maior conglomerado de moda do mundo, em vendas, seguido pela vice-líder H&M. A Uniqlo é a terceira maior.
A confirmação do interesse ocorre após mais de uma década dos primeiros rumores da vinda da H&M ao Brasil e depois de a empresa avançar, aos poucos, sobre os países vizinhos, numa estratégia, para alguns, cautelosa.
A varejista abriu sua primeira unidade no mercado latino americano no México, em 2012 e hoje está presente também no Peru, Uruguai, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, Panamá e Costa Rica.
Antes dela, outras redes estrangeiras tentaram crescer por aqui, mas desistiram. Nessa lista estão, por exemplo, Mango, GAP, Top Shop e Forever 21.
Como a entrada está prevista apenas para 2025, não há impacto no mercado neste momento, mas o assunto foi tema entre as grandes varejistas de vestuário de capital aberto ontem, dizem fontes. Deve ocorrer um aumento na demanda por pontos de venda em locais já disputados, e essas redes de moda já sentem maior pressão do mercado pela decisão do governo de isentar plataformas estrangeiras do imposto de importação a partir de agosto.
Fonte: Valor Econômico