Por Adriana Mattos | O comando da rede Assaí disse hoje, em teleconferência de resultados, que há alternativas na mesa para reforço de caixa da empresa, como a hipótese de “sale leaseback”, operação com a venda de imóveis atrelada a sua locação, mas não existe em discussão a ideia de oferta primária de ações da empresa.
O presidente Belmiro Gomes ainda reforçou que as lojas adquiridas pelo grupo do Extra vieram “limpas” e não carregam passivos — semanas atrás, o mercado tomou conhecimento da existência de passivos localizados nas lojas do Big, adquiridas pelo Carrefour.
Gomes ainda afirmou que a empresa está mais cautelosa e rigorosa com projetos de aberturas de lojas próprias por causa de juros altos, que encarecem dívida e tornaram custo do capital mais caro no mercado.
O Assaí ainda não revê planos de 2024, mas cenário macro “põe cautela para 2023”, disse.
“Embora não iremos cancelar o plano de abertura de 40 lojas [do Extra] para 2023, as lojas orgânicas estão na nossa mão, e é nisso que podemos buscar maior equilíbrio. O mercado todo está sentindo isso do aumento dos custos de construção que continuam elevados, além dos juros e a inflação que parou de subir. Então esse ambiente que temos que considerar”, disse ele.
A queda na inflação, se melhora demanda no longo prazo, no curto prazo afeta a receita nominal das cadeias de atacado e varejo.
“Isso pode afetar ‘guidance’ para 2024, mas também lembro que lojas orgânicas não são tão representativas, não é tão relevante em 2024”, disse. “Se tivéssemos juros mais baixos, ou sinalização de que isso viria, não estaríamos analisando isso”.
Paciência
Belmiro Gomes disse entender “a ansiedade e imediatismo” do mercado com projeto de reabertura das lojas do Extra, mas ressaltou que “primeiro você investe e depois colhe”.
Segundo ele, as lojas de hipermercados reabertas como Assaí há cinco meses, em média, estão a 70% do potencial e R$ 22 milhões de venda mensal média, acima da média da empresa (em R$ 20,7 milhões nas lojas com mais de um ano de vida).
A margem Ebitda, que mede lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação, dessas unidades novas está em 5% de janeiro a março, versus média de 7% das unidades com mais de um ano.
Segundo ele, o resultado operacional mostrou melhoras de janeiro a março (Ebitda subiu 26,5%), mas houve efeito da alta dos juros afetando o lucro líquido da empresa.
Gomes ainda disse que o desempenho de abril está muito similar a março, no parque geral de lojas e o segundo trimestre deve ser em linha com o primeiro.
O executivo ainda afirmou que o Assaí pode começar a testar atacado de distribuição no fim do ano. “Podemos iniciar algo desse tipo”. Porém, ressaltou que esse projeto teria um impacto de caixa, por isso, apesar de analisarem a ideia, seria mais adequado aguardar como ficará a política de juros do país até avançar com isso.
A empresa ainda relatou que estima margens mais estáveis nesse ano, considerando o cenário de investimentos e “macro”.
Resultados
A posição cautelosa do Assaí tem relação com cenário atual de aumento de alavancagem da empresa — hoje, um dos aspectos dos relatórios dos analistas publicados no ano. O assunto foi destaque negativo de alguns relatórios de analistas hoje, e o operacional ficou dentro das projeções de algumas equipes de análise.
A empresa disse hoje que espera chegar no quarto trimestre de 2023 com relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, da sigla em inglês) na mesma faixa de fim de 2022, em 2,2 vezes.
Esse índice atingiu 2,78 vezes no primeiro trimestre — é o maior nível dos últimos quatro trimestres (apesar de próximo do patamar segundo trimestre de 2022).
A direção ainda disse que o índice “está dentro das expectativas da companhia” diante do contexto de altos investimentos com o plano de reabertura de lojas do Extra, afirmou Danniela Sabbag, diretora financeira do grupo.
“Queremos passar a tranquilidade de que não descumprimos ‘covenants’ [indicadores financeiros de dívida que precisam ser respeitados em acordos com bancos]”, disse ela.
O nível atual é explicado por pagamentos relacionados à aquisição dos pontos comerciais de hipermercados, investimentos em 59 lojas nos últimos 12 meses e continuidade do projeto de expansão, com 28 lojas em fase de obras, sendo 13 conversões e 15 lojas orgânicas.
A empresa teve expansão mais forte em “mesmas lojas” (com mais de um ano de operação) que o concorrente Atacadão.
A receita bruta alcançou R$ 16,6 bilhões de janeiro a março, alta de 33%, impulsionada pela performance das novas lojas (alta de 24,7%), evolução das mesmas lojas de 7,2% e incremento no fluxo de clientes (mais 16 milhões de tíquetes versus janeiro a março de 2022).
A margem Ebitda ajustada foi de 6,3% versus 6,6% um ano antes. A rede teve queda de 66% no lucro líquido de acionistas controladores, para R$ 72 milhões
As vendas brutas no rival Atacadão atingiram R$ 18,1 bilhões, alta 20,1%, sendo R$ 16,6 bilhões no Atacadão e R$ 1,5 bilhão na Maxxi. As “mesmas lojas cresceram 5,7% (6,5% considerando calendário).
A margem Ebitda foi de 5,6%, versus 6,9% um ano antes. Carrefour não informa lucro ou prejuízo no Atacadão.
Colaborou Felipe Laurence
Fonte: Valor Econômico