Por João Pedro Malar | O Carrefour é uma das maiores redes de supermercados do mundo, com forte presença na França, no Brasil e em diversos países. Mas a operação do gigante de varejo vai muito além dessa área, e há anos abrange também a oferta de serviços financeiros para os seus clientes. Mas, nos últimos anos, a empresa vem investindo cada vez mais nessa área, incorporando novas tecnologias.
A novidade mais recente do grupo foi a incorporação do Pix, o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, para o pagamento de faturas de seus clientes. André Tonelini, diretor de novos negócios do Banco Carrefour — divisão do grupo voltada para a área financeira — explica que a novidade está “muito ligada à missão do banco, de melhorar a vida das famílias brasileiras, dando acesso a crédito e facilitando a experiência dos clientes”.
“O Pix facilita as transferências, seja para outra pessoa ou uma compra. Quando você vai para a área de pagamentos de faturas, ela é hoje uma dor de muitos clientes que precisam fazer o pagamento em uma lotérica ou agência bancária, além de ter a questão do prazo de compensação bancária, em média de dois a três dias. Com o Pix, em segundos, minutos, o pagamento já cai”, explica.
Lançado em janeiro de 2023, Tonelini revelou com exclusividade à EXAME que cerca de 10% a 12% dos pagamentos de faturas já são feitos usando o Pix, com mais de 1 bilhão de pagamentos nesse período. A ideia é “expandir nos próximos meses, não apenas nos canais digitais, mas também nas faturas impressas, juntando código de barras e QR Code com a chave Pix para os clientes. Foi um resultado positivo, e queremos expandir cada vez mais, os próprios clientes enviaram avaliações positivas”.
Com isso, o Carrefour busca eliminar completamente a necessidade de deslocamento por parte dos clientes para realizar pagamentos. A ideia é aproveitar o grande volume de clientes da rede que já possuem acesso às faturas de seus cartões Carrefour por canais digitais, permitindo a realização de pagamentos também pela via digital, além de “melhorar a experiência dos clientes e promover mais consumo e acesso a crédito”.
Bank as a service
A origem das ações do grupo francês na área financeira foi o próprio lançamento dos cartões de crédito próprio do grupo, abrindo as portas para outros serviços que foram sendo lançados com os anos. Juntos, eles fazem parte do chamado bank as a service, ou “banco como serviço”, uma modalidade em que empresas de fora do setor bancário passam a oferecer serviços tradicionalmente controlados por bancos.
Na visão de Tonelini, esse movimento “faz muito sentido hoje para os clientes do ecossistema do Carrefour”. “A população hoje depende de meios de pagamento e de crédito para as compras do dia a dia e de eletrodomésticos, então faz sentido ter o bank as a service para apoiar os clientes do varejo. O Banco Carrefour foi lançado há 30 anos, então a ideia é apoiar os clientes nessa necessidade de crédito para consumo”.
Ele comenta que foi exatamente a partir do entendimento das necessidades dos clientes que novos produtos foram sendo idealizados e lançados, incluindo a oferta de empréstimos pessoais e, mais recentemente, do APag, uma maquininha de cartões voltada para pequenos e médios negócios que consome nos serviços de atacado do grupo e que oferece descontos pela quantidade de compras e vantagens como cashback.
O objetivo principal do Carrefour é “identificar oportunidades e como a gente pode atendê-las”. Entretanto, a implementação do bank as a service também trouxe desafios. O primeiro, conta Tonelini, foi “estruturar um time robusto para fazer uma gestão desses tipos de produtos. São produtos financeiros com pauta forte de crédito, então precisa de expertise em análise e concessão”.
“Foi um trabalho de formar pessoas, trazer pessoas do mercado, para atender esse público, que é muito amplo, da classe A à E. Então não basta atender só as classes A e B, que é o que quase todos os bancos já tem, precisa atender os outros, que muitas vezes nem são bancarizados e querem esse acesso”, afirma.
Além disso, ele cita a importância do grupo ter uma aproximação com startups, em especial fintechs, permitindo desenvolver soluções em parceria com esses novos negócios. A principal vantagem dessa relação, avalia Tonelini, é “a aceleração de soluções e trabalhar essa cultura de inovação dentro da organização a partir de um ambiente completamente diferente”.
Próximos passos
Tonelini diz que o Banco Carrefour planeja expandir a oferta do APag e também trabalhar o desenvolvimento de produtos de crédito “vinculados às necessidades dos clientes de grupos específicos, identificando as necessidades e aí desenvolvendo ou adaptando nossos produtos”.
Ele ressalta ainda que a tecnologia blockchain “está no radar” do grupo, já que ela possui um grande leque de aplicações. “A solução de blockchain já é usada no varejo em diversos produtos para fazer rastreamento da cadeia, do produtor à gôndola, dando mais transparência para esses produtos. No lado financeiro, ela pode ser usada principalmente para facilitar a dinâmica de contratos e as soluções para o público PJ. Não é uma agenda fechada, mas está no radar”.
E o Brasil deve continuar sendo um dos focos dos serviços financeiros do Carrefour. Tonelini observa que os brasileiros têm mais demanda e interesse por esses produtos, e hoje já é o maior mercado do grupo em termos de serviços financeiros. Para ele, o país é uma referência para outras nações em que a varejista atua ao planejar seus produtos financeiros, pensando inclusive em “inovação, metodologia de trabalho, e temos exportado essas práticas para outros países”. “O Brasil tem uma das maiores populações do mundo e perspectiva de crescimento de consumo ao longo do tempo, e isso traz oportunidades”, destaca.
Fonte: Exame