Por Patrick Gillespie, Carolina Millan | O Mercado Livre (MELI) planeja adicionar milhares de empregos este ano, conforme expande seu negócio de logística, mesmo enquanto empresas globais de tecnologia cortam empregos e o crescimento desacelera na região.
A empresa contratará 13 mil pessoas, elevando sua equipe total para 53 mil funcionários, apostando que as compras online continuem crescendo, disse Sebastián Fernández Silva, diretor de pessoal da empresa, em entrevista à Bloomberg News. As contratações vão se concentrar em cargos envolvidos na separação e no envio de pacotes no Brasil e no México, mas a empresa também expandirá as equipes de tecnologia e produtos.
“Para nós, é muito importante ter uma rede de envio cada vez mais forte e robusta que permita gerar benefícios de envio mais rápidos e baratos para todos os usuários da plataforma”, disse.
Para o Mercado Livre, que tinha 10 mil funcionários no final de 2019, a série de contratações busca capitalizar uma mudança na forma como os consumidores latino-americanos fazem suas compras, uma tendência que ganhou impulso durante a pandemia.
Enquanto seus pares nos Estados Unidos e Europa viram as encomendas desacelerarem após os governos suspenderem as restrições, as vendas do Mercado Livre continuaram crescendo, com receita de mais de US$ 10,5 bilhões em 2022, quase 50% a mais do que no ano anterior.
É “provável que persista” o bom desempenho da empresa no comércio eletrônico, bem como em sua divisão fintech, escreveu a analista da Bloomberg Intelligence, Jennifer Bartashus, após os resultados da empresa no quarto trimestre. Os investidores têm se concentrado nas ações da empresa, que subiram quase 55% este ano, muito acima do retorno de 16,5% do Nasdaq, segundo dados coletados pela Bloomberg.
As novas contratações visam fortalecer a rede de centros de coleta e serviço que processam os pacotes, especialmente nas cidades menores, disse Fernández. Ele não quis fornecer um número de quantos novos centros de distribuição e serviço serão abertos em 2023. Em declarações anteriores, a empresa disse que planeja investir US$ 3,6 bilhões no Brasil este ano e US$ 1,6 bilhão no México.
A expansão será financiada por meio das receitas da empresa e não exigirá apoio adicional, disse Fernández.
O plano de contratação do Mercado Livre vai contra a tendência observada entre gigantes tecnológicos, como a Amazon (AMZN), que demitiu funcionários este ano após um aumento nas contratações durante a pandemia.
Em sua região de origem, o Mercado Livre enfrenta uma desaceleração econômica. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu suas perspectivas de crescimento para a América Latina este ano devido à alta inflação e às altas taxas de juros.
Fernández disse que o Mercado Livre não está preocupado em contratar muitas pessoas e ser obrigado a demitir funcionários no futuro.
“Se pensássemos que a contratação excessiva é um risco, não a faríamos”, disse ele. “Desde que trabalho no Mercado Livre há 19 anos, nunca fizemos downsizing, nunca em todos esses anos”.
Como a empresa planeja focar suas contratações:
Por setores:
- 11.000 na logística
- 1.700 em tecnologia
- 600 em outras divisões da empresa
Por país:
- 5.800 no Brasil
- 5.350 no México
- 800 na Argentina
- 600 no Chile
- 600 na Colômbia
- 150 no Uruguai
Bancos estão otimistas
Em relatório, os analistas do Goldman Sachs (GS) disseram que o preço das ações do Mercado Livre subiu 55% de um ano para cá, provavelmente impulsionado em parte pelos investidores ganhando confiança na perspectiva de ganhos nas ações da empresa, especialmente no Brasil, a trajetória para ganhos contínuos de margem e a gradual estabilização nas métricas de qualidade de crédito.
“Embora reconheçamos que algumas de nossas expectativas positivas em relação ao desempenho futuro já possam estar refletidas no preço atual das ações, vemos uma configuração positiva para o GMV (vendas, gross merchandise volume) do primeiro trimestre de 2023 e resultados operacionais”, disseram os analistas do banco, em relatório. O Mercado Livre deve divulgar seus resultados trimestrais no começo de maio.
O Goldman Sachs projeta um crescimento do GMV em moeda local de 25% ano contra ano para o Brasil. “Também vemos cerca de 10% de upside para as estimativas de consenso para o lucro operacional no primeiro trimestre de 2023″, disse o banco, que projeta um crescimento de receita de 29% ano contra ano.
Em relatório, o JPMorgan (JPM) disse que em março de 2023 viu índices de inadimplência de mais de 90 dias melhorando para o Mercado Livre, puxado pelo aumento de empréstimos.
“Os NPLs (non-performing loans) de mais de 90 dias melhoram pela primeira vez em um ano, à medida que a originação acelera. Houve uma melhora de -0,8 pontos percentuais mês contra mês, explicada principalmente por um crescimento de 2% mês contra mês nos empréstimos após cinco meses de quedas sequenciais”, disseram os analistas do JPMorgan.
Por outro lado, o NPL de 1 a 90 dias permaneceu estável em março em relação à fevereiro, em 12,2%, após cinco meses consecutivos de melhoria, segundo o JPMorgan.
“Na nossa opinião, o NPL de 1 a 90 dias fornece uma melhor informação sobre as tendências reais de inadimplência incremental, uma vez que o de mais de 90 dias sofre um efeito matemático devido à duração média do empréstimo de 2,7 meses. A cobertura de provisão (sobre NPLs de mais de 90 dias) aumentou para 183% em março, em comparação com 176,8% em fevereiro”.
Os analistas do BTG Pactual (BPAC11) disseram que os dados dos FIDCs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) da empresa mostram que a carteira cresceu R$ 384 milhões no último ano, com NPLs de mais de 90 dias diminuindo mês contra mês para 30% da carteira em março, melhorando a tendência dos últimos meses (crescimento mais lento/ redução da carteira e NPLs mais altos).
Segundo o BTG, NPLs em estágio inicial (até 90 dias) ficaram estáveis mês contra mês em 9%. A originação de empréstimos do Mercado Livre, usando FIDCs como parte de seu financiamento, disparou nos últimos trimestres, segundo o BTG. O relatório aponta que a carteira de empréstimos total subiu de US$1,7 bilhões no último trimestre de 2021 para US$2,8 bilhões no quatro trimestre de 2022, com forte crescimento na carteira de crédito ao consumidor (77% da carteira vs. 68% no último trimestre de 2021).
“No entanto, o crescimento em empréstimos ao consumidor e cartões de crédito afetou os NPLs consolidados, que aumentaram para 39,9% (vs. 24,1% no último trimestre de 2021), enquanto o negócio de crédito registrou uma margem de juros anualizada após provisões para perdas de 48,3%”, disse o banco brasileiro.
O BTG disse ainda que vê sinais encorajadores na frente de crédito nos últimos trimestres (ainda uma operação muito lucrativa para o Mercado Livre, e com índices de inadimplência até 90 dias melhorando), com margens permanecendo atrativas.
“Mas com uma base de clientes de baixa renda e cerca de 100% da carteira de empréstimos do Mercado Livre sendo sem garantia e principalmente com juros, provavelmente continuará sofrendo com taxas de juros mais altas e endividamento das famílias”, disse o BTG, em relatório.
Fonte: Bloomberg Linea