A Via (VIIA3) decidiu fechar, após 19 anos de ocupação, a megaloja da Casas Bahia no Edifício João Brícola, endereço histórico do varejo de São Paulo, por ter sido a sede do antigo Mappin, em frente ao Theatro Municipal, na região do Anhangabaú, no centro da capital paulista.
A Via confirmou o encerramento das atividades da unidade. “O movimento faz parte de um ciclo natural do varejo, de fechamento e abertura de lojas. Os colaboradores da unidade foram realocados em outras unidades”, informou a empresa a nota enviada à Bloomberg Línea.
O imóvel é de propriedade da São Carlos Empreendimentos e tem aluguel mensal estimado em R$ 700 mil, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto ouvida pela Bloomberg Línea, que pediu anonimato, pois não é ainda um tema público.
A Casas Bahia ocupava os 13 pavimentos do prédio desde 2004. São cerca de 12 mil metros quadrados. As atividades da megaloja foram encerradas nesta semana, mas a devolução do imóvel ainda não foi oficializada, segundo a fonte ouvida pela reportagem. O futuro do edifício ainda não está definido.
O imóvel faz parte do roteiro histórico pelo centro antigo de São Paulo. O edifício foi idealizado pelo arquiteto Elisiário Bahiana, o mesmo responsável pelo viaduto do Chá e pelo Jockey Club de São Paulo, para ser a sede do Banespa, um dos maiores bancos do país à época, que foi privatizado em 2000, resultando no Santander Brasil (SANB11).
“O prédio da praça Ramos virou sinônimo de megaloja numa época em que não existiam shoppings em São Paulo. O Mappin inaugurou sua megaloja no João Brícola em 1939, e, desde então, o prédio tornou-se emblema de lojas de departamentos na cidade”, informa o site da São Carlos Empreendimentos. O Mappin faliu em 1999.
Nas últimas décadas, a região passou por um processo de degradação urbana, com a ocupação por pessoas em situação de rua. Mesmo assim, não parou de atrair empreendimentos, como o Shopping Light, que fica ao lado. O poder público tenta revitalizar o entorno do Vale do Anhangabaú com um programa de requalificação.
Crise do varejo
O fechamento da unidade ocorre no momento em que o varejo brasileiro enfrenta uma crise de desconfiança diante do setor bancário, após a recuperação judicial da Americanas (AMER3) e a revelação de um rombo contábil de R$ 20 bilhões, em janeiro.
A Americanas tem mais de 9 mil credores com quase R$ 43 bilhões a receber. Outras gigantes do setor estão cortando custos e fechando unidades de baixo desempenho de vendas.
A taxa de juro básico da economia de 13,75% ao ano é apontado como um dos fatores para a situação negativa dos lojistas.
A Via, dona também das bandeiras Ponto, Bartira e Extra.com.br, ainda não divulgou o balanço do quatro trimestre de 2022. Em novembro, o COO do grupo varejista, Abel Ornelas Vieira, disse que a Black Friday e a Copa do Mundo no Catar seriam datas importantes para um desempenho positivo da empresa e do setor no quarto trimestre. A Via tinha, na época, 1.120 lojas.
No começo do ano passado, um relatório da XP chegou a analisar o risco de a Via ser obrigada a pedir recuperação judicial devido ao aumento das provisões com processos trabalhistas, algo descartado pela companhia na época, que revelou ao mercado um cronograma detalhado de provisões sobre demandas anteriores à atual administração.
Fonte: Bloomberg Linea