Por Marcio Kroehn
A manhã de quinta-feira, 9 de fevereiro, foi de celebração na Cacau Show. Localizada no quilômetro 35 da rodovia Castelo Branco, a sede administrativa se destaca pela obra de 5.742 metros quadrados do artista Kobra, que é considerado o maior mural do mundo. Naquele dia, a rede de chocolates finos criada por Alexandre Costa comemorava mais uma conquista: a de maior rede franqueadora do Brasil.
De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), a Cacau Show passou a liderar o ranking pela primeira vez com 3.763 lojas em 2022 ante 2.827 no período anterior, uma expansão de 33,1%. O Boticário, que era o maior do País com 3.652, cresceu apenas 1% no ano passado e chegou a 3.687 unidades.
Alê Costa, como o chocolatier é conhecido, fez questão de abrir uma transmissão de vídeo e parabenizar os seus mais de 16 mil funcionários e franqueados. Mas, ao mesmo tempo que praticava o mantra “feliz hoje” – palavras que estão em destaque na sua sala –, ele já estava com a cabeça nos próximos passos da Cacau Show.
“Estamos agora no momento de pensar a expansão internacional. Crescemos muito no Brasil e isso tem um limite. Claro que ainda tem algumas alavancas porque queremos chegar a 5.500 lojas, mas a ida para o exterior não é mais se”, diz ao NeoFeed o CEO e fundador da Cacau Show.
O plano de internacionalização da marca Cacau Show deve se concretizar a partir de abril deste ano. A ideia é que a empresa comece por um país que tenha características parecidas com a cultura brasileira.
Costa prefere deixar em suspenso os países que estão sendo estudados pela companhia, mas o NeoFeed apurou que Colômbia e Portugal estão no topo da lista, seguidos pelos Estados Unidos. Neste momento, a indecisão é maior por “onde estaremos primeiros” do que pela geografia desses países.
“Eu acredito no planejamento, mas muito mais no ‘fazejamento’. É uma arrogância intelectual planejar algo e não dar uma oportunidade se o mercado colocar de outra forma. Uma das características da firma, como nós nos chamamos internamente, é essa capacidade de nos adequar”, afirma o CEO.
Ao mesmo tempo que prepara seu desembarque em território estrangeiro, a Cacau Show ajusta os planos para a expansão local. Para este ano, é esperada a abertura de 600 lojas (com uma supermeta de 700). É uma redução na comparação com as 1.000 inaugurações (64 próprias) do ano passado.
“Este é um ano de estabilidade. Não é simples crescer mil lojas em termos de sistemas e produtos. Nossa indústria consegue atender tranquilamente 4.000 lojas, mas precisamos entender esse organismo vivo, que não deixa de ser três vezes maior do que fizemos na média histórica”, diz ele.
A diminuição no ritmo de abertura não é por falta de interessados. De acordo com a Cacau Show, no ano passado foram recebidas 38 mil inscrições de pessoas querendo ser franqueadas da marca.
“Quando se tem escala e a penetração que a Cacau Show tem, abre-se a oportunidade de novos negócios. Usar essa base instalada para alavancagem de outros produtos e serviços é um grande diferencial competitivo para a marca”, diz Eduardo Yamashita, diretor de operações da Gouvêa Ecosystem, consultoria especializada em consumo e varejo.
Além dos formatos de 30m² com os quiosques à megastore de 2.000 m², a marca de chocolates quer ampliar o desenvolvimento de outro canal de distribuição: os revendedores.
Atualmente, pouco mais de 50 mil pessoas atuam fazendo a revenda dos produtos da marca. A ambição de Alê Costa é ter mais de um milhão de pessoas fazendo o porta a porta. No entanto, os desafios são maiores do que a venda de produtos de higiene e beleza, que são os mais conhecidos desse formato de catálogo.
Como o chocolate é delicado e a variação de temperatura amolece o produto, o transporte tem de ser feito em bolsas térmicas e o revendedor Cacau Show também precisa ter um local apropriado de armazenamento, como ar condicionado na residência.
“A Cacau Show vem expandindo a categoria que já trabalha. Ela entrou no mercado de cafés, por exemplo, e principalmente no presenteável. O escopo de atuação está bastante amplo. E diversificar as ocasiões de compra do seu produto faz com que ela tenha uma capacidade de faturamento maior”, afirma Yamashita.
Para 2023, a projeção da Cacau Show é aumentar a receita em 25%, para R$ 5,6 bilhões. “Aqui não estamos preocupados com o PIB, mas com o PICS, o produto interno da cacau show. Vamos crescer porque existem muitas oportunidades”, diz Costa.
O consumo per capita de chocolate no Brasil ainda é muito baixo. De acordo com a Euromonitor, o brasileiro consome 1,2 quilo, ante 4,4 quilos do americano, 7,9 quilos do alemão e 8,8 quilos do suíço.
“Alguns investidores já entenderam que esse é um bom mercado e novas redes estão surgindo, como a Dengo. O desafio é pensar além da categoria, ampliar a oferta de produto e manter a competitividade porque novos players devem estar entrando por aí”, diz Ana Paula Tozzi, CEO e sócia da AGR Consultores.
Quando um dia é igual a um mês
O primeiro grande desafio para alcançar a meta financeira é a Páscoa. Nesse período, as vendas na Quinta-feira Santa, por exemplo, equivalem a todo mês de janeiro. São cerca de 2,5 milhões de pessoas entrando nas lojas. A perspectiva é vender 10 milhões de unidades neste ano, um avanço de 17,6% sobre os 8,5 milhões comercializados no ano passado.
Questionado se o fato da Americanas (historicamente uma grande revendedora de ovos de Páscoa) enfrentar problemas neste ano em razão da recuperação judicial pode ser benéfico para a Cacau Show, Alê Costa é direto. “Sim, vai ter menos disponibilidade de ovos de Páscoa no mercado e como somos a maior rede deve ter um impacto positivo”.
Na semana anterior à divulgação do ranking da ABF, Alê Costa recebeu os executivos de um banco estrangeiro de investimentos para um almoço na “sede da firma”. Esses encontros têm sido corriqueiros, afinal, a empresa tem um colchão de capital que possibilita a escolha dos caminhos a seguir.
Desta vez, os financistas foram mostrar uma pesquisa que haviam conduzido sobre a Cacau Show e como um IPO seria bem recebido por investidores. “Um baita case mundial para abrir na bolsa de Nova York”, teriam dito eles.
“Eu tenho um balanço para sonho grande. Tenho zero de dívida e a empresa é altamente geradora de caixa. Abrir o capital em Nova York significa que não preciso ter mais share para continuar no controle. É um baita colchão de tranquilidade. Mas me traz um desafio para fazer sentido”, diz Costa.
O que Alê Costa quer dizer é que eles não estão fechados a nenhuma possibilidade. Basta ser um grande projeto.
Fonte: Neofeed