Por Talita Nascimento e Cynthia Decloedt
Fornecedores da Marisa estão preocupados com a situação da companhia depois do anúncio da contratação das empresas BR Partners e Galeazzi para a renegociação de dívidas da varejista de moda. A maior parte dos débitos da empresa pertence a bancos, dizem fontes. No entanto, o contexto do escândalo da Americanas já tem deixado os sistemas de crédito para fornecimento de mercadorias desgastado, o que ajuda a explicar a apreensão de quem vende para essas empresas.
O Broadcast apurou que empresas do setor de moda têm enfrentado dificuldades para renovar linhas de “risco sacado”, as mesmas que originaram a crise da Americanas. “Em geral, as empresas reportam essas linhas da forma correta”, disse uma fonte do setor. No entanto, o ambiente de crédito que já estava complexo por razões macroeconômicas, foi ainda mais contaminado pela Americanas, ela acrescenta.
O risco sacado é usado pelos varejistas para conseguir prazos maiores para pagar fornecedores. Logo, com essa linha afetada, as operações sofrem. No caso da Marisa, esse não foi o problema central que a levou a entrar em um novo processo de reestruturação de dívidas, dizem fontes do mercado. A busca por uma nova reestruturação foi necessária para que a empresa tenha fôlego para concluir uma retomada que vem sendo adiada por percalços da pandemia e do ambiente macroeconômico.
Para Eugênio Foganholo, sócio da consultoria de varejo Mixxer, a dívida da companhia “não é uma tragédia”. A Marisa encerrou o terceiro trimestre do ano passado com um endividamento líquido de R$ 566 milhões, 7,9% acima do fechamento do mesmo período de 2021. Para ele, foi o ambiente deteriorado de crédito e de renegociações que levou a empresa a propor nova reestruturação.
Na avaliação de Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, daqui para frente, a companhia tem de resgatar sua proposta de valor, para voltar a ser competitiva no mercado, o que tem sido um desafio para a varejista.
Não é para todos
Apesar dos relatos de crédito mais escasso no setor, há quem conte histórias diferentes. Grandes varejistas afirmam nos bastidores não terem sido afetadas pela seca. Houve esforço para manter o diálogo com os bancos e explicar linha a linha como era feito e reportado o risco sacado, justamente para evitar a contaminação.
Fonte: Estadão