Por Ana Luiza Tieghi
O setor de varejo de material de construção faturou R$ 207,4 bilhões em 2022, crescimento de 2,5% ante 2021, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, em parceria com a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco).
Os varejistas vinham de um crescimento de 4,4% em 2021 e conseguiram manter os números em alta, enquanto a indústria dos materiais se retraiu. A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) reportou recuo de 7% no faturamento no ano e a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (Anfacer) apontava queda de 13%. O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) divulgou vendas 2,8% menores do que em 2021.
Para Geraldo Defalco, presidente da Anamaco, essa disparidade entre varejo e indústria não é incompatível. Ele cita diferenças como o fato dos lojistas terem que manter estoque, e as dificuldades com o fornecimento de produtos pelas quais o setor passou em 2021. “Nós fazíamos pedidos para a indústria e demorávamos quatro meses para receber. O cliente espera e o mercado vai se acomodando”, afirma. Isso se normalizou em 2022, o que ajudou nas vendas.
O crescimento do faturamento foi até maior do que a entidade previa no início do ano, de 1,5%.
De acordo com Defalco, as reformas e construções iniciadas na pandemia foram motor de venda para as lojas. “Ainda é resultado das pessoas em casa, você começa uma obra e vai quatro anos para terminar”, diz.
Para 2023, a entidade projeta um faturamento entre 1% e 3% maior. Dessa vez, a meta está em linha com a Abramat, que espera alta de 2% no faturamento.
Defalco analisa que a gestão do presidente Lula deve colocar mais dinheiro na economia, e especialmente na construção civil. “Já teve várias posições de que vão investir muito em obras paradas”, afirma. Essas medidas ajudariam o setor atingir a meta do ano.
Por outro lado, ele ressalta que estímulos além da conta podem levar a aumento da inflação, o que acabaria prejudicando a economia e o setor. “Se vier equilibrado, pode dar certo, mas ficamos preocupados com a inflação que pode gerar”, diz.
A Anamaco divulgou também dado inédito de 2021, que aponta crescimento de 4,85% no número de lojas de materiais de construção no país. Naquele ano, elas somaram 136.106 estabelecimentos. Foi a primeira alta desde 2015.
No entanto, Defalco é realista sobre as dificuldades em manter os negócios abertos – segundo a entidade, entre 60% e 70% do setor é formado por micro, pequenas ou médias empresas. Na visão dele, o direcionamento de recursos para a construção civil durante a pandemia, devido à dificuldade de se gastar em outros setores, tornou a área atrativa para quem queria ter seu negócio, o que ajuda a explicar o aumento.
É um ciclo. Por isso, não o surpreenderia se 2022 tiver registrado uma nova queda na quantidade de lojas, mesmo com a elevação do faturamento geral. “Uma coisa é abrir uma loja, outra, mais difícil, é mantê-la, depende muito da economia”, afirma.
Fonte: Valor Econômico